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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RODRIGO GARCIA LOPES

Foto: Curriculo Lattes

 

RODRIGO GARCIA LOPES

 

 

Poeta e tradutor, nasceu em Londrina (PR), em 1965. E mestre em Artes pela Arizona State University e doutor em Letras/Inglês pela Universidade Federal de Santa Catarina. Integrou as antologias Arfes e ofícios da poesia (Artes e ofícios, Porto Alegre, 1990), Outras praias (Iluminuras, 1998) e Esses poetas (Aeroplano, 1998). Publicou os livros de poemas Solarium (Iluminuras, 1994), Visibilia (Sette Letras, 1997) e Polivox (Azougue Editorial, 2002). Publicou Sylvia Plath — poemas (Iluminuras, 1991) e Iluminuras (gravuras coloridas), de Rimbaud (Iluminuras, 1994), ambos em parceria com Maurício Arruda Mendonça, e também Vozes e visões —panorama da arte e cultura norte-americanas hoje (Iluminuras, 1996), com entrevistas com poetas, críticos e artistas plásticos dos EUA. Foi um dos editores da revista Medusa, e hoje edita a revista Coyote, com Ademir Assunção e Marcos Losnak. Em 2001, lançou o CD de música e poesia Polivox.

 

Veja: BIOGRAFIA AMPLIADA E ATUALIZADA E A  FORTUNA CRÍTICA DO AUTOR

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    -    TEXTOS EN ESPAÑOL

LOPES, Rodrigo Garcia, 1965-      O enigma das ondas.  São Paulo: Iluminuras, 2020.   152 p.   ISBN  978-6-555-19048-9
Ex. bibl. Salomão Sousa

 

 

 

Página preparada especialmente
por SALOMÃO SOUSA:

 

 

 

Autópsia

 

Já fui um Autor, um dia.

Agora sou apenas um texto,

um fragmento anônimo, palimpsesto,

cadáver esquisito e indigesto.

 

Tive que matar quem me pariu

pra que você, Leitor, nascesse,

no meio desse diário massacre,

em pleno abril, e no Brasil.

 

Não existe mais eu, nem outro.

No lugar onde estava o Autor

um discurso sem vida, neutro,

uma ausência singular, meu amor,

este zumbi chamado Eutro.

 

Tive que matar minha mãe, meu pai,

depois tive que me matar.

Não adianta ocultar nosso ardil:

eu sou uma cena de crime.

 

Assassinar o Autor até foi fácil:

na calada da noite, uma cilada.

Agora temos um problema:

quem vai assinar este poema?

 

Não há como você se deslocar

sem deixar sinais de sua presença.

Todo contato deixa um vestígio

segundo o princípio de Locard.

 

Não me subestime.

Você conhece meu prestígio.

Tenho em mim seus fios

de cabelo,

de saliva, as pegadas

do seu tênis, suas impressões

digitais, seu sêmen.

 

Você levou ou trouxe,

durante o crime,

alguma coisa de mim.

 

Se foi fácil matar aquele gênio?

Se foi simples montar aquela farsa?

Não seja ingênuo, comparsa.

 

Essas letras espalhadas,

espirradas pela parede,

o sangue negro viscoso e essas manchas

no chão desta sala terrivelmente branca,

provam que a coisa foi feia e bruta.

E houve luta.

 

O que faz de você (e é tão simples

o que estou tentando te dizer)

no mínimo meu cúmplice.

 

Nem venha com mumunhas,

armações, venenos, mutretas.

Você foi coautor, no mínimo testemunha.

Isto está escrito com todas as letras.

 

Agora só espero, em silêncio,

que a polícia nos intime.

A morte do Autor, ainda vivo,

é a forma mais eficaz e moderna

de queima de arquivo.

 

 

 

 

Pandora

 

Pânico, pandemia, pandemônio:

é o inimigo invisível, é o novo demônio,

é a face coberta por um pedaço de pano,

é o humano reaprendendo a ser humano.

É uma carreata de caixões pelas ruas de Turim,

é o translúcido azul do céu de Pequim.

É o papa rezando na São Pedro deserta,

são as águas transparentes dos canais de Veneza.

Parece que faz tanto tempo que tudo aconteceu,

presos no labirinto com Minotauro e Teseu.

Legiões de desempregados em Teerã, São Paulo, Paris.

As calçadas de Guayaquil estão cheias de cadáveres.

Estão pregando tapumes nas fachadas.

Todas as fronteiras foram fechadas.

Os médicos e coveiros estão exaustos.

Os jornais nem noticiam mais os holocaustos.

São pilhas de corpos-números cobertos por um véu,

São poemas que jamais sairão do papel.

Os confinados batem panelas, invocam os magos,

pumas invadem as avenidas de Santiago.

É uma vida pulsando entre a pedra e a espada,

é o prenúncio de uma economia global robotizada.

São velórios e shoppings vazios, praias desertas,

é o começo de um renascimento, é o fim de uma era.

É o silêncio ensurdecedor e o medo de morrer,

é o tempo pra ler toda obra de Shakespeare,

é a chance de ser o maior experimento

de controle social de todos os tempos.

É um exército branco higienizando as cidades,

é um planeta em quarentena por toda a eternidade.

 

É um homem que saiu do isolamento e nunca mais foi visto,

são fanáticos gritando O Vírus é o Anticristo.

São anjos em polvorosa sobre os céus de Berlim,

são amantes aprendendo a amar enfim,.

Já ninguém ouve o que os agonizantes urram,

os metrôs voltaram hoje a circular em Wuhan.

É solidão compulsória, é o estado de sítio,

são coiotes vagando livres por São Francisco,

É uma flor desabrochando durante a tempestade

(pois quando tudo acabar talvez seja tarde).

É a solidão futurista da Times Square,

é o suicida alcançando um revólver.

São navios de cruzeiro proibidos de atracar,

são hospitais abarrotados em Milão, Rio, Dakar.

Pássaros continuam voando, geleiras caindo,

há um pôr de sol distante, solitário e lindo.

É viver entre as paredes dos parênteses

em reticências que se alongam como meses.

É o mundo inteiro em stand-by,

é o corpo lutando por ar.

 

 

 

 

Lopes, Rodrigo Garcia.  Experiências extraordinárias.  Londrina, PR: Kan Editora, 2014.  104 p.  14x20,5 cm.  ISBN 978-85-62586-48-4   “ Rodrigo Garcia Lopes”   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                                      só por um tempo
                                      a lua minguante
                                      empresta o poente

 

         BALADA PÓS-HUMANA

         Quando eu tinha trezentos anos
         Nas praias automáticas de Ptyx
         Sob um belo sol artificial, e as três luas de Matrix,
         Avatares se bronzeavam com pensamentos meus,
         Ao lado de uma linda, linda máquina.
         É possível que eu seja
         A sua vida
         E você seja a minha?
         Uma borboleta virtual que sonhou
         Que era o clone de um monge.
         Já vai longe o tempo
         Medido em batidas do coração.
         Que eu pense um céu e assim seja
         uma formiga
         conectada a uma base de dados que é
         Minha língua?
         Há alguma coisa que possa existir nesta velha Terra
         Que não seja clone ou milagre?

 

         POETÍLICA E LITERÁRIA

                  depois de Drummond

         O poeta do momento
         cutuca com vara curta
         o poeta em tempo integral.

         Enquanto isso o poeta fofo
         assassina mais um poema.

 

         DELFOS

        
Pelas coluna do templo
         o vulto dos versos futuros.
         Vivem em camadas de tempos,
         O transe zerando seus números.

         O olho, quando pousa na coisa, vira
         outra, miragem, imagem perplexa de si
         e comigo se confunde, e a si o mundo
         e a toda a gente.  Como aqui:

         O olho era o espelho partido
         caindo, neste instante, naquela rua
         distante como um pensamento
         que por pouco quase não dura.

 

 

 

 

 c:/polivox.doc

 

“Para mim tudo se desintegrava em partes, estas partes em outras partes; nada mais seria abarcado por uma idéia só. Palavras isoladas flutuavam à minha volta; elas se solidificavam em olhos que me encaravam e dentro dos quais eu era forçado a olhar de volta-redemoinhos que me davam vertigem e, girando incessantemente, me levavam para dentro do vácuo”

     

                                                                   Hugo von Hofmannsthal

                                                                    

                       “corte as linhas de palavras”              

                                                                   William S. Burroughs

 “Um pouco de ruído, o menor elemento do acaso, transforma um sistema ou ordem em outro”

                                    

      Michel Serres

 

On-line.  Psiu: “Épico é poema


 

contendo história”.  Demais.

“E se um Plano de Saúde

Pudesse expressar

sua

Individualidade?

Você não é como todo mundo.

Sua individualidade é algo que gostamos

e entendemos. Também sabemos que

seu seguro tem que ser

importante para você. Ele também

é importante para nós.      Enquanto

isto,                   flores

falsas, carniça, neve

negra. “Eu não procuro o que eu acho”.

Linguagem escapa:

- Desde quando oceano

É Céu? Acesso negado. 

PARA MUITOS, TEMPESTADES ALÉM DA COMPREENSÃO /“...viram tornados

jogarem seus carros como brinquedos e vacas voando nos quintais…”. Este, o Sonho Americano. Pétalas de chuva, postal estranho,

bilhete em esperanto

obscuro -  do Além: Cézanne: “A

paisagem pensa a si mesma

através de mim. Eu sou sua consciência”. Livros mudos, o vermelho das

árvores se alastra em frases falsas, e o deserto devora o tempo.

Shift.

O que faz de Dell

a escolha ideal? Dell

sempre almeja lhe oferecer

a perfeita combinação de potência, performance,

e preço. QuANto MAis pERtO o-

LhAMos PaRa UMa pAlAvRra

mAioR a DiStâNciA cOm QuE ElA

nOs eNCara. Todos os direitos reservados @

Deixe sua mensagens após o bip.

Cerejas amargas: antes, flores.

“Se um leão pudesse falar

ele não entenderia o que rugimos”.

Ideologia é linguagem vestida de transparência.

Megaugnil : devagar eu te direi quem és. Remédio ou veneno.

O homem não é contemporâneo de sua origem.

Aumentemos o volume da linguagem.

Esta página está em construção. Zip! Ninguém escuta pensamentos como aqui. Agora

você não precisa mais de mim, agora forma

é uma extensão do conteúdo. Bapel.

Nadar

nesta espuma, virgem verso, pampa nevado com paredes negras.

“Poesia é a suprema realidade virtual, menina”.

Mundo. Mudo. No qual entramos des-

nudos.

Assim termina o mundo

não com um tiro

mas sem um sentido.

A resistência dos materiais. “Isto

vai doer mais em mim do que em você”.

A frase está fora de foco.

“Ao dissecar, a matamos”.

“Dor é impossível de se descrever”

A dança do duende entre a floresta de signos.

“Se sempre escrevessemos a não ser

o que já foi entendido

o campo do conhecimento

nunca seria extendido”. O tempo virou, esta

página-(de pangere, prender, fixar, ligar)-manhã. Mesmo porque,

 “uma dúvida que duvidasse de tudo não seria mais

uma dúvida”. E

o que muda depois de tudo. Muda,

depois de tudo. A dança do duende

entre a floresta de signos. Madame Yahoo,

não há nada épico em acender um cigarro:

ou talvez sim, como o gesto heróico de

abrir a porta e retirar o lixo. “O difícil é conseguir

saltar o muro”. Esta linha de mentira.

O hímem está testando a memória extendida.

Um banho quente é a conquista do Egito.

Quem disse isso?  Fui

teu amuleto no meio do tumulto:

te protegi da guerra, deusa -

Eu era a lâmina afiada na mão de Thoth

no meio do tumulto.

A queda da caneta no carpê é uma aurora de outono.

Céus de cristal líquido.

Limalhas de ferro formam uma rosa imantada.

Restos de conversas são nossas profecias.

Um  beijo é a conquista do Egito.

A cada manhã, é preciso remexer o cascalho para alcançar,

debaixo dele, de repente,

a semente viva e quente.

Vox, Vak, vácuo. Vai  ver, o homem

não é contemporâneo de sua origem.

A miragem não é contemporânea de sua imagem.

Aumentemos o volume da linguagem.

Nas matinês americanas nos ensinam a assistir um filme

no velho estilo: em silêncio.

Com tempo, nos tornamos

Invisíveis:

Sub verborum tegmine vera laten, ou

por trás do véu das palavras, a verdade. Vozes nas sala da Mente? Mas acordamos ao mesmo tempo para nós e para as coisas.

“A trilha árdua da aparência”.

O OLHO SE ABRE.        O OLHO SE ABRE  E SE DIVIDE.

Ar, articular,

 como um bicho saindo de seu ninho.

O cinema grotesco nos ensinou

a configurar uma ação, instante negro, não reflexo

de realidade.

Uma maçã flutua na luz: este seu sentido

(“aceitamos cartões de crédito”)

que se movimenta como quem respira, imediato,

enquantO mira espirais de tempOs, arOs de fumaça.

Não há como escapar.

 

 

                                                                                        (Em Polivox, Atrito, 2001)

 

Cityscape

 

 

Carros avançam em nossa direção: eis o épico contemporâneo. Ítaca na esquina, Odisseu o mendigo lendo um anúncio travado no chão. Brisa de buzinas o atordoando, atraindo-o para o fluxo & atropelo. Da sinagoga slogans na multidão de rostos anônimos. Ele é o herói transubstanciado de outras eras, ou uma hera plugando o meio das coisas com o que sua flora de aço, voracidade, revela: não há silêncio, luzes traçam linhas de fuga, teu rosto fugaz atrás dos vidros, mancha de detalhe, disparo. Tudo sucede por fluxo e acumulação. Prolifera, fera, néon das lojas de conveniências, você sob eterna vigilância, e as imagens, as imagens. O minuto pede pra ser consumido como mais uma comodidade (impossibilidade) por isso precisa ser veloz, para que a morte não tenha como amortecer as interrupções que a ferem até sangrar para que a verdade não tenha tempo de instalar seu leão de gerânios, sua folha de erva e visão. Pense em Agora e toda uma rede se instala em seu cérebro. Este perfume vindo da vitrine lembra uma idéia, e se estilhaça no instante necessário para que o tempo pare.

 

(Em Nômada, 2004)

 

 

ZEITGEIST

 

Nocauteando celebridades disfarçadas de pingüins

Monitorando a muvuca das transações e trapaças alpinistas

Serpenteando entre escadarias cravejadas de citações

Chutando o balde do crepúsculo com o bebê da aurora dentro

Chegando firme na dividida com a mentira, pisando o calo da calúnia

Colecionando estoques de paciência e delatores pederastas

Beliscando morenas de fiberglass e pixels de altíssima definição

Pegando marqueteiros pela orelha, levando o bispo milionário pelo pescoço

Mostrando seu catálogo de golpes de jiu-jítsu para web designers

Apavorando editores de moda com crucifixos de merda

Partindo pra ignorância pra cima das floriculturas

Esfaqueando a manhã e as boas intenções com sua adaga afiada

Pulverizando jogadores de genoma e modelos chipadas

Dando geral nos arquivos adulterados dos tribunais de justiça

Assaltando pipoqueiros metafísicos e banqueiros artistas de fim de semana

Distribuindo pirulitos de ácido para críticos literários

Arrebentando a boca da razão com denúncias inconseqüentes

Estrangulando docemente a tarde carregada de câmeras de vídeo & trance music

Pregando a irresponsabilidade fiscal, e anthrax para todos,

Rifando o shopping lotado de idéias fixas com um grito de jihad

O homem-bomba entra no poema.

(Em Nômada, 2004)

 

 

 

EL DUENDE

 

 

O dia lapida

o lado mais raro

da dor.

 

A mulher transpira

pelos poros iridescentes

dos dias.

 

Há dias

em que um homem

tem o tamanho de uma flor.

 

 

(De Polivox, 2001)

 

 

Há anos vende seu peixe

podre

seu suflê de vísceras

para vegetarianos sem o menor senso de humor.

 

Há tempos leciona

o dialeto do caos

dá conselhos ao sol

vende orquídeas escritas com

seu sangue

para vampiros que têm medo do vermelho.

 

Há séculos ele pratica

a extinta arte da pluviometria

fabrica idéias inúteis

conta os carros da esquina

compondo um poema longo e atroz.

 

Há minutos ele liga

Para uma secretária eletrônica

Que repete, estranho, exatamente

A gravação de sua própria voz.

 

(De Nômada, 2004)

 

 

Rito

 

Alertas, trapaças, cobranças, compromissos:

Quantas ilhas sem edição, vidas sem viço,

A morte visita sem aviso?

E, afinal, pra que mesmo tudo isso?

 

O que deu nesse mundo, caduco,

O que ficou do tempo em que viver

Era mais que só mudar de assunto

Era rito, um estado de espírito?

 

Ou quando olhar era uma reza,

Pensar que revelava a leveza,

Música vindo de dentro

(Precisa de centro?)

 

Uma revolução do sentir nos fez ateus:

Quisemos então ver a face de Deus.

 

E você a meu lado, lembra

De quando bastava uma fagulha

Pra explodir uma Bastilha?

 

(De Nômada, 2004)

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OUTROS POEMAS DE RODRIGO GARCIA LOPES

 

 

                STANZAS IN MEDITATION

         para Henry David Thoreau

 

Folhas negras caem, rufam em profusão. O vento encrespa a

Água, Tempo, enruga

faces. Um vale revela

canyons, grutas:

em silêncio, exploramos o interior

 

destas montanhas: uma chuva fina, estranha,

começa a cair

e súbito dissipa —

O ruído áspero

de uma vespa. Este é o céu, claro, como metal. E aquilo,

 

A fumaça abandonada por um trem, talvez. Flores

Se dissolvem nos olhos, e nos debruçamos sobre velhas lendas

conferindo as pegadas de um animal desconhecido.

A trilha termina num riacho.

A água se surpreende com este vento todo

que vem do Oeste

e que agita a sinfonia das árvores.

 

Neblina nítida, colinas, um vapor neste espelho.

Num ponto qualquer da paisagem captamos

seus olhos verdes, mudos, fixos na relva úmida.

Um animal e você contemplam do mirante

este milagre

a baía vazia

— a areia do dia exibindo sua rasante —

rochedos & distâncias, como antes,

animada pelas danças do vento

fazendo desta ausência

presenças manifestas em tudo:

 

chuva

que desaba

entre os olhos

abertos

da serpente.

Um flash

de luz

entre os bambus

 

o silêncio do sonho

traduzindo

uma imagem-movimento

que se desfaz

entre a verdade dos instantes.

 

 

ERÓTICA DAS SOMBRAS

 

Lendo na contraluz que o tempo alucina

Nas rótulas de ondas que em amarelo artéria barbarizam

Enquanto a boca apressa, sibilina,

entre sons (devorados de sentidos). Içam

o mar vertiginoso e kanjis de nuvens

nos olhos cheios de deus, Sal.

No biombo das montanhas — rugem

No sfumatto mental da fala e do Caos.

Na textura sépia da superfície de sons

Uma face letal lateja e se transmuta

(Estátua de estrondos, trilha de acenos)

Muda e nos sorri. Escuta

os espelhismos cifrados da manhã,

Lábio, na pele da romã.

 

*

 

inimigo

espelho da face

ecoa

(inacabado)

cai em rubra cortina

—em

câmera

lenta —

dobras sobre colinas

atordoado argumento:

qual paisagem

é real?

A de Jade, pedra de flanco, ou a que é já?

Vôos reluzem (circulares) — é o azul que se desfolha

Entre jatos

Minaretes-araucárias imprimem em  símbolos

inventam a fala na pele de Laylak.

A hora furiosa solta-se, inçada

de vegetais e estática.

Sombras vomitam a distância,

 

Mandala de espantos.

 

*

 

No centro, alguma agulha o olho —

Agharta: lágrima no céu laranja.

Plumas de carne escrevem

a tarde celofane.

Ouro ecoa.

Quando voa —

está dormindo.

No agora gótico das sombras

teu lábio (calêndula) modula (calcina)

o matiz da invisível voragem

de ondas gongas:

Tempo, tudo o que a íris invê

no sudário das dunas, na curva de um silêncio.

 

 

Poemas extraídos de NA VIRADA DO SÉCULO: poesia de invenção no Brasil, organização de Claudio Daniel e Frederico Barbosa.  São Paulo: Landy, 2002.  348 p. 

 ISBN 85-87731-63-7

 

Somos pessoas estranhas

 

somos

pessoas

estranhas

nem sabemos

que sonhos

que somos

 

esses

olhos

poucos

 

essas

folhas

secas?

 

esqueçam

fiquem

calados

 

somos

estranhos

no entanto

 

esta noite

dormiremos

lado a lado

 

 

Seu corpo é uma praia deserta

 

Seu corpo é uma praia deserta

onde uma música desperta

numa onda esperta e a deserda:

espumas a ferem como pétalas.

 

Desterra, em tradução infinita,

pérolas na orla do olhar, ilha

que ainda está por ser escrita.

 

 

 

 

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    -    TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Reynaldo Jiménez

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA, edición de Jaime B. Rosa. Organización Floriano Martins y José Geraldo Neres.  Muestra gráfica y portada Hélio Rôla. Edición bilingüe  Português - Español.   Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2006.  247 p   13,5x21,5 cm.   Poetas: Lucila Nogueira, Glauco Mattoso, Adriano Espínola, Beth Brait Alvim, Contador Borges, Donizete Galvão, Floriano Martins, Nicolas Behr, Jorge Lúcio de Campos, Vera Lúcia de Oliveira, Rubens Zárate, Ademir Demarchi, Ademir Assunção, Leontino Filho, Marco Lucchesi, Weydson Barros Leal, António Moura, Maria Esther Maciel, Rodrigo Garcia Lopes, José Geraldo Neres, Viviane de Santana Paulo, Alberto Pucheu, Fabrício Carpinejar, Salgado Maranhão, Sérgio Cohn, Rodrigo Petronio, Konrad Zeller, Pedro Cesarino, Mariana lanelli. Traductores: Adalberto Arrunátegui, Alfonso Pena, Aníbal Cristobo, António Alfeca, Benjamin Valdivia, Carlos Osório, Eduardo Langagne, Floriano Martins, Gladis Basagoitia Dazza, Luciana di Leone, Margarito Cuéllar, Marta Spagnuolo, Paulo Octaviano Terra, Reynaldo Jiménez e Tomás Saraví. Ex. bibl. Antonio Miranda. 

 

 

EM RIDING

 

Viver numa realidade de palavras,

com a consciência de que, a cada passo, falha,

no entanto atenta ao que cada instante desperta,

É a ambição da poesia quando trava

com o artificio mortal da absorção — escrava

do som que a persegue como um alerta —

Entre letra e mente uma batalha.

 

 

ENRIDING

 

Vivir en uña realidad de palabras,

con la conciencia de que, a cada paso, falla,

mientras atenta a lo que cada instante despierta,

es la ambición de la poesía cuando traba,

con el artificio mortal de la absorción —esclava

del son que la persigue como un alerta—

entre letra y mente una batalla.

 

 

 

SPIRITUS MUNDI

 

A voz toca no ventre da aceleração. No Museu do Dia

objetos ecoam na tatuagem da memória de seus habi-

tantes. Abduzido, o olho humanimal é de um metal

nécrosadò e devorador, racimo de genes durante a pres-

surização. Clareiras. A matriz translúcida como pre-

sença de religare, tigre de Lascívia e sua dança filosófi-

ca. A estrada dó tato. Ilhas femininas. Dentro e fora

comercializam artigos baratos e tapetes persas onde me

encontro: a escrita de luz nas costas da jovem gueixa

dispersa, um continente feito de blocos moventes e pis-

cantes de gelo. Atraquei consoantes, com cimitarras cer-

teiras, e nada. Alguém aumentando o volume da mata.

Os nómades olharão para trás: enxergaram a avalanche

em sua direção, nada que um leque não possa indicar,

um tiro de alguém. A captura se dá a caminho, com nos-

sas presas embrulhadas em tecido de tule, quase trans-

parentes. Na fuga, quase sem saliva, a aranha deixa

seus hóspedes de cera para exposição em Lexotan,

enquanto contorcionistas regem o vento com um

manual de hermenêutica. É preciso reconheceras trilhas

jesuítas, marca d'água revelando ruínas, musgos e bro-

tos em densidade alvoroçada, proliferante, uma imagem

de mundo que não reflete nossa mente, mar, entrando

em surto. O lugar de onde você veio-é,tão distante que

pode muito bem ser aqui.

 

 

 

SPIRITUS MUNDI

 

La voz toca el vientre de la aceleración. En el Museo del

Día objetos reverberan en el tatuaje de la memoria de

sus habitantes. Abducido, el ojo humanimal es de un

metal necrosado y devorador, racimo de genes durante

la presurización. Claros del bosque. La matriz translúci-

da como presencia del religare, tigre de Lascivia y su

danza filosófica. La vía del tacto. Islas femeninas. Den-

tro y fuera comercializan artículos baratos y tapetes per-

sas donde me encuentro: la escritura de luz en las espal-

das de la joven geisha dispersa, un continente hecho de

bloques semovientes y parpadeantes de hielo. Atraqué

consonantes, con cimitarras certeras, y nada. Alguien

subiendo el volumen de la mata. Los nómades mirarán

hacia atrás: entreverán la avalancha en su dirección,

nada que un abanico no pueda indicar, un tiro de

alguien. La captura se da al camino, con nuestras presas

envueltas en tejido de tul, casi transparentes. En la fuga,

casi sin saliva, la araña deja sus huéspedes de cera para

su exposición en Lexotan, mientras contorsionistas rigen

el viento con un manual de hermenéutica. Es preciso

reconocer las trillas jesuítas, marca de agua revelando

minas, musgos y brotes en densidad alborozada, proli-

ferante, una imagen de mundo que no refleja nuestra

mente, mar entrando surto. El lugar desde donde te veo

es tan distante que bien podría ser aquí.

 

 

 

          DESCALÇA, A MENTE SE SENTE MAIS AMPLA,

instaura seu império fugaz.

Não te conduz — repetida narrativa

deixando fios pelo caminho—

e sim parindo cortes abruptos

na varanda:

A nota escrita rápida, espasmo no diafragma, detalhe

de lenho.

Dar continuidade é negar o acaso — exemplo

de milagre e sincronia, quando o sonho

Roça o rosto e vira visão.

 

O objetivo imediato é: fusão.

O eu não se apodera das coisas

Deixa-as (suas almas ociosas)

falar, farfalhar, até o fim, falhar.

 

A história simultânea das coisas

Um dia irá contar sua fábula.

 

       DESCALZA, LA MENTE SE SIENTE MÁS AMPLIA,

instaura su imperio fugaz.

No te conduce -repetida narrativa

soltando hilos por el camino-

y sí pariendo cortes abruptos

en la veranda:

La nota rápida, espasmo en el diafragma, detalle de leño.

Dar continuidad es negar el acaso -ejemplo

de milagro y sincronía, cuando el sueño

roza el rostro y se torna visión.

 

El objetivo es inmediato: fusión.

El yo no se apodera de las cosas

las deja (sus almas ociosas)

hablar, farfullar, hasta el fin, fallar.

 

La historia simultánea de las cosas

un día contará su fábula.

 

 

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RODRIGO GARCIA LOPES
(BIOGRAFIA ATUALIAZADA ATÉ NOV. 2009)

é escritor, jornalista, tradutor e compositor. Como jornalista, trabalhou na Folha de Londrina, Folha de São Paulo, jornal Nicolau e A Notícia. Um dos editores da revista Medusa (1998-2000),  desde 2002 é um dos editores da revista independente de literatura e arte Coyote.  É autor dos livros de poemas Solarium (Iluminuras, 1994), Visibilia (Setteletras, 1996; Travessa dos Editores, 2005), Polivox (Atrito Art, 2001), Poemas Selecionados (Atrito Art, 2001) e Nômada (Lamparina, 2004). É Mestre em Humanidades Interdisciplinares pela Arizona State University, com tese sobre os romances de William Burroughs e Doutor em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina, com tese sobre a poeta e filósofa modernista norte-americana Laura Riding. Em 1997 lançou Vozes & Visões: Panorama da Arte e Cultura Norte-Americanas Hoje, (Iluminuras), com 19 entrevistas com personalidades da cultura e literatura norte-americana como John Cage, Allen Ginsberg, Marjorie Perloff, Charles Bernstein, Laurie Anderson, Amiri Baraka, John Ashbery, Nam June Paik e William Burroughs, entre outros.            

      Como tradutor, publicou Sylvia Plath: Poemas (Iluminuras, 1990) e Iluminuras: Gravuras Coloridas, de Arthur Rimbaud (Iluminuras, 1994), ambos em parceria com Maurício Arruda Mendonça. Em 2004 traduziu e organizou os livros Mindscapes: Poemas de Laura Riding (Iluminuras, 2004), O Navegante (do anônimo anglo-saxão, Lamparina, 2004). Em 2005 publicou Leaves of Grass / Folhas de Relva, de Walt Whitman (Iluminuras) e, em 2007, Ariel, de Sylvia Plath (Verus Editora, em parceria com Cristina Macedo).   Sua obra está representada em várias antologias importantes de poesia brasileira contemporânea, no Brasil e no exterior, como Artes e Ofícios da Poesia (organizada por Augusto Massi, 1991), Outras Praias/Other Shores: 13 Poetas Brasileiros Emergentes (organizada por Ricardo Corona, 1998), Esses Poetas (organizada por Heloisa Buarque de Hollanda, 1998), Antologia Comentada da Poesia Brasileira do Século (organizada por Manuel da Costa Pinto, Publifolha, 2006), Na Virada do Século—Poesia de Invenção no Brasil (organizada por Frederico Barbosa e Claudio Daniel, 2002). No exterior, participou das antologias das revistas tse=tsé (Argentina), Poetry Wales (País de Gales), El Poeta y su Trabajo (México) e Cities of Chance: an Anthology of New Poetry from the United States and Brazil (Estados Unidos), Brazil, Lyric, and the Americas, de Charles Perrone, a se publicado em 2009 pela University Press of Florida, entre outras. 

        Solarium foi incluído na lista dos mais importantes livros de poesia brasileiros dos anos 90 pela crítica Flora Süssekind (Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 23/7/2000). Em 2004, o livro foi escolhido pelo Centre National du Livre (CNL), órgão do governo francês, entre os 20 títulos, escolhidos a partir de uma lista de mais de 130, para o Programa de Ajuda Especial em Favor da Literatura Brasileira.

        Curador da primeira exposição abrangente do fotógrafo londrinense Haruo Ohara (Olhares, em 1998), em 2005 foi um dos organizadores e realizadores do primeiro festival literário de Londrina, o Londrix. Em 2007, co-roteirizou Satori Uso, de Rodrigo Grota, filme inspirado em sua obra e no heterônimo japonês inventado pelo autor em 1985. O filme foi vencedor de três prêmios no Festival de Cinema de Gramado.

 

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BRIC A BRAC IV -  Brasília 1990.  Produção executiva Luis Turiba.  Capa Resa Celavi.   23 x 31 cm.    Ex. bibl. Antonio Miranda


 

 

Página ampliada em dezembro de 2020

FORTUNA CRÍTICA (seleção)

 

Rodrigo Garcia Lopes, o Satori Uso,  é um dos mais notáveis poetas paranaenses da safra novíssima. Me impressiona a falta de provincianismo, a abertura cosmopolita, a coragem da informação difícil, o extremo atrevimento desse londrinense, nada indigno do pioneirismo que levantou, naquela terra vermelha, a cidade mais rápida do Brasil.

Paulo Leminski, Correio de Notícias, 16/11/1985

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Não é comum, livro de estréia de poeta tão moço—22 anos—com esta qualidade. Há muito equilíbrio na fatura de todos os poemas, mas a audácia e o risco não foram esquecidos. Audácia e brilho que vamos encontrar, o que é ótimo sinal, nos significados, no modo variado e personalíssimo de ver as coisas.

Armando Freitas Filho, em carta ao autor, 1988

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Depois de ler os poemas de Rodrigo Garcia Lopes, não tenho a menor hesitação em afirmar coisas grandiloqüentes como: ele é um dos melhores poetas surgidos ultimamente neste país.

Caio Fernando Abreu, em Caderno 2, O Estado de S. Paulo, 14/3/1988

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Qualifica as traduções, além disso, o fato de os tradutores Maurício Mendonça e Rodrigo Garcia Lopes, paranaenses de origem, serem dois dos melhores poetas que estão surgindo no panorama. Tradução de poetas, tradução como diálogo criativo e não como ofício profissional.

Regis Bonvicino, sobre Sylvia Plath: Poemas, Folha de São Paulo, 29/3/1992

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Uma poesia em que o movimento de significação espirala e deriva, deixando o próprio ato de transformação da realidade em poesia. Vemos a articulação — a capacidade do poeta de coletar discursos ao seu redor — como princípio de uma poesia que se preocupa em alimentar, dizer.

Maurício Arruda Mendonça, na orelha de Solarium (Iluminuras, 1994)

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Entre o brilho frio de um alfinete e a tenra pele de um pêssego, é necessário admitir que a poesia de Rodrigo Garcia Lopes é, atualmente, uma das melhores produzidas no país. Não é uma questão de exagero, é uma questão de qualidade, de afinação do instrumento da estética poética.

Marcos Losnak, Caderno 2, Folha de Londrina, 15/12/94

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Reunidos assim em partes-com 19 “dioramas”, 27 “polaróides” e 18 “solariuns”- vejo-os como notações sobre o mesmo tema em que, viajante, o poeta parece dizer, já pela linguagem do percurso, que não há mais lugar para “poetas locais” e nem para influências muito bem situadas (e/ou sitiadas). Desterritorializado seja pela movimentação incessante que vai anulando espaços deixados para trás, arte e ofício de todo viajante, seja pela própria confluência geracional que o coloca num mundo onde não há mais lugar para o poeta “épico”, de raízes bem definidas e influências idem [...] não é sem propósito que já no segundo poema com que nos introduz a seus preciosos Dioramas, Rodrigo nos informe: “Como uma paisagem: / uma imagem/ nunca se completa./ É preciso quase tê-la,/ captá-la/ num segundo./ Depois deixá-la/ quieta/ cuidando de si mesma”.

Wilson Bueno, sobre Solarium, Folha de Londrina, 10/11/1995

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Em seu livro anterior, Solarium, o trabalho de Rodrigo Garcia Lopes se marcava sobretudo pelo que se poderia considerar uma enorme e quase desconcertante diversidade. Isto resultava do fato de o poeta praticar uma experimentação possível de ser compreendida em dupla direção. Primeiramente, de modo mais amplo, a experimentação talvez fosse busca de possibilidades bastantes distintas de elaboração dos poemas, de modo a permitir uma exposição do conhecimento e domínio da atividade desenvolvida, fazendo-se então um percurso pelo espectro da linguagem poética à disposição do poeta. A experimentação ainda se dava, em outra direção, de modo mais interno à própria elaboração poética, da construção do artefato poético. O fato é que, entre maiores e menores acertos, fica de Solarium a imagem de um vigor muito especial entre as gerações mais novas, de uma capacidade inventiva não apenas peculiar, mas instigadora. [...] Em termos de gerações, entre salvados das fulgurações (muitas vezes rija) das vanguardas e desordenações (por vezes flácidas) que correram pelas margens, o trabalho de Rodrigo Garcia Lopes propõe-foco efetivamente poético-rearticulações por meio de uma produção que sabe desencadear ânimos e cálculos, com belíssimos resultados.

Julio Castañon Guimarães, em orelha de visibilia (Setteletras, 1997)

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Obrigado pelas suas visibilias, cujo conteúdo faz jus ao título na medida em que torna o invisível visível através deste. Seus poemas são bem amarrados pela rima necessária ou, esta ausente, pela lógica analógica do sentido. Poemas como eu gosto — com começo, meio e fim.

José Paulo Paes, em carta ao autor, 1997

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Visibilia –como o nome denuncia — nasceu com a despretensão de registrar aqueles momentos em que os olhos regem o pensamento; em que a imagem pede a palavra. Sensação no governo da razão. Paisagens e banalidades cotidianas escondem a estranheza, o surpreendente, o apaixonante. E a poesia é quem pode desvelar milagrosamente o extraordinário oculto no ordinário, pervertendo o senso comum, alterando os padrões da sensibilidade. Para enxergar além da conta e sem amarras, Lopes em boa hora soube de novo se fazer forasteiro

José Carlos Fernandes, Caderno G, Gazeta do Povo, 29/11/1997

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A maior parte dos quarenta títulos que compõem visibilia tenta, seguindo à risca a bela epígrafe de Klee, não apenas (re)inventar a natureza, mas também (e sobretudo) tornar visível o seu sentido -ou melhor, reconstruí-lo tão-somente a partir de resíduos de visibilidade ou daquilo que, se mostrando puramente ao olho, melhor se presta (e sem sustos) a despertar o surto da linguagem. Na maioria das vezes em que Rodrigo captura o que o mundo oferece como “coisas vistas uma só vez/nítidas (...) possibilidades de luz”, o ato de ver — tão ingrato de ser recuperado pelo ato de escrever — serve como alavanca para uma empresa de resplandecimento das nuances “naturais” das coisas. À guisa de René Char e Francis Jammes, sua varredura visual privilegia o “amor à terra” com imagens recorrentes de paisagens compostas por ondas, chuvas, brisas, montanhas, dunas e faróis (cf. “Oração à Brisa”, “Pedra, Labor de Espumas”, “O Que Passou” e “MU”-quatro ótimos momentos do livro). Ao fim, visibilia apenas constata que todo poema “é uma ilha ainda por ser escrita” e que toda tentativa do poeta é “como um minuto de silêncio” que o poema reverbera na “pura distância” que o separa do que o atiça.

Jorge Lúcio de Campos, Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 16/11/1997

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Nota-se no estilo de Rodrigo certa influência da Language poetry norte-americana: este apego obsessivo à imagem, mas com uso da metáfora de forma substantiva, quase intransitiva; a utilização de recursos sonoros na decupagem dos versos.

Reynaldo Damazio, Sobre visibilia, revista CULT,  6, 1998.

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Para quem esperava do polêmico poeta londrinense os vôos da “vanguarda” mais desabrida [...] Rodrigo Garcia Lopes impõe-se, desde a mirada/miragem de um estranhamento quase desgarrado, um rol de recusas: ao pós-moderno quase sempre mais pós-modernoso do que “pós” [...]. Para além da superfície chapada das coisas, receito-vos visibilia; para além da retângulo-quadradice da linguagem acadêmico-monográfica que mediocriza qualquer literatura, receito-vos visibilia; para além do crochê miúdo com que o sanatório das letras tupiniquins se cospe e se agulha, receito-vos visibilia. É uma ilha de delicadeza no tédio infinito e na violência explícita com que a “violência” cultural do país de Fernando Henrique Cardoso “hormogeiniza” e anestesia. Época nem um pouco apropriada para audácias de fundo.

Wilson Bueno, Folha de Londrina, 25/10/1998

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Chama a atenção ainda outra tendência, a preocupação com um redimensionamento temporal do poema, que se têm definido na poesia brasileira sobretudo a partir de meados dos anos 80. [...] Lembrem-se, nessa linha, tematizações explícitas recentes dessa preocupação mais acentuada com o tempo lírico. Como a reflexão sobre o caráter de “still moment” da imagem poética, empreendida por Rodrigo Garcia Lopes em “Como Uma Paisagem”.

Flora Sussekind, em “A Série”, A Voz e a Série (SetteLetras, 1998)

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Ele faz uma poesia desabrida, de visões amplas e com uma linguagem solta e que tem relação com a geração beat e com a cultura norte-americana. Há eloqüência sem exageros.

Italo Moriconi, Caderno G, Gazeta do Povo, 16/5/2001

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Rodrigo Garcia Lopes incorporou num repertório de afinidades eletivas a dicção beat, explorando a coloquialidade, a narração e os versos longos, vestígios da poesia oriental, como Bashô e Li T´ai Po, e certas linhas poéticas contemporâneas, do rap das ruas de Nova York à lírica séria de Laura Riding e John Ashbery. Esse diálogo aberto e crítico com outras culturas e a apropriação transformada (miscigenada) de formas nada tem de epigonal ou ingênuo. Trata-se aqui de compartilhar (ou intercambiar) o imaginário, a vivência, as cores e os sons de outras latitudes geográficas ou temporais, numa era onde já não há mais fronteiras. Para uma maior compreensão desse processo, seria  preciso uma análise em profundidade, muito além de certas teses redutoras do multiculturalismo e da teoria dos gêneros, tão em voga hoje em dia, em alguns círculos.

Claudio Daniel, em Na Virada do Século: Poesia de Invenção no Brasil, 2002

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If invoking European intellectual tradition in current contexts of Brazilian lyric is as honest and necessary as ever, the relative interest in American referents and pertinent functions in discourse, as argued throughout here, more often appear more natural.  The lead piece of the intention-laden Polivox (2001) by Rodrigo Garcia Lopes is an extended (116 lines) and multivalent composition.  There are epigraphs from German, French, and USAmerican authors about linguistic dispersions and disruption of systemic continuity.  The poem itself "c:/polivox.doc" (10-15) draws on a surfeit of registers, IT- information technology, including products and Internet, the first word is "On-line." - arts, advertising, news, and proverbial wisdom, paraphrasing or actually quoting from a variety of sources, from mythology and philosophy (e.g. Wittgenstein) to literature and underground film.  Multiplicity is affirmed in a self-defining phrase:  A dança do duende entre a floresta dos signos.  This is symptomatic of turn-of-the-millennium lyric attuned to transtemporal, planetary planes of discourse of lyric or subject to absorption by lyric.  It can be seen as a literary version of the socioanthropological variety of expressive Latin American popular culture posited as "multitemporal heterogeneity" (García Canclini 3).  Visual culture (film and beyond) directs a commodified, mystified society, and, in conclusion:  "Não há como escapar."  How not to admit the implications of massive media presence and the imbrication of languages and nations?  There is no suggestion of celebration here, nor of confrontation; but rather questioning, pondering.  The international frame of reference, finally, is structured by a certain USAmerican prominence- especially mediated culture:  Pound, "Sonho Americano," Madame Yahoo, Dell, matinês americanas- that means, in the long run, transamerican awareness.

Charles Perrone, em revista Chasqui (EUA), 2004

 

Polivox é um experimento investigativo da linguagem, assumindo a vida como a mais agressiva das artes. Ocorre a freqüente mudança de tom, desenvolvendo códigos, estilos e escolas — dos haicais, passando pela poesia medieval e desaguando no barroco. O poema se assemelha a um bazar de idéias, um objeto inconcluso, instável. A página tem as oscilações de um gráfico cardíaco. Os hipertextos captam os ruídos em tempo real. A linguagem é sempre interrompida, cindida por demandas externas e distrações. Qualquer tema pode ser aproveitado pela poesia — essa é a tese, o desafio proposto. "Cada memória esgota-se ao mesmo tempo em que ocorre." Lopes se enraíza na percepção, instaurando um épico da fala contemporânea.

Fabrício Carpinejar, jornal Rascunho, junho de 2003

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Nômada traz versos de forte plasticidade que discutem temas da época contemporânea, marcada pela incerteza, transitoriedade e turbulência. Figura presente em antologias como "Esses Poetas", "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século" e "Na Virada do Século", Rodrigo Garcia Lopes explora o poema como improvisos de jazz, formando textos espontâneos que misturam os sentidos e procuram reproduzir a autenticidade da vivência. Acredita viver "em estado permanente de linguagem". É um escritor das viagens, do deserto, das estradas baldias e das incertezas. Disposto em cinco seções, o livro realiza um diálogo com os principais movimentos literários e vanguardas como a poesia beat e a language poetry.

Fabrício Carpinejar, jornal Rascunho, 2004.

Polivox, degusto aos poucos. Perturbador. Tenho entrado principalmente nos tijolos de textos, as prosas de narrativas supuradas. Artista culto, sem exibicionismo.

João Gilberto Noll, em carta ao autor, 2001

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Talvez o que esteja em crise seja a própria busca do lirismo. Rodrigo enfrenta essa crise com determinação e talento. Se há tropeços, isso se deve à persistência do poeta, que não fugiu do terreno minado. Não é fácil dominar várias vozes, afiná-las todas. Mas esquivar-se da empreitada é permitir que a poesia seja apenas – citando um dos bons poemas de Polivox — sexo, mentiras e, o que é pior, videoteipe.

Nelson de Oliveira, em “O Novo Lirismo Contemporâneo” (O Globo, 19/08/ 2002)

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Rodrigo Garcia Lopes sugere a possibilidade do impulso que presidiu ao nascimento da lírica moderna. Resgate de uma poética das sensações não somente hedonistas, em que se constitui a subjetividade como percurso ao longo do qual se esboçam também um lugar e um tempo coletivos. Resgate do sentido utópico de percorrer os caminhos da natureza e re-encontrar a liberdade para além dos clichês eufóricos da linguagem midiática, mas também dos clichês niilistas da literatura pós-moderna. Resgate do valor político e estético da beleza, pois “ela é tudo que nos resta”, serve de rastro a seguir “para saber o que ainda presta”, pois “o agora agoniza”, mas “o futuro nos completa”.

Célia Pedrosa, em Poesia e Contemporaneidade (2001)

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Parabéns por sua poesia, que li com grande interesse. “Jogos Patrióticos” é irresistível e a tradução de Chris Daniels parece especialmente boa, mas o poema “c:polivox.doc” também é belo. Eu estou feliz de verdade por ver que você está se dando tão bem.

Marjorie Perloff, crítica literária norte-americana, em carta ao autor, 2001

 

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Deu no jornal: "Um suicida detonou nesta segunda-feira um veículo cheio de explosivos, morteiros e mísseis perto da entrada de uma base americana na cidade de Mossul, ao norte do Iraque. O ataque matou três pessoas e deixou outras cinco feridas, informou a militar americana Ângela M. Bowman". Como superar a indignação com essas notícias que chegam do Oriente Médio?
Respondo: com a poesia. Com a poesia de Rodrigo Garcia Lopes, o poeta paranaense que chega agora às livrarias com um novo livro — Nômada (Editora Lamparina, 2004) - onde a temática da guerra, mais especificamente da Guerra do Iraque, é uma constante. Sem panfletarismos datados, a obra é um petardo na poesia de quem aceita passivamente a despreocupação com a linguagem. De quem se conforma com velhas formas e rimas cansadas.

Linaldo Guedes, em Correio das Artes, 30/7/2004

 

Linguagem, espaço, movimento: um fio de luz que se desloca e filtra, na poeira dos dias, fagulhas de cidades, centelhas de deserto, dores alcalinas, na amplitude de um mosaico em que nada parece faltar ou sobrar. Justo, límpido, depurado, o texto de Nômada é indício claro da maturidade poética de seu autor, Rodrigo Garcia Lopes, um dos mais criativos, sensíveis e expressivos nomes do atual panorama literário brasileiro, que já há dez anos (desde a estréia, com Solarium), vem construindo uma obra marcada pelo trinômio inventividade / rigor / leveza, merecendo especial leitura e atenção. Deslocamento de vozes, trânsito de sentidos: eis a chave para a melhor compreensão deste novo livro de Garcia Lopes. Em constante transmigração, a palavra poética de Nômada move-se em uma "galeria de enigmas" e penetra na "história simultânea das coisas" (...).

Beatriz Amaral, em revista Zunái, número 15, maio de 208.

 

Polivox reinventa o mundo, o seu mundo, pelas linguagens. Esteta de instrumentos afiados, Rodrigo Garcia Lopes, distende o tecido-vida, na transitoriedade imposta pelos signos/símbolos da época em que vivemos. Uma premissa, a maior: ser acima de tudo contemporâneo. O poeta não abre mão do seu tempo e a realidade que vive e conhece.

Jairo Batista Pereira, em Zunái, 2001.

 

Empreendida com talento, sensibilidade e rigor pelo poeta Rodrigo Garcia Lopes, a tradução mantém o ritmo original do autor, utiliza com precisão os recursos poéticos de sua oficina literária e, graças à escolha das palavras mais certeiras, adota a linguagem direta e vernacular - que foi a busca do poeta norte-americano, ao longo de sua vida. Oscilando, no ofício da tradução, entre aproximar o leitor do autor (buscando manter-se fiel ao propósito e ao plano do poeta), ou trazer o autor para próximo do leitor (na busca de tornar sua temática e dicção mais contemporâneas, por assim dizer), ainda assim o resultado obtido por Garcia Lopes é de qualidade bastante superior. Por fim destaque-se o ensaio (em mais de um sentido heurístico) sobre a vida, a arte e o ofício de Walt Whitman, assinado por Garcia Lopes, para que a recém-lançada edição de Folhas de Relva já seja considerada um clássico.

Rodolfo Witzig Guttilla, sobre a tradução de Folhas de Relva, em O Estado de São Paulo, 5/2/2006.

 

A presente edição brasileira encara com seriedade os problemas de tradução que sua poesia oferece e a refaz num português tão atraente quanto é a apresentação gráfica deste volume, que — reordenando os poemas como a poeta desejara que os publicassem — inclui também seus manuscritos com as respectivas notas e correções. Num país como o nosso, no qual a poesia estrangeira é traduzida aos tapas ou aos trancos e barrancos, isso, sem dúvida, não é pouco.

Nelson Ascher, sobre a tradução de Ariel, de Sylvia Plath, em Bravo!, novembro de 2007

 

Nômada, de Rodrigo Garcia Lopes, é um livro que procura a unidade através da heterogeneidade, um livro em que (como o título indica) os poemas devem ser visto como "mônadas", como células encerradas em si mesmas, mas que se comunicam entre si, provocando um nomadismo de formas e sentidos. A diversidade de vozes é uma das características marcantes desse poeta que, não por acaso, havia lançado anteriormente dois trabalhos intitulados "Polivox" (um livro de poemas, publicado pela editora Azougue, e um CD em que Garcia Lopes mostra sua faceta de compositor e intérprete). No caso de Nômada, encontramos novamente essa pluralidade: poemas de um lirismo visionário, de inspiração ora surrealista, ora "beatnik"; poemas lineares em que as súbitas torções e as imagens urbanas lembram modulações jazzísticas; poemas em prosa de feição orientalista; palavras em suspensão, em montagens claramente influenciadas pela visualidade concretista.

Manuel da Costa Pinto, sobre Nômada, Folha de São Paulo, 31/7/2004

 

Embora tenha se tornado o poeta mais influenciado por Paulo Leminski da atualidade, Rodrigo conserva em sua poesia um ritmo habitado pelos beats dos anos 60 e pela Language poetry norte-americana, sem abdicar de seu próprio estilo – sendo um dos primeiros poetas brasileiros a estabelecer um contato mais evidente com a cultura norte-americana, o que trouxe um acréscimo à tradição. Solarium, por exemplo, reúne poemas curtos, incisivos, ao estilo de Leminski - entre os quais “Peônias negras” (com sua coleção de haicais) – e outros mais longos, na linha de John Ashbery e de beats como Lawrence Ferlinghetti e Allen Ginsberg. Há, ao mesmo tempo, uma espécie de equilíbrio entre cummings e Bashô, num poema como “Outro outono”, com os versos “céu de nuvem nenhuma / lambe a manhã / derruba folhas / uma por uma”.

André Dick, revista IHU-On Line, Universidade Unisinos, 2009

É pelo menos raro encontrar na poesia brasileira atual una exploração da relação homem-mundo-linguagem como a praticada por Rodrigo Garcia Lopes (1965). Sua linguagem se estabelece no mundo como matéria autoconsciente que não se limita a dizer-se: se dá chance de ir mais além desse saber de si mesmo. Pendular, oscilante entre a notação rápida que capta o instante — o tempo: una obsessão em Garcia Lopes — e o desdobramento reflexivo que alonga a duração e a faz transbordar, sua linguagem parte de um núcleo de irradiação geralmente dado na fala  e conquista márgen que situam o poema em um espaço inédito, imprevisível.

Eduardo Milán, em orelha de Visibilia, 2005

 Outro traço dessa escrita  são seus desvios do verso para a prosa. Por conceber a poesia como um exercício de liberdade no plano da linguagem, o poeta explora os deslocamentos, contrações e expansões dos poemas na página, chegando mesmo a tangenciar, em certos momentos, uma espécie de “grau zero do gênero”, através do qual o texto, recusando os limites de um formato textual, faz-se precisamente da ausência deles. Tudo isso, sem prescindir do rigor e tampouco se furtar ao improviso (no sentido jazzístico) no manejo das palavras. Por essas e outras potencialidades é que Nômada consegue eternizar “o fugaz no grão da linguagem”, confirmando seu autor como um dos poetas mais instigantes/intrigantes do presente.

Maria Esther Maciel,  em orelha de Nômada, 2004

 O leitor que gosta de aprisionar em uma rotulagem a poética de um autor encontrará uma tarefa difícil ao ler Nômada (Editora Lamparina/2004) de Rodrigo Garcia Lopes. Diria que impossível. É que a poesia dele é multifacetada e de uma versatilidade inaudita. Será uma missão impossível colocar o autor nesta ou noutra escola literária. Talvez o melhor a dizer é que o poeta em questão é pós-moderno: no sentido que sua escrita se apropria de diversas máscaras para vestir o poema com a melhor roupagem poética possível. Para cada peça que forma um conjunto harmonioso há um pouco de cada estilo literário. Tudo dentro da modernidade e do verso livre. Do pós-concretismo ao surrealismo.

Rodrigo de Souza Leão, em “Delirismo e Outros Ismos”, revista Zunái, 2004.

Garcia Lopes soube mostrar na quase totalidade dos versos sua tarimba de tradutor, saindo-se bem das armadilhas e tonalidades que Câmara Cascudo dizia intraduzíveis. Sirva a edição comemorativa como incentivo aos nossos editores e tradutores para nos trazerem finalmente um Whitman "complete and unabridged" [completo e sem cortes].

Ivo Barroso, sobre a tradução de Folhas de Relva, de Walt Whitman,, em Folha de S.Paulo,  4/12/2005

 

A qualidade do trabalho de transposição (no livro mencionada como "transcriação") merece ser destacada, tendo em vista a riqueza vocabular, os efeitos guturais, sonoros, dessa poesia que, segundo a própria autora, ganhava intensidade ao ser lida em voz alta.

Ivo Barroso, sobre a tradução de Ariel, de Sylvia Plath, Folha de São Paulo, 20/10/2007

 

 

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Página publicada em janeiro de 2009; ampliada e republicada em novembro de 2009. ampaliada e republicada em dezembro de 2020


 

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