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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JESSIER QUIRINO

 

 

QUIRINO, Jessier. Prosa morena.  Recife: Edições Bagaço, 2005.  128 p.  14,5x21  cm.  Capa com imagem de esculturas com massa, em foto de Roberto Silva. Apresentação, na orelha, por Luiz Berto. Poesia de cordel utilizando a fala nordestina, matuta. “Acompanha CD com declamações do autor”.  Foto e biografia do autor ao final do livro. Col. A.M. (EA)

 

ARGUMENTO DUM VELHO SERTANEJO

Mode as modas de hoje em dia
Mode os modos de falar
Mode os amuo dos besta
Mode os presepe de lá
Mode estrupiço dos tempos
Mode eunão me amedronhar
Mode os pi-bite das rua
Mode as mutreta que há
Mode as falta de um bom-dia
Um boa noite, um olá
Mode assalto, mode tiro
Mode as fumaça do ar
Mode eu não ter desgosto
Ou mesmo me ressentir
Não se anime mode eu ir
Que eu não deixo esse lugar.

 

DE POVO ADENTRO

Pra se fazer um partido
Mode empurrar no Brasil
Basta uns quatro filiado
Que coma feito esmeril
Disfarçado de gentil
Que seja bem traquejado
Ou mesmo mal-afamado
Mas com o seguinte perfil:

Que só pense em enricar
Mas enricar de verdade
Nem que seja cometendo
Umas três honestidade
Que negue toda verdade
Até com prova na mão

Com as feição mais ó meno
Que seja bom de aceno...
O resto é televisão.

É aí que o candidato
Sai muçum lubrificado
Entrando de povo adentro
Até o dia marcado
Quando os cabra abestaidado
Vai escolher na cabina
A marca da vaselina
Com que vai ser enrabado.

 

QUIRINO, Jessier.  Bandeira nordestinaAcompanha esta edição, CD com Declamações do Autor.  Recife: Bagaço, 2006. 136 p.   ISBN 85-373-0086-1   Capa: Roberto Silva.  Col. A.M.

          

Endereço de Matuto

 

Daqui até lá em casa? No Sítio Caga-Chapéu?

Dá um bocado de légua

Mas não é leguinha besta, nem légua de beiço não.

É légua macha, abafada

Dessas légua macriada, medida a rabo de cão.

 

Você saindo daqui, nem querendo você erra

No oitáo do cemitério pega a viela de terra

Desce em Toim Farinheiro

Passa a água brancacenta de Zefinha Lavadeira

Daí pra frente é estrada...

 

Depois da reta pegada

Avista o esbarro d'água do pai de Mane Maior

Avista o tamarineiro

Morado e sombreado de Seu Zé Vacinador

Quando chega nas quebrada do Raso do

Macaíba

Pega um mato embamburrado

Que o cabra morre e não chega

No Lajedo da Formiga.

 

Avistando um pé de pau com parecença de ipê

Aí o cumpade vê uma pista arreganhada

Prontinha se oferecendo pró cabra que aparecer,

 

Mas aí você não quera...

Diz: Essa não apriceio!!!

Pega a trilha carroçave

Com duas baixa dos lado e cabeleira no meio.

 

Bem dizer já tamo dentro da Avenida do Capim

Toca em riba da babugem coberta de pisadura

E tome rédea esticada do começo até o fim.

 

É estrada festejada por cerca de todo tipo:

É cerca de enchimento, de vara e de pau-a-pique

De lance, de avelós, de pedra, cama-no-chão

Trançada e pedra dobrada, aramada e travessão. |

 

E abre e fecha porteira

Porteira de pau-em-pé, de mourâo, de pau corrido

De colchete e zigue-zague

E o cabra ali no mondé!...

 

Se chegar numa porteira lambuzada de azul

Aí o cumpade errou...

Volte dez braça pra trás e quebre o braço direito

Onde começa Amargosa, as terra do meu avô.

 

Quando der numa caieira de pretura acarvonada

Pega a subida abusada do Serrote do Mói-Mói

É trecho pau-com-formiga

É ladeira enladeirada

Se o cabra sobe fumando

Cai cinza dentro do zói.

 

Bem dizer não chega em riba

Pega a gangorra descendo.

 

Da ribanceira pra baixo

É Sítio Caga-Chapéu

Avistando o mundaréu

Dali você tá me vendo.

 

Vê gado e capim-mimoso

Em estado de baixio

Em estado de balaio

Laranja, manga e limão

Pé de jaca jaquejando

E caju de vez em quando

Cajuindo pelo chão.

 

NÃo dá um pulo de grilo

Pra chegar no meu terreiro

É rudiar o açude

Que o cabôco morre em cima

O cabra logo se anima

Na sombra do juazeiro.

 

É uma casinha alpendrada

Com cinco bico de luz

O cachorro é Bero-Waite

Mas abana logo o rabo

Pra Nego-Véi e Cuscuz.

 

 

 

QUIRINO, Jessier.  Paisagem de interior 2.  Recife: Edições Bagaço, 2007.   24 p.  ilus. capa      dura. Inclui CD  14x14,5 cm.   “ Jessier Quirino “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

QUIRINO, Jessier. Berro Novo. Poesia dita, escrita e musicada... Ilustrações de Shiko.  Recife: Edições Bagaço, 2009.  133 p.  ilus. "Acompanha CD com declamações do autor". “ Jessier Quirino “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

No interior, o carro de mudança demoveis é chamado de  andorinha. Lá vai a andorinha! O poema Caminhão de Mudança é o retrato puro e versejado de uma mudança partindo de seu torrão.

 

CAMINHÃO DE MUDANÇA

 

Vai pela estrada um caminhão repleto de mudança

Levando a herança de herdeiros de poucos herdados:

 

Os engradados de uma cama finalmente em pé

Arca e Noé prisioneiros desse esfaqueado

Encaixotados os tecidos, mimos e quebráveis

E os incontáveis cacarecos soltos remexidos

Dois falecidos num retraio olham pra paisagem

Guardando imagens e lembranças dos seus tempos idos.

 

Um velho espelho já trincado mostra o azul do céu

E o mundaréu ensolarado se faz de carona

Uma meia-lona sobreposta com o melhor arrojo

Se faz de estojo pra relíquia da velha sanfona

Uma poltrona escancarada de pernas pra cima

Fazendo esgrima com cadeiras, bancas e tramelas

De sentinela dois pilões de bojo carcomido

E um retorcido pé de bucha de flor amarela.

 

Em dois colchões almofadados dorme a bicicleta

E duas setas de uma caixa mostram dois achados:

 

Um emoldurado de retraio com um Jesus sereno

E o último aceno de saudade de um cortinado.

Desbandeirado segue o carro rumo a seu destino

Um peregrino pitombado de grande esperança

Vai, na boleia, um passageiro carregando sonhos

Vai, na traseira, dez carradas de velhas lembranças.

 

Poema desenvolvido a partir duma visão poética repassada pelo cumpade David Sento-Se.

 

 

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2012; ampliada e republicada em novembro de 2013. Ampliada e republicada em fevereiro de 2015.


 

 

 
 
 
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