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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EMIDIO DE MIRANDA
(1897-1933)


"Em sua bibliografia apenas dois títulos: Rosal, com prefácio de Ulysses Lins,e Rosa da Serra e outros poemas. Pelos seus escrito, O meu aniversário, teria nascido no Recife, em 5 de agosto de 1897, recebendo o registro civil de Valdemar Emygdio de Miranda. Descrito como um boêmio, sem morada fixa, vagando pelos sertões do Pajeú, pousando ora em Arcoverde, ora em Serra Talhada, demorando algum tempo em Caruaru, mas logo retornando a Triunfo e estendendo sua viagem até Princesa do Coronel José Pereira, sempre bebendo aqui e acolá, recitando seus poemas para seus admiradores, como se fosse um menestrel medieval."  Leonardo Dantas Silva.

 

Emidio de Miranda
Poesias (In)completas.
Org. LUiz Carlos Diniz.  Recife: EDUPE,  2005.
320 p.  Tiragem de 300 exs.  ISBN 85-87102-71-0

 

A UM BURGUÊS


Tu, ventrudo burguês analfabeto,
Escultura rotunda da irrisão,
Para quem o viver mais limpo e reto
Consiste em ser devoto e ter balcão;

Tu, que resumes todo o teu afeto
No dinheiro, — o metal da sedução —
Pelo qual negociarás abjeto
Tua esposa, teu lar, teu coração,

Escuta, ó ignorantaço, o que te digo:
Esse ouro protetor, que é teu amigo,,
Que te deu o conforto de um paxá,

Pode comprar qualquer burguês cretino;
Mas a lira de um vate peregrino
Não compra, não comprou, não comprará.




A MULHER DE VESTIDO NEGRO

Aquele automóvel que passou numa carreira desordenada,
Gritando como um possesso e com dois olhos de brasa,
Na treva de tição apagado da noite.
Levava nas almofadas um fardo lúgubre de crime:
— Uma mulher vestida de negro acompanhada de um policia.

Ela matara a filha com um golpe terrível de navalha
Na carótida,
Quando a mísera moçoila — quatorze anos virginais —
Dormia o sono suave da adolescência sonhadora,
Sonhando amores...

Ela — a mulher de negro — matara a filha por ciúmes.
Ambas amavam o mesmo homem...


Aquela mulher que passou naquele automóvel apressado,
Era a maldade humana. Era também o amor,
Vestindo negro, sendo mãe e tendo o braço ensangüentado...
Aquela mulher era a vida...

 

A UM COVEIRO

O teu trabalho, intérmino, coveiro,
Devia ter uma pausa. Isto é rude.
Abrir covas, irmão, o dia inteiro,
É envenenar os sonhos e a saúde.

Mas que sonhos terás pobre agoureiro?
Glória? Esplendor? Amor e Juventude?
Nada disto. O teu sonho feiticeiro
Deste-o aos vermes, tu mesmo, no ataúde.

Vai coveiro! ao sol mostra a tua enxada!
Atira pás de terra, alma empedrada
No esquife azul dessa donzela etérea!

Gargalha! Canta! acende o teu cigarro!...
Mas vê também que és lama, e que és matéria...
E outro coveiro há de atirar-te barro!...

 

Página publicada em setembro de 2010


 

 

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