Fonte: www.travessadoseditores.com.br
DEBORAH BRENNAND
(1927-2015)
POEM IN ENGLISH & PORTUGUÊS
POÈMES EN FRANÇAIS
A poesia brasileira inclui mulheres que elevam a língua portuguesa com apuramento formal e sensível: Stella Leonardos, Astrid Cabral, Adélia Prado, Lina Tâmega, Olga Savary, Lara Lemos e as já mortas Cecília Meireles, Gilka Machado, Zila Mamede, Maria Braga Horta, Cora Coralina, Isabel Vilhena, Helena Kolody, Hilda Hilst, Dora Ferreira da Silva, Marly de Oliveira, Orides Fontela e, claro, as célebres Adalgisa Nery e Henriqueta Lisboa.
Em Pernambuco, terra de muitos e muitos poetas, outra mulher de poesia elegantíssima vem como a claridade do dia revelar os cravos e a liberdade que fazem a vida ou mesmo o amor. Deborah Brennand estreou com O punhal tingido ou O livros de horas de Dona Rosa de Aragão, em 1965, o ano em que surgiu no Recife um grupo de poetas jovens (Alberto da Cunha Melo, Janice Japiassu, Marcus Acioly, Carlos Cordeiro, Jaci Bezerra, Ângelo Monteiro) que se autodenominaram Geração 65.
Agora, aos 80 anos, Deborah Brennand assumiu uma cadeira na Academia Pernambucana de Letras.
É dolorosa e ao mesmo tempo forte a leitura de Deborah Brennand, no entanto, é igualmente mágico parar sobre seus versos e sentir a metáfora que emociona e, mais que isso, encanta. Outros dos seus livros: Noites de Sol ou As Viagens do Sonho, O cadeado Negro, Pomar de Sombras, Claridade, Maçãs Negras, Letras Verdes.
Apresentação e seleção de
Diego Mendes Sousa
PRISÃO
Vencendo muros de pedras
Flameja do sol o brasão
Ó real castelo em dia aceso,
Ó ruivas folhas do soberano verão
Ó tempo não apertes a corrente
Do meu sonho já agonizante
Crestada é a terra e perto
Deságua um rio de sangue
Na pastagem morta
Do meu coração
CRUEL MENSAGEM
Morto foi o sonho de um jardim
Por um verão servil, de cruel mensagem
E eu vi raízes, a vida agonizando,
Na lâmina acesa de um punhal.
Os musgos, as heras, as papoulas,
Manchavam a grama seca.
E lírios, junto ao sangue das rosas,
Magoados eram o pasto
De cavalos alheios e famintos.
IGUAL A MÃO
Velhas cortinas de renda
Por sonhos bordando brasões
Agulhas trançaram ouro e linha
Em sombras fugazes de flores
Fantasmas de um morto verão.
Cobrindo vidraças, embaçando a vida,
Escondes desvarios, alucinações,
Olhares perdidos de condessas
Caminhos ocultos na distância
E o vento forte, agitando o pano
Com a rudeza de sua mão.
SEMPRE
Assim, além da cerca, eu espero,
O quê? Não sei. Espero.
Embora só o vento chegue
todo arranhado, em gemidos,
caindo e já sem sentidos
Jogue aos meus pés as folhas secas.
DE AMARELO
Hoje devo me vestir de amarelo:
espantar os olhos negros da solidão,
tal a luz do girassol de ouro dourado
que abre pétalas iluminando nuvens.
Quem saberá (nem ela mesma) o artifício
usado para enganá-la? Sonhos? Jardins?
Não digo. Hoje me visto de amarelo
e vou, nos ramos, entoar da ave o canto.
Quero espantar olhos de solidão
que vem das grutas e abandona montes
para comer a relva rubra do meu coração.
Mas hoje, de amarelo, espantarei a fera
Fugindo, à procura de outra vítima:
Quem sabe, a mata?
NÃO É CRIME
O degredo das flores
da umidade da mata
para uma varanda acesa
em arcos verdes
É permitido.
Atar os ramos em sombras?
e desatá-los na colina
ou varrer as cinzas de fogueiras
Na clara tarde de março
Ainda, ainda
Mas aquele pássaro voltando
querendo entrar na gaiola
já do lado de fora, do lado das rosas
é uma afronta às nuvens e à brisa.
Assim, matá-lo não é
Crime.
POÈMES EN FRANÇAIS
Deborah Brennand est née dans l’exploitation sucrière Lagoa do Ramo, à Nazaré da Mata, dans le Pernambouc. Elle appartient à une génération productive d’ecrivains et dartistes, tels que Ariano Suassuna, César Leal, Hermilo Borba Filho, Renato Carneiro Campos, Francisco Brennand. Elle a vécu la plus grande partie de sa vie dans l’exploitation São Francisco, se consacrant à des activités rurales, élevant du bétail et écrivant des poèmes. Elle commença avec Punhal tingido ou o livro das horas de d. Rosa de Aragão (1965). Elie a publié également: No/tes de sol ou as viagens do sonho (1967); O cadeado negro (1971); Pomar de sombras (1995) ; Claridade (1996) ; Maçãs negras (2001) ; Letras verdes (2002) et Tantas e tantas cartas (2003). Il s’agit d'une poésie douée d'un fort sens artistique et dexpression dépouillée, traduisant, selon l'auteur, "le témoignage de ma vie—- ce que la vie me fera, ce que je sens. ce dont je rêve".
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RECIFE – UM OLHAR TRANSATLÂNTICO – NANTES - UN REGARD
TRANSATLANTIQUE –Antologia poética – Anthologie poétique. Organizada por
Heloisa Arcoverde de Morais e Magali Brazil, tradução Everardo Norões, Renaud
Barbaras. Recife: Fundação Cultural Cidade do Recife, 2007. 206 p. 15x20 cm. Inclui os poetas brasileiros: Alberto da Cunha Lima, Cida Pedrosa, Deborah Brennand, Erickon Luna, Esman Dias, Everardo Noröes, Jaci Bezerra, Lucila Nogueira, Marco Polo, Miró, Pedro Américo Farias. “ Ex. bibl. Antonio Miranda
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Décembre
Cest le mois
oú la vanille
se dresse sur sa tige
et disperse dans l'air
les gousses mûres
de son éternité.
Cest quand la terre,
reconnaissante à leur odeur,
couvre les grains
d'une obscurité légère
sauve de pierres
Jusqu'à ce que la lumière arrive
lavée et blanche
pour dénoncer
dans les ramages
des vols perfides
feignant le sommeil
dans un sage accord d’eté.
Dezembro
È o mês
em que a baunilha
ergue-se no caule
e debulha no ar
as vagens maduras
de sua eternidade.
E quando a terra,
grata ao seu odor,
cobre os grãos
de um escuro leve
salvo de pedras
até a luz chegar
lavada e branca
para denunciar
nas ramagens
vôos pérfidos
fingindo sono
num sábio acordo de verão.
Monsieur Temps
Bonjour.
Qu'est-ce que tu fais ici tout seul
jouant dans le jardin ?
Tu es devenu un enfant ?
— Oui, seulement pour te dire
je suis venu chercher les oubliés
dans les sombres pergolas
de jasmins morts
et je suis déjà en train de par-tir...
avant que les dahlias fleurissent
les oiseaux se nichent
et demain le soleil
de nouveau brûle
mes nuages de cendres.
Senhor Tempo
Bom-dia.
O que faz aqui tão sozinho
Brincando no jardim?
Virou criança?
— Sim, só para lhe dizer
vim buscar os esquecidos
nas pérgolas sombrias
de mortos jasmins
e já estou par-tin-do...
antes que dálias floresçam
pássaros se aninhem
e amanhã o sol
de novo queime
as minhas nuvens de cinzas.
POEM IN ENGLISH & PORTUGUÊS
NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm. ISBN 978-85-7823-326-6
Includes 60 poets in Portuguese and English.
DEBORAH BRENNAND:
Sempre
Assim, além da cerca, eu espero.
O quê? Não sei. Espero.
Embora só o vento chegue
todo arranhado, em gemidos,
caindo e já sem sentidos
jogue aos meus pés as folhas secas.
Always
So, beyond the fence, I wait.
What? Do not know. Wait.
Although only the wind arrives
all scratched, in groans,
falling and already without senses
throw dry leaves at my feet.
Página publicada em junho de 2008. Publicado originalmente no jornal O BEMBÉM. Parnaíba, PI, 2008. Ampliada em fevereiro de 2016; ampliada e republicada em janeiro 2018.
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