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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

CORDEL

JOSÉ PACHECO

 

 

Por Leonardo Vieira de Almeida

 

José Pacheco da Rocha, ou José Pacheco, como é mais conhecido, nasceu no Município de Corrientes, em Pernambuco, residindo algum tempo na cidade de Caruaru, naquele mesmo estado.

 

Viveu muitos anos em Maceió, Alagoas, vindo a falecer naquela cidade, provavelmente em 1954. Folhetos de sua autoria foram publicados pela Luzeiro Editora, de São Paulo. Recentemente, a Editora Queima-Bucha, de Mossoró (RN), publicou o folheto A intriga do cachorro com o gato. Além disso, há edições de suas obras pela Catavento, de Aracaju (SE); Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte (CE); Coqueiro, de Recife (PE), e por outras editoras.

 

Seus folhetos mais importantes são História da princesa Rosamunda ou a morte do gigante e A chegada de Lampião no inferno. As histórias de gracejos são um dos aspectos marcantes dos cordéis de José Pacheco, considerado um dos maiores cordelistas satíricos do Brasil. Mas o poeta se dedicou também a outros temas, como histórias de bichos, religião e romances.

 

 

4 POETAS  4 GRAVADORES: Florisvaldo Mattos, José Carlos Capinam, Fernando da Rocha Peres, Godofredo Filho; Emanoel Araujo, Sônia Castro, Calazans Neto, Gley. Inclui a reprodução de uma gravura de Henrique Oswald.  Salvador, BA: Editora Casa Grande, 1966.   Livro inconsútil. 32x33 cm. Apresentação gráfica: Sônia Castro. Impressão tipográfica: Gráfica Santa Rita Ltda. Encadernação revestida de tecido: Roque Wilson dos Santos.  Tiragem: 200 exemplares.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Gravura   TAMANDUÁ,  por DILA:

 

 

A FESTA DOS CACHORROS

 

       A FESTA DOS CACHORROS

        Tamanduá era padre
Como todos sabem disso
Naquele tempo também
Pelos antigos era visto
Uma Lavandeira velha
Lavando a roupa de Cristo.

 

LITERATURA DE CORDEL  - Poesia brasileira

A obra literária que conta histórias através de rimas.
Também conhecido como folhetos, eles eram vendidos em feiras, bancas e mercados. O nome de cordel é original de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes.

Muito cultivada e disseminada em feiras do Nordeste do Brasil.

 

 

LITERATURA DE CORDEL. Antologia  Volume 1.  [org. por]  Manuel Florentino Duarte – José Costa Leite – José Soares. Ilustrado com xilogravuras.  São Paulo: Global Editora, 1976.  168 p.  ilus. 
12 x 20 cm                                                
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

O GRANDE DEBATE DE LAMPIÃO COM SÃO PEDRO

                                        Por José Pacheco

 

Para me certificar
da morte de Lampião
arrumei o matulão
e andei pra me acabar
não escapou-me um lugar
do Brasil ao estrangeiro
percorri o mundo inteiro
procurando a realeza
até que tive a certeza
da morte do cangaceiro.

Andei nas Areias gordas
pilão sem boca e macumba
as ribeiras de Cazumba
estas eu remexi todas
passei na várzea das Poldras
fui a baixa da fulia
levei uma companhia
deixei no bico da pata
passei nas brechas da gata
dormi na boca da gia.

Fui a serra do cambão
desci na jumenta prenha
mandei Chico Tomaz Lenha
no engenho do Felipão
pindoba de Damião
fica perto da furada
lá deixei um camarada
caminhei mais uma légua
dormi na baixa da égua
perto da tabua lascada

Depois eu fui a quinzanga
o engenho de seu Melo
subi para o birimbelo
cheguei na clã da munganga
três cacetes de Zé Panga
já fica do outro lado
fui ao cambito quebrado
do rodete de Pinheiro
deixei o meu companheiro
na bargada dum cevado

Passei na chã da risada
desci na fazenda mole
fui na uzina do fole
de Bertulina pelada
segui pela mesma estrada
do alto da geringonça
do tapado do Mendonça
puxei para virador
dormir na bôca da onça

E atravessei os mares
montado em um planeta
que som de uma trombeta
vinha descendo dos ares
visitando aqueles lares
terra de santos e fada
naquela mesma jornada
encontrei no arrebol
cheguei na terra do sol
na casa da madrugada

Ela me deu um abraço
prestou-me bem atenção
mandou chamar o verão
no reino do mestre espaço
depois chegou o mormaço
e saiu meio vexado
porque estava ocupado
no palácio da manhã
tratando da sua irmã
mulher de vento gelado

Continuei a viagem
com bôca capa de luva
porque a terra é de chuva
e mora dona friagem
seu palácio era na margem
do rio major relento
descansei no aposento
da velha seca puxada
deu uma surra no vento

No reino da branca aurora
encontrei a brisa mansa
que vinha trazer lembrança
à princesa deusa da flora
a neve naquela hora
em sua alcova dormia
depois o sol lhe surgia
desfazer-lhe do regaço
enquanto pelo espaço
e neve branca corria

Pra saber de Lampião
qual foi a parada sua
subi a terra da lua
escanchado num trovão
encontrei um ancião
velho, barbado e corcundo
que vinha do fim do mundo
me viu e foi me cantando
que viu São Pedro açoitando
um espírito vagabundo

Chegou no céu Lampião
a porta estava fechada
êle subiu a calçada
ali bateu com a mão
ninguém lhe deu atenção
ele tornou a bater
ouviu S. Pedro dizer
— demore se lá, quem é?
estou tomando café
depois vou lhe receber

São Pedro depois da janta
gritou por Santa Zulmira
traz o cigarro caipira
acendeuno de S. Panta
apertou o nó da manta
vestiu a casaca e veio
abriu a porta do meio
falando até agastado
triste do homem empregado
que só lhe chega aperreio

Abriu na frente o portão
ficou na trave ancorado
branco da côr de um finado
quando avistou Lampião
mas com a trave na mão
não temeu de lhe falar
e disse: aqui não se dar
aposento a gente mau
se não quer entrar no pau
acho bom se retirar

Lampião lhe respondeu
não venha com seu insulto
você é um santo bruto
que ofensa eu lhe fiz?
e mesmo o céu é não seu
você também é mandado
portanto esteja avisado
se não deixar eu entrar
nós vamos experimentar
quem é que tem bom guardado

Você não entre atrevido
S. Pedro lhe disse assim
ingresso a quem é ruim
nesta porta é proibido
roubador da vida humana
alma ferina e tirana
coração cruel perverso!
como queres um ingresso
nesta mansão soberana

— É certo que fui bandido
perverso, estrompa voraz
porém quem foi não é mais
e mesmo que não ter sido
mesmo eu sou garantido
por um provérbio que tenho
escrito sobre um desenho
por pessoas elevadas
o qual diz: águas passadas
não dão voltas a meu engenho

—Não quero articulação
você aqui nada tem
— é como você também
lhe responde Lampião
é porque do seu patrão
você transmite o mandado
eu tenho visto empregado
sair do trabalho expulso
sem direito sem recurso
por qualquer trabalho errado

Ali chegou S. Bernardo
que também vinha chegando
—Pedro você está brincando
com esse cabra safado?
vá me chamar S. Ricardo
e S. Francisco da Penha
e chame S. Juvenal
traga um pau do quintal
e uma lasca de lenha

S. Pedro ergueu-se nos pés
e disse de cara feia:
pra dar num cabra de peia
não precisa oito nem dez
e gritou por S. Moisés
— vamos dar no bandoleiro
saltou no meio do terreiro
até preparar a faca
gritando: quebra uma estada
arranque um pau do chiqueiro

S. Paulo estava na quinta
mas ouvido a discussão
apertou o cinturão
e boto a faca na cinta
encontrou Santa Jacinta
que já vinha no caminho
e disse a Santo Agostinho
arretorcendo o bigode:
— arreda que tu não pode
eu pego o cabra sozinho

Porém antes de pegar
desceu um grande corisco
jogado por S. Francisco
da porta do quinto andar
num tremendo ribomar
um trovão também desceu
o espaço escureceu
veio um forte pé de vento
Lampião nêste momento
dali desapareceu

Poeta tem liberdade
sagrado dom da natura
conforme a literatura
escreve o que tem vontade
também a propriedade
precisa o dono ter
pelo menos vou dizer
se meu espírito não mente
poeta também é gente
também precisa comer.

 

*

Página publicada em março de 2022

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2021


 

 

 
 
 
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