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Foto: http://querosertinamodotti.blogspot.com/

DIÓGENES MOURA

Poeta, fotógrafo e curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Nasceu na rua do Lima, no Recife, Pernambuco.

De
Diógenes Moura

ELÁSTICOS CHINESES
Capa de Lee Swain
Salvador, Fundação Casa de Jorge Amado, 1998. 75 p. ilus.
(Casa de Palavras, Série Poesia, 13)
ISBN 85-7278-034-3

 

Figo de Málaga

Ainda mais aquela vaca
sozinha
passando do outro lado
o muro
vaca
enquanto o francês que espero na cama
foge escondido
para caçar negros no sambódromo


Elásticos chineses

Começa a nascer uma cidade em mim
aquários teatros estádios de futebol
avenidas
Bonde e carros novos
a moça da janela entra no outro da rua
a cara,
viaduto:
salto para o lado de dentro do sonho
Cordilheira de bambus
agora apenas
o não-lado do triângulo
risco fino de chuva
ultrapassa umedece.


Três pêssegos para uma uva

Justo ali
naquele lugar da cabeça
onde já existia o osso
do lado de fora

Justo aqui
nesse emaranhado de vermelhos
onde teu olhar se perde
entre as mesas


Sem título


Madeira
dentro formiga
fora areia.

extrato de peixe-boi essa preguiça
incansavelmente pedra
sorrateiramente fulvo

===============================================================

“O livro

DRÃO DE ROMA “DEZEMBRO CAIU]”

(Salvador: Fundação Casa de Jore Amado, 2006 (Casa de Palavras)),

de Diógenes Moura chegou a mim pelas mãos generosas de minha amiga Myriam Fraga. Uma bela edição, com fotos em cores, e um texto poético entre narrativo e onírico, numa linguagem neobarroca, de grande expressividade. Compartilho com os nossos leitores-internautas uns trechos do livro.”  A. M.  

 

V. Na Praça de Jesus as pedrarias não são mais superfície.
    Ornadas são as colunas,
    entre as quais o homem prateado estende a mão.
    Vossa Majestade me dá uma moeda?
    Dou-te meu coração riscado ao vento:
    aqui, todo prateado, embaixo é de vidro-lata.
    Estilhaços de madrugadas.
    Novenas, lanças, brechas
    (bolináveis criaturas)
    Admoestadas.
    Partidas ao meio pelo sol de rachar coco de macaíba.

VIII.   Meninos solados desviam o furto.
         nem pêra, nem maçã:
         só lama no pé encardido
         sobre a pedra portuguesa.
         Uns subiram no relevo da igreja
         — e a quina caiu.
         Outros, correram feito flechas, cegas<
         para olharem-se no espelho d´água.
         Um tiro, um grito, uma dor.
         O vulto verdaccio indo para o cinza:
         De carne rasa, cadê o meu rosto.

XVI.  (fragmento)
         (o outro
         vindo da sombra,
         tinha uma Pátria entre as mãos.
         Um cabo de guarda-chuva,
         metade do número seis.
         Entrou na instrução de uso:
         dali não se via mais o mar.)

XIX.   Eruditos monogramas,
         tais lances, tais súplicas.
         Qualquer coisa no cérebro
         estalando, vivinha.
         Metida no bronze da rua deserta:
         nem medo, nem paixão.
         Apenas a Santa das Maravilhas,
         entre o reboco e a quina.

         (Eram seis ou oito ou sete deles
         todos azulados
         naquele terreiro-gemido
         adormecendo na mitra
         bem assombrada.)

 

Página publicada em novembro de 2009

 

 

 

 
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