ALICE SUELI DANTAS
Alice Sueli Dantas, nascida em Pernambuco na cidade de Recife, com 56 anos de idade, formada em Letras. Iniciou a vida poética aos 15 anos e foi divulgando seus trabalhos poéticos aos poucos entre amigos. Aos 50 anos entrou na Universidade Católica de Pernambuco onde fez o curso de Letras com licenciatura de Português e Inglês. Com isso, teve a oportunidade de participar do movimento criado na universidade que foi " Academia de Letras dos Poetas Mortais", composta por estudantes da própria universidade. Com esse movimento teve o prazer de ver seu pseudônimo Ecila Yleus, pela primeira vez, ser reconhecido. Continuou divulgando seu trabalho pela internet, quando foi convidada pelo Presidente da Academia de Letras de Poços da Bahia a ser membro efetivo da mesma.
Através da Internet buscou também outros sites como Recanto das Letras, Overmundo e outros. Mais tarde teve novo reconhecimento na mesma universidade que estudava; movimento de poesia e música "nas quintas-feiras na Católica" pela sua Mestra Haidée Camelo. Tem forte influência de Jõao Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Clarice lispector, Mário Quintana , como tem buscado fazer da poesia uma arte plástica com influências das pinturas de Renê Magritte, Portinari, Picasso e Goya, além da influência linguística de Mihal Bahktin, Focault e outros.
Veneza Brasileira
Ecila Yleus
Recife quadro expressionista,
Cujos sombreados brotam
A consciência de cores e luzes.
Luzes que iluminam o cais, que cortam as pontes,
Cores que colorem os velhos sobrados.
Recife, cidade que abraça os rios,
Cidade de praças mil, menina valente,
Corpo quente que caminha entre a gente.
Veneza brasileira de noites calmas,
Das relicárias igrejas, museus, praias.
Recife expressão da maior condição humana.
Mares, rios, pontes humanas entre bosques.
Ponte Velha com seus lampiões e proteção de ferros bordados.
De mangue-vermelho, mangue-branco, capim elefante.
Cidade- ave, das jangadas, dos jangadeiros,
Que despertam o mar inteiro,
Que se eterniza ao longo dos anos.
Recife dos coqueirais, jacas, jambeiros.
Cidade das grandes misturas, que acorda valores.
Recife dos sobrados com marcas históricas,
Árabes, holandeses, portugueses que chegaram ao teu porto,
Escorregando em tuas mãos.
Recife caminho de pedras,cidade de homens,
Litoral de colonos, turistas,passistas.
Noites de eternos carnavais, saudosos carnavais.
Cidade,tu és a menina mais linda que meus olhos já viram.
Recife, mostra tua história, alimenta teus mitos
No grito forte dos cablocos de lança, maracatu Leão Coroado,
Blocos da saudade,tambores silenciosos.
Cidade querida de Capiba, Silvério Pessoa,Luiz Gonzaga,
Alceu Valença, Dominguinhos, Haidée Camelo, Lenine.
Recife das pitombas, araçás e mil amores,
Dos balangandãs, das cores das manhãs.
Cidade, tuas noites na beira do cais acordam Brennand,
O mar mansamente contempla sua obra.
O teu povo sai dançando nas ruas,
No compasso quente do teu coração,
Na alegria fugaz dos teus dias.
No sábado de Zé pereira,
No Galo da madrugada:
Recife,tu és menina frevando em nossa alma.
Sapateado do sapato preto
Ecila Yleus
Desperte o tempo e fale dos segundos,
Reencontre faces no espelho da sala,
Recolha encontros na velha gaveta do quarto,
Rasgue os guardados inúteis da memória.
Tem salto o teu sapato preto,
Tem laços de fita o teu cabelo,
Tem grude a parede do tempo,
Uma fronteira que desvia a verdade.
Rachados estão os alfaltos das ruas,
Tem laços o teu sapato preto!
Têm véus os fios dos teus cabelos,
Tem um olhar pregado no chão,
Vestes coloridas induzindo à paixão.
Reboque a esperança e corra pelos trilhos,
O dia acorda os gestos nas calçadas sem visgo,
Teu lábio aberto pede o azul,
Mudou todo o cenário do nosso quadro nu.
Têm pratos na praça da cidade,
Têm mãos que acanham os covardes,
Têm mães de leite que alimentam a nação,
Tem no fim da noite o barulho do trovão.
Notícias acendem a cidade, malícia,
Um cão faminto a me esperar, carícia.
Um gato angorá a lambuzar a sorte na tv...
Tem sapateado nos campos elísios.
No sapateado do sapato preto,
Tem o sapateado dos camponeses,
Tem a rima do coração do poeta
Na cadência do lápis, nos beijos das letras.
Tem o toque do tambor da nação ametista
E um coração sambista que chora, que ri
Que grita, toda esse magia que é vida,
No tablado sapateado pela história.
Cais da Alma
Ecila Yleus
A onda anda,
Aonde anda a onda?
Beijando a areia da praia,
Viajando nos meus olhos que marejam entre minhas mãos.
Anda onda, na onda dos meus orvalhos.
A andulante espuma espalha, pelo meu corpo,
Carícias imersa, emersa da minha universalidade,
Que desfila no fosco pensar do meu mar covarde.
Assim, navego no arrebol dos meus medos.
Onda, anda na espuma dos meus segredos!
Em seu caracol rolam os meus dedos,
Na onda gigante vão-se os meus sobejos.
Solto-me dos arrecifes afoita, querendo dominar-te.
Mergulho no cais da alma, sargaços;
Boiando nas correntes dos meus retraços,
Onde meu ser descama emoções inenarráveis.
Imerge-se do âmago a forte influência dos mistérios,
Largo-me dos desenganos no oceano profundo,
Sobrevivo às águas cristalinas e o seu lado mais escuro.
O sal de águas azuis andam nas ondas do verde mar
E os meus olhos acompanham os pescadores a marulhar.
De noite volto ao mar para buscar a lua,
Tão nua ,tão sua, juntas a me embriagar.
Silêncio nos meus olhos, sou amante desse delírio,
Sinto-me pequenino diante do imenso mar.
Anda onda arrebenta meus arrecifes,
Onda,anda, onde andas onda?
Por que não vens me buscar?
Ouço a velha canção do mar,
Anda...vens chegando,sinto.
No cair da tarde no canto do olhar,
O mar volta ao homem...
Com a boca cheia de peixes.
Página publicada em dezembro de 2008
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