SILAS CORRÊA LEITE
O atual literato e Cyber Poeta, Silas Correa Leite, na verdade nasceu nobairro operário de Harmonia, em 1952, na cidade de Monte Alegre, Paraná, região de Tibagi.
LEITE, Silas Corrêa. Porta-lapsos. São Paulo: All Print Editora, 2005. 128 p. 14x20,5 cm. ISBN 85-98310-55-7 ex. col. Antonio Miranda
SILAS CORRÊA LEITE
O atual literato e Cyber Poeta, Silas Correa Leite, na verdade nasceu no
bairro operário de Harmonia, em 1952, na cidade de Monte Alegre, Paraná, região de Tibagi.
LEITE, Silas Corrêa. Porta-lapsos. São Paulo: All Print Editora, 2005. 128 p. 14x20,5 cm. ISBN 85-98310-55-7 ex. col. Antonio Miranda
Navios negreiros
In Memoriam de CASTRO ALVES
"Depois dos Navios Negreiros
Outras Correntezas"
Um Trem Pras Estrelas
(Gilberto Gil/Cazuza)
navios negreiros
de novos feitios
nem mares ou rios
— bueiros
navios negreiros
nesse pindorama
país com seu drama
meeiros
navios negreiros
de tempos modernos
e tantos infernos
inteiros
navios negreiros
naufrágios sociais
centenários sais
cruzeiros...
navios negreiros
riquezas impunes
injustas, imunes
(vezeiros)
navios negreiros
de anjos mestiços
com donos postiços
estrangeiros
navios negreiros
bandeiras inúteis
exploram (e fúteis
herdeiros...)
navios negreiros
pobres trabalhadores
salários, horrores
(pardieiros)
navios negreiros
brasil-quinhentos
velas aos ventos
guerreiros
navios negreiros
de escravismos novos
matam teus povos
brasileiros!
Poema Vencedor do Quarto Concurso de Literatura da Fundação
Cultural de Canoas, Rio Grande do Sul.
Família
minha mãe fritava polenta
e convidava a aurora para o banquete
Clarice tinha tranças bonitas
e uma voz de santa
Sueli era uma janela fechada
esperando um príncipe encantado
Erzita era a "irmãe" mais velha
guardiã dos sonhos de nós todos
Paulo e eu brigávamos muito
e tínhamos o destino da luta
(Céllo sequer existia ainda
para ser nosso referencial futuro)
Depois meu pai vendeu a casa
Morreu/ virou saudade e nos deixou Célio Ely
de herança
E minha mãe com sua voz de clarinete
ainda alonga orações por nossos sonhos.
Butim
Poema Querendo Ser Balada
Tenho o butim de meus íntimos blues
Para te dedicar como uma guirlanda de luz xadrez
Talvez um questionário com renúncias
E pertencimentos
Eu me enluo e sou teu
Fermento entre avencas
(Passageiro de teu íntimo revisitado
Sou hangar e garagem de barcos)
O que fizeste deste ser tão teu?
- Do jazz nasce a luz -
(O coração tem loucuras
que a própria lucidez desconhece)
Amar-te é fazer parte de um bolero brega
Rotina cotidiana de adeuses em dó maior
Cântaros & mantras, palcos
Sábias solidões
Já fui teu como um silêncio desafinado
Sonhei-te numa casa de campo
Ouvindo Elis Regina com suas águas de março
E uma alma nau na burreza pegajenta de ser triste e só
Quando fala o coração
Universos movem moinhos - dentro de nós
(Sou tempestade em teu corpo, e viço
Sendo um não-lugar, no Eu de mim!)
Extraído de
POESIA SEMPRE. Ano 8 . Número 12 . Maio 2000. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. Ex. bibl. Antonio Miranda
Aurora
Eu me levanto
de uma noite que nunca é absoluta
ou definitiva
e tomo outra porção de cicuta
na aurora da poesia carne viva
Narciso
Toma conta de mim
faz meu chá de arroz
depois — muito além de depois —
despe-me: como se eu fosse ver-me
toma conta de mim
faz-me um afago no ego
e deixa que eu me aceite assim
estrangeiro no teu ver disforme
toma conta de mim
faz-me essa caridade
aceita-me como sou, como vim
um zero além do polimento da metáfora
toma conta de mim
lava minha feridas íntimas
veste-me de barro e alecrim
para que eu mereça a câmara dos vestígios
toma conta de mim
e ama-me, como sou
simples, feio, triste e pobre assim.
Vento secreto
O vento secreto
do deserto
ainda soa em mim
(dentro de mim
o vento
parece vivo, esperto)
e chama-me, o vento
como se meu esquecimento
não fosse certo
vento invisível, doloroso
como um cemitério a céu aberto.
então eu me levanto
e canto
não um aroma, um cântico
um banto
mas um antigo certo
encanto
por ter sido (longe ou perto?)
um santo
com o vento — acalanto
secreto (de um deserto
em sânscrito...)
Página publicada em maio de 2014
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