JOSÉ DA NATIVIDADE SALDANHA
Pernambucano, nascido a 8 de setembro de 1796, e falecido na Bolívia, afogado inuma vala da rua, onde caíra em noite de chuva torrencial, em 1830. Bacharel em direito por Coimbra, abraçou a advocacia e foi professor de humanidades em Bogotá.
BIBLIOG.— Poesias, Coimbra, 1822 ; Poesias diversas, 2 vols.
SONETO
Se no seio da pátria carinhosa,
Onde sempre é fagueira a sorte dura,
Inda lembras, e lembras com ternura,
Os meigos dias da união ditosa ;
Se entre os doces encantos de que goza
Teu peito divinal, tua alma pura
Suspiras por um triste e sem ventura,
Que vive em solidão cruel, penosa ;
Se lamentas com mágoa a minha sorte,
Recebe estes meus ais, oh minha amante,
Talvez núncios fiéis da minha morte.
E se mais nós não virmos, e eu distante
Sofrer da parca dura o férreo corte:
Amou-me, dize então, morreu constante.
Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913
0bs. Ortografia atualizada para esta edição.
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
ODE A ANTÔNIO FELIPE CAMARÃO
Dulcíssimo instrumento
Que de claros Heróis levaste o nome
Ao alto firmamento
Quando o cantor do Ismeno
O Plectro audaz vibrava
Elege agora ao Templo da Memória
Novo Herói, que brilhou no Céu da Glória.
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O Camarão potente,
Índio famoso, ilustre Brasileiro,
Negro Aquilão fremente,
É dest´arte, que busca
O Bátavo em Goiana;
E, um dia inteiro de hórrida batalha,
Chovendo mortes, o inimigo espalha.
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O Cipião famoso,
O Belga em Santo Amaro derrotando,
Cinge o loiro ditoso,
Sem aspecto anuncia
A fugida, ou a morte,
De um lado a outro qual peloiro voa
Soa a vitória quando o bronze soa.
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Não pode estar em ócio descansado
O Herói, a quem Mavorte inflama o peito,
Na ilustre Paraíba
O holandês é desfeito;
Cunhaú, onde o belga é triplicado.
Vê Camarão, e o Belga subjugado.
Sôbre teu alto cume
Erguido Guararape, altivo monte,
Qual fulgurante lume
Por Jove dardejado,
Brilhar também o viste
Quando todo em furor, desfeito em ira,
Vingança, e liberdade só respira.
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Agora, musa minha, em Porto Calvo
Colheremos a flor mais fresca e bela,
Que há de ornar do Guerreiro
A brilhante Capela:
Escape de uma vez o Herói famoso
Do cego Tempo ao ferro sanguinoso.
Vibrando a longa espada,
Ao lado marcha do Brasílio esposo
A nobre esposa amada.
No campo dos Troianos
Camila furiosa,
Voando sobre a grimpa da seara
Mais triunfos à morte não prepara.
Assoberbam o Bátavo nefando,
O quente sangue espuma;
Qual Belga foge, qual Brasílio fere;
Quem evita a Mavorte
Na espada feminil encontra a morte:
Ambos assim coberto d´alta glória
Alcançam do Holandês clara vitória.
Basílio Camarão, Índio Mavorte,
Recebe com prazer estra Capela,
Que te consagra o vate;
Com ela adorna a fronte;
A da Fama loquaz no excelso Templo
Aos futuros heróis dá nobre exemplo.
ODE A ANDRÉ VIDAL DE NEGREIROS
Eu (mil graças ao Céu) se em largos campos
Não aro, não semeio
Com malhados bezerros trigo loiro,
Pedindo ao vale argivo a lira d´oiro,
Semeio nas campinas da memória
Canções criadoras de perpétua glória.
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Levamos dos Heróis de Pernambucanos
A rutilante glória
Ao templo sacrossanto da Memória;
Não deixamos em mudo esquecimento
Tantos varões famosos,
Que da inveja apesar em toda a idade
Entregaram seu nome a Eternidade.
Assim de Roma
A glória assoma,
Que do Latino
Em som divino
Relampagueia
De graça cheia
Quando fere a doce lira
Por quem Orion suspira.
Porém, ó Musa bela, o carro volta
Aos altos Guararapes,
Neles procura o forte Brasileiro,
Tigre sedento, Lobo carniceiro,
Que dardejando a espada em dura guerra
Faz tremer ao seu nome o mar, e a terra.
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Brava procela
Tudo atropela,
Ao Belga forte
Fulmine a morte
E o meu Negreiros
Co´os Brasileiros
Augura cheia de glória
Em seus brios a vitória.
Por cem bocas de fogo doravante
Vulcão impetuoso,
Vomita o bronze atroador, e forte,
Por entre denso fumo a negra morte;
E o nitridor ginete atropelado
Respira fogo em sangue misturado.
O vibrado corisco tripartido
Pela dextra divina,
Ou súbita estalando oculta mina,
Tão rápida não é, nem tão ligeira
Como o nosso Camilo,
Que leva enfurecido ao márcio jogo
Fogo no coração, nos olhos fogo.
Prova, ó tirano,
Pernambucano
Valor preclaro,
Negreiros caro
Consegue o loiro
De Heróis tesoiro,
Conservando a invicta espada
No teu sangue inda banhada.
Será preciso, ó Musa, que sigamos
O Herói a toda parte?
Que ao Rio Grande vamos, e à Bahia,
Donde calcou Vidal a força ímpia
Do tirano Holandês, que ao seu aspeito
Sente o sangue gelar no duro peito?
Descansemos do claro Paraíba
Na margem abundante,
Onde brinca Favônio sussurrante;
Brilhe também na vasta redondeza
Esta ilustre Cidade,
Pátria feliz do impávido Negreiros,
Terror do Belga, amor dos Brasileiros.
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Página publicada em outubro de 2021
Página publicada em junho de 2009
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