FARIA NEVES SOBRINHO
(1872-1927)
Joaquim José de Faria Neves Sobrinho (Recife, 2 de abril de 1872 — Rio de Janeiro, 4 ou 24 de janeiro de 1927) foi um professor, político e escritor brasileiro. Integrou a turma de bacharéis de 1891 da Faculdade de Direito do Recife, o que lhe permitiu ser promotor público em Barreiros, cargo que posteriormente abandonou para dedicar-se ao magistério, como professor de latim do Ginásio Pernambucano.
Logo, iniciou uma carreira política, tendo sido deputado federal e senador. Face a instabilidades políticas e perseguições, exilou-se na cidade do Rio de Janeiro. Cultivou a poesia, o conto e o romance. Foi um dos fundadores da Academia Pernambucana de Letras e imortal da Academia Brasileira. Seu único romance é o naturalista Morbus (1898), que só encontrou até os dias de hoje duas edições e foi bastante elogiado à época, embora permaneça pouco estudado e analisado, embora tenha conseguido projeção nacional. Publicado pela importante editora do Rio de Janeiro Laemmert. É sempre citado nos compêndios que tratam desse período literário. Lúcia Miguel-Pereira, em sua fundamental História da Literatura Brasileira - De 1870 a 1920 , chega a afirmar que, "livro bem escrito e bem urdido" mereceria maior destaque da crítica. A segunda edição, aliás, não é mera reprodução da primeira, mas edição corrigida a partir de um exemplar depositado na biblioteca da Academia Pernambucana de Letras , anotado pelo autor e dada como definitiva, graças ao professor e pesquisador Lucilo Varejão Filho. Ficou conhecido como o terrível Lulu Sena da poesia satírica pernambucana do princípio do século XX.
Obra poética: Quimeras (1890); Estrofes (1911); Pôr do sol (1920); Sol posto (1923); Crepúsculo (1924); Poesias (1925); Noite (1935 - publicação póstuma); Noite (1949 - publicação póstuma).
O PÂNTANO
Ouve e guarda contigo
este conceito amigo:
Alma não há de crimes tão perdida,
nem coração tão torvo e escuso e escuro,
que se não abra, uma só vez na vida,
ao riso em flor de um sentimento puro.
Olha: o pântano é todo
feito de vasa e lodo.
No entanto, em noites claras, é de vê-las:
na água malsã que a vasa está cobrindo
chispam, tremeluzindo,
cintilações de estrelas...
CHUVAS
É quase sempre assim:
Ontem, que dia!
lembram-se? O céu fechado
Dava a tidas as cousas, no ar parado,
a aflitiva opressão de uma asfixia.
Mas choveu toda a noite.
E, hoje, lavado,
resplende o azul do céu, numa alegria
nova, serena, límpida, macia...
Que grande bem me fez haver chorado!
(Pôr do sol. Recife: Imprensa Industrial, 1920)
O COQUEIRO
Sofre sereno e intrépido! Asfixia
na garanta a blasfêmia dos protestos!
Cuidas, supões que a dor se te alivia,
por te entregares ao furor dos gestos?
Néscio! Ao fazê-los, face e olhar congestos,
és apenas ludíbrio da agonia!
Já reparaste acaso num coqueiro,
quando, sob um céu baixo,
o vergasta, em lufadas, o aguaceiro?
Que balançar do caule agigantado!
que mover farfalhante do penacho!
Certo lhe deras, vendo-o assim, o intento
o intento alucinado
de espanejar, limpar o firmamento
das brumas do nevoeiro...
No entretanto, o coqueiro
Nada mais é, no louco movimento,
que um joguete do vento...
(Ibidem)
Página publicada em agosto de 2015
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