Foto: wikipedia
EDSON RÉGIS
(1923 - 1966)
Edson Régis de Carvalho nasceu na vila de Cruangi, município de Timbauba, Pernambuco, Brasil. Foi diretor da revista “Região”, no Recife, e do “Correio das Artes”, em João Pessoa, Paraíba.
Publicou: “O Deserto e os Números” (1951) E “As Condições Ambientes”.
Inaugurado na década de 1960, pelo governador de Pernambuco Nilo de Souza Coelho, o primeiro grupo escolar da cidade de Machados recebeu o nome de Grupo Escolar Edson Régis.
Ver também: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/vincete_do_rego_monteiro.html#e
(poema de Edson Regis em caligrama de Vicente do Rego Monteiro.
A NOVA POESIA BRASILEIRA. Organizado por Alberto da Costa e Silva. Lisboa, Portugal: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960. 291 p. 19 x 27 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
O POEMA
Que o poema seja puro
com um número ímpar,
da fonte água límpida
que não foi tocada.
Que o poema sempre lembre
o livro do Apocalipse
ou todos os mistérios da noite
para que seja poema.
Que dizem os versos
quando se abrem como urnas
e revelam todo o conteúdo,
senão o que já sabíamos?
Que nuvens não seja o poema,
mas céu, o céu além das nuvens,
onde os segredos ancoram.
—Revelam-se? Quem sabe!
Um dia e uma noite,
um corpo e uma alma,
um poema ao fim de tudo
encerrando uma existência.
(De Condições Ambientes)
CAMPOS, Milton de Godoy. Antologia poética da Geração 45. São Paulo:
Clube de Poesia, 1966. 207 p. 16 x 23 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
OS DOIS PAPÉIS
Apenas um papel, mas um papel nunca visto,
sente mãos de ferro, planos e estala,
conserva o segredo, o mistério, projetos de arquitetura.
Apenas um papel, mas um papel de hoje,
mudo, mas conversando, com gestos noturnos,
alguém chamando, vestido de chaves, cheio de números.
Há um papel que vem de longe, invadido pelos dias,
embrulhando ponteiros, mostradores, pêndulos,
encabeçando a vida presente, embelezando os sonhos.
Há uma luta entre os papéis, o espelho inicia a luta.
Olhos de mundos mortos renascem, trazem lágrimas
A carne amolece, os dias ficam sem referências, vazios.
Aquele tato violento some-se na luta dos papéis opostos.
O sonho convida todos os objetos para uma reunião ausente
reunião fora de qualquer superfície tocada, ferida, vista.
Aquele sabor dos suaves domingos cheios de flores e Marias
dissolve-se no papel hoje como em bocas de mortos,
matando tendências, tão depressa, lugubremente.
E o papel de hoje veste-se de números e palavras ásperas,
sepultando gritos, precipitando formas, o azul do tempo,
no silêncio, no informe, em gabinetes vazios e gastos.
O papel de ontem já está consumido, muito distante,
pálido, buscando sentenças, apenas sentenças, tristes
sentenças
servindo de indicação, vaga indicação, sem unidade,
naufragado roto.
P
Página publicada em março de 2020; página ampliada em agosto de 2020
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