DOMINGOS MAGARINOS DE SOUSA LEÃO

Nasceu no Recife, Pernambuco, aos 25 de setembro de 1874.   Jornalista, poeta, radicou-se na Capital Federal. Bibliografia: — "Terra Pernambucana", Rio, 1907; e "Troféus".

PEDRO II

Eis o vulto maior de toda a nossa História!...
A imagem do Brasil — a Terra do Cruzeiro —
Moisés a conduzir o povo brasileiro
à lendária Canaan da mais excelsa glória!. . .

Encarnou a justiça em toda a trajetória
que foi sua existência!... E exemplo verdadeiro
de bondade e de amôr, traçou esse roteiro,
que levou nossa terra à suprema vitória!

Rei-sabio! Rei-herói! Na sua heroicidade
alcançou o troféu dessa campanha ingente
— o sonho nacional — que se fez realidade!. ..

E' o modelo dos reis de um povo independente!

0 símbolo imortal da nossa liberdade!

Um rei mais do que rei — a alma da nossa gente!

A LIÇÃO DE GOTAMA

        “L´essence de la femme est insondablement
caché comme les detours du paisson dans léau”.
Gotama

Mestre, si algum de nós — o caso é bem vulgar! —
encontra uma mulher seguindo a mesma estrada
como é que deve agir?
— Não ver!
— E, si  — coitada! —
a mão nos estender?
— Fugir, sem lhe falar!
E, si presa de um mal, insistir, apesar
dessa estranha atitude
Então, com voz pousada
Gotama assim falou:
— De atenção apurada
evita a sedução do seu traiçoeiro olhar!

Evita, Ananda! Evita a chama, o magnetismo
desse tremendo olhar! Desse olhar sedutor,
que provoca a atração, a vertigem do abismo!...

Ela é a vida! É o amor! — Sim, Ananda, é o amor!
Mas, sendo a vida um mal e o amor um egoísmo,
só pode levar ao sofrimento — à dor!

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

OS ENGENHOS

Ouço um carro de bois ranger, distante,
E, ouvindo esse ranger, sou transportado,
Por uma força estranha e dominante,
Aos dias mais remotos do passado.

Acode-me à lembrança, neste instante,

Esse meio feliz e sossegado:

—O engenho, o canavial rumorejante,

A mata, a várzea, o açude, o amplo cercado!...

Todo o encanto bucólico e bizarro
Desses sítios — oh, dias de bonança! —
Recorda-me o rangido desse carro!

E que negra tristeza, que pesares,
Não me desperta a nítida lembrança —
A saudade tenaz desses lugares!

Página publicada em dezembro de 2019