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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JOSÉ AUTO

 

José Auto de Oliveira nasceu em 1909, num velho sobradão da Praça João Alfredo, no Recife.  Fez estudos primários e secundários em Maceió. Entrou, por concurso, para o Banco do Brasil, tendo trabalho na Bahia, no Ceará e no Rio de Janeiro. Em 1942 seguiu para os Estados Unidos, onde residiu alguns anos. Precisamente em Nova York é datado o poema desta antologia.

 

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

 

         POEMA HERÓICO

 

              (Para Aníbal Machado e os poetas do futuro)


Antes trabalhar aqui, como escravo do poema
Desdenhado civil que ouve o anúncio do melhor sabonete,
Do que, como Aquiles, ser herói de guerra
E ter de ir para o ortopedista...
Amo o meu calcanhar!
(Ponhamos isto no plural...)
O meu passo sem pressa e se destino
Não tem cadência marcial.

 

        O pé no chinelo!
De não querer marchar, adormece...
Que estranhas metamorfoses nas sensações de formigueiro!
É um tribulo aos amputados.
Estou no leito de Procusto,.murmurei.
Sem que eu saiba, calçaram-me invisíveis reiúnas.
Meteram-me no uniforme.
O capacete de aço me aperta a cabeça.
Puseram-me armas embaixo do travesseiro
E irei dormir sobre um colchão de minas.

Estou mobilizado pelo jornais e pelo rádio.
Do contrário, por que as mutilações?
(Caminho sonâmbulo, na noite,
Em passos militares)
A mão se erguia em protesto,
Ou não acenava o adeus dos lenços
E se estendia, afetuosa e descuidada,
Para apertar a mão do amigo
— A mão que afaga em carícias bruxuleantes,
Tem agora impulsos assassinos:
Quer matar.

Já se levanta no gesto criminoso,
Mas o amor paralisa-a no ar
E ela desce num movimento lento
Para mergulhar na terra como raiz.

Na calçada da noite
As partes do corpo se desmembram..
Um olho escorrega-se entre os dedos
E já vou apanhar aninhado no umbigo.
Bingo!
As orelhas decepadas, sobre a mesa,
Ocupam, crescidas desmesuradamente,
O lugar dos cinzeiros.
Coloco sobre elas um charutos inútil.
Sinto que as minhas pernas são desmontáveis.
E os braços — é tão conveniente —
Separam-se nas articulações.
Enquanto as mãos se desfolham como baralho,
Tento mexer-me e todo me desfaço
Numa chuva de parafusos...

 

        II

        À luz do luar os campos são mais vastos.
O vento frio morde os metais retorcidos
Na fúria das batalhas
A guerra transformou a estrutura dos pastos.

 

        Os cadáveres gelados dos cavalos
Sugerem na rigidez novos terrores,
O sorriso de gafanhotos sem bridão,
Sem asas, sem antenas,
Com dentes invadidos pela neve.

As vacas jazem placidamente.
—Como tinham vivido —
Como se ainda quisessem ser ordenhadas
Na destruição.

O luar ilumina o pasto.
Há terror na face dos cavalos.
A placidez das vacas mortas.
Cria-lhes quase halos de santidade.
Amanhã o azul será mais vasto.

Os tanques mortos estão mergulhados na lama!
O ferro volta ao seu habitat.
Os soldados caídos na batalha
Repousam como se estivessem na cama:
Sem requiescat in pace e nem mortalha.
São como os bonecos de uma criança
Grotescos no seu abandono
E no imprevisto da recusa
Que os atirou ao léu, sem dono.

Quanto sangue derramado!
Carrego comigo, dia e noite,
Todos os infortúnios do mundo,
O horror e o sofrimento da raça humana.
Quanto sangue derramado!
Carne e sangue para que o veneno do ódio
Abra as estradas da morte.

Na desolação e em silêncio
Aprendermos depois da guerra a andar de muletas.

(Nova York, dezembro de 1944).

 

 

Página publicada em maio de 2020


 

 

 
 
 
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