ANTÔNIO BOTELHO
Antonio Botelho nasceu no Recife (PE) em maio de 1967. Advogado, funcionário público federal. Vive em Brasília (DF). Vencedor do Concurso Mauro Mota de Poesia (Recife, 1994). Poemas publicados em revistas e jornais de Pernambuco. Livros de poesia publicados : A PALAVRA NOME, O CÍRCULO DAS SOMBRAS. Publica, neste ano de 2010, O NÁUFRAGO (Coleção Invenção de Poesia / Editora Arribaçã, Recife).
De
Antônio Botelho
O NÁUFRAGO
Recife: Editora Arribaçã, 2010.
(Coleção Invenção de Poesia, 1)
edição sanfonada.
III
Hiato. Sou isso. Separado.
Estanque. Pedaço de algo
Que não sou.
Vago por uma estrada que jamais existiu
Procuro pelo que não sei, estou simplesmente
Pirado, à deriva, à espera, amputado
Feito uma pata de um bicho
Jogada no asfalto.
Mas, apesar disso tudo, ardo.
Sou um sol portátil, um meteoro
Uma paixão dolorosa, ácida e amada
Tempestade.
E a palavra que fere a minha mão?
Para que serve?
Qual a sua finalidade?
Limitar as coisas?
Demarcá-las?
Não eu. Quero violentá-las, aturdi-las, retirar-lhes
a casca imunda que aniquila o seu íntimo.
Amor! Qual palavra seria
Se não fosse aquela que o delimita?
Morte! Que consistência e som teria
A palavra que a decreta?
Hiato. Sim. Jamais sílaba constante.
Aparte e ponte quebrada ao meio.
Nunca poderei seguir de um lado
A outro de mim mesmo.
IV
Quem estará no esquife
Eu ou meu limite?
O homem que fui ou apenas
De deixá-lo, o apetite?
Quem estará no féretro
Minha morte ou o envelope
Onde me hospedava?
No paletó, quem habita?
Eu, meu pai ou o meu filho
Meu algoz ou meu discípulo?
Eu? Jamais. Sou apenas
Essa mancha que se desmancha
Num muro qualquer...
Sou o lodo de tudo numa parede de um lugar
Inexistente.
Página publicada em janeiro 2011, a partir de ume exemplar cedido gentilmente por Sérgio Hansen. |