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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

J. ANTONIO D´AVILA

 

(1917 Petrolina/Pernambuco - início dos anos 90 Rio de Janeiro)

 

“... sua poesia é fruto de dura confrontação com a vida, eu não lhe fulminou o lirismo, ante lhe deu uma palpitação maior.”  CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


De

PASTOR DE TEMPORAIS. 2 ed.
Ilustrações de Clóvis Graciano e Aldemir Martins
São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1982

 

J. ANTONIO D´AVILA

 

O GALO, de Aldemir Martins

 

I

 

O galo exato

vem do antigo tempo do artesanato.

Nenhum equivoco,

nada imperfeito.

Cada detalhe

sem erro ou falha

compõe o todo.

Um jogo de minúcias,

uma a uma à outra se entalha.

 

II

 

Punhais

garras

o bico de âmbar

a crista de brasa.

Um passo de guerra é o seu lento andar.

Cada pena do galo é uma chama incendiada

 

Fulvo galo de ardente cor!

Na pupila

a morte cintila

sem o mais leve horror.

 

III

 

Exato também era o tempo de onde vem.

Exato o espaço:

 

em cada canto um galo

nos exatos cantos

para os cantos exatos.

 

Galo de sol.

Galo de lua

para as estrelas marcantes.

Galos de tempo

infalíveis,

pregando no vento a flâmula de sons

de seus cantos rascantes, roucos, brilhantes!

 

IV

 

Brotaram os galos de mãos antigas

que começavam a feitura

fazendo as espigas

Depois esculpiam um a um cada grão

e cada galo esculpido, um a um,

a seu tempo surgia também.

 

V

 

Essa a fonte:

o grão de ouro, seda e marfim

encerrando mistérios dos quais nenhum galo é o fim.

 

VI

 

Assim trabalharam as mãos muito antigas

modelando as espigas

inventando galos de ardente cor.

 

Mas, ninguém sabe quem pôs aquela luz que cintila:

a morte implacável em cada pupila!


 

O SAPATO DO AFOGADO

 

O sapato do afogado ficou a noite inteirinha

na barranca do rio,

a espera do pé

— do sabido pé —

que somente ele conhecia o caminho de volta.

 

As roupas do afogado tiritavam de frio

— na barranca do rio —

com a prolongada ausência do acostumado corpo,

que somente ele as aquecia.

 

Os cigarros,

os fósforos,

a caneta-tinteiro,

o relógio-pulseira. batendo, batendo

sem saber mais pra que.

 

Perdida a função

aquele monte de coisas

foi lentamente morrendo

na barranca do rio.

 

Mas o afogado salvou-se,

na lembrança de alguém.

  

J. ANTONIO D´AVILA

 

 

Em que canto de rua,

pedaço de praia,

terreno baldio,

capim de roça,

ladeira vadia,

grama de várzea,

pátio de fábrica

— onde?

 

Onde estão neste instante

os pés que amanhã,

nascidos anônimos,

serão pés de heróis

com apelidos humildes —

 

                                      garrinchas, peles?

 

 

RIO SÃO FRANCISCO

Rio São Francisco
milionário vestindo farrapos
farrapos de velas imensas que arrastam barcaças
sonolentas, bem lentas
rio acima
rio abaixo.
E no bojo das barcas
bem lentas
sonolentas
Vem peixe seco (surubi), couro de onça e jacaré
mamona, caroá, maniçoba, “januária”, rapadura.
Vem tanta coisa
tanta riqueza
tanta fartura!
Se você visse então nossos barqueiros
sertanejos bem fortes bem brasileiros
remando cantando as mais lindas canções
estrelas rimando com o olhar de morenas
olha que é estrela nas noites serenas.

E às margens do rio de águas caudalosas
pequenas cidades com história famosas
de congadas, tiroteios,
ladainhas,
jagunços,
novenas,
e amantes que roubam mulheres morenas!

Ah! meu Rio São Francisco —
o rio mais brasileiro
que não podendo abraçar inteirinha toda imensa e
bela terra brasileira
se despedaça
se suicida
no estrondo de uma cachoeira!

 

CANTO SEGUNDO

Rio São Francisco
Canto meu rio
e o rio canta.
Dos poetas e dos rios
o destino é cantar
até que chegue a morte
até que chegue o mar!

Canta meu São Francisco
cantigas antigas
nascidas nas lonjuras do seu largo caminhar.
Hinos de correnteza!
Ladainhas nos remansos de água frouxa, lassa.

Poeta e rio cantamos,
cantamos juntos.
Sofrendo canta o poeta
chorando o rio canta e passa.

Assim vai o São Francisco com suas sandálias de água
dando-se todo e nada recebendo, sem mágoa.
Segue o rio santificado
dando de comer ao pobre
ajudando o precisado.

Súbito, corre o rio em doida carreira —
para o abismo!
e tomba na cachoeira,
eletrocutado!
Transfigurado o rio lentamente agoniza
e chegando ao mar,
melancolicamente,
se universaliza.

O poeta no exílio
lembra o menino do rio
quando o rio era menino e... — fantasia de poeta —
nas ondas bravias que explodem no costão
vê pedaços do São Francisco no mar
chorando com saudades do sertão!

*

 

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Página ampliada em outubro de 2021

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2009.

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