FÁTIMA FERREIRA
Natural de Olinda-PE. Cursou Direito. Nos anos 80, com o grupo Bandavuô cria o jornal “Agora Nós”. Participou da fundação do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco. Editou com Héctor Pellizzi os jornais "Americanto" e "O Cântaro". Publicou os livros de poesias: "Decomposição", "Dedetização-Dia de Festa", "Asas de Sangue", "Colagem dos Gestos", além de participar de várias antologias e sites.
Penélope às avessas
Bordo as ondas do cais
O sol, qual serpente enrolada no horizonte,
Fere o mastro de Brennand
Corro nas calçadas do bordado
Quando ventos enlouquecidos
Misto de maresia e cetim
Chegam nos corvos fantasiados
Bordo o cheiro da chuva
Nas folhas de alecrim
E cachoeiras tranças na menina
Vestida de por de sol
Subo as ribanceiras
Com os meninos verdes de cola e fome
E nessa trama me perco nos becos
Chego ao ponto alto
Maneira de viver prisioneira
Dos arranha-céus, irmãos dos pássaros
Esperança de um dia
A lei dos vencidos subir a ladeira
Sem agulha, seda, nem ponto-de-cruz
E as madames das academias
Com os medos presos nos músculos
Amamentarem os dias
Com seios inúteis de cirurgias
Bordo todos os dias o amor
Com o cordão das veias
E espero-te no abraço dos rios.
Noturna
Escrevo na pele outono
Para onde ir?
Com o amor queimando em brasa e fim
Poemas mordem minha mão
E crescem na soleira do jardim
Tomando o lugar das paqueviras
Estarei à ver
Tente
Do Exílio
Liquefeito pó
Eta
Sub
Versivo ser
Que vê antes das mandalas
Das aulas de meditação
Da yoga
Dos mapas astrais
Labaredas nos restos da Mata Atlântica
E hipocrisia na Amazônia?
Estarei com insônia
Ou os pássaros já acordaram a garganta
E a lama da cidade
Salpicada de estrelas
E o celofone do gesto
Sinalizando o alterego
Da manhã
Mostrando à luz
Os fortes
Página publicada em março de 2015
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