Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://www.aroldomura.com.br/

NILSON MONTEIRO

 

Nascido em Presidente Bernardes (SP), em 26 de outubro de 1951, Monteiro soma mais de quatro décadas de atuação como jornalista, desde que se radicou no Paraná, no final da década de 1970. Trabalhou em diversos veículos de comunicação nacionais, como o jornal O Estado de S. Paulo e a revista Istoé, além de paranaenses, como a RPCTV.

Tem nove livros publicados: “Simples” (poesia); “Curitiba vista por um pé vermelho” (crônicas); “Ferroeste, um novo rumo para o Paraná” (reportagem); “Itaipu, a luz” (reportagem); “Pequena casa de jornal” (crônica); “Madeira de Lei, uma crônica da vida e obra de Miguel Zattar” (biografia); “Pedaços de muita vida – os 122 anos da Associação Comercial do Paraná” (história); “40 anos transformando vidas” (institucional/Sebrae) e Mugido de Trem, pela editora Banquinho, em que narra a saga errática de uma família de sitiantes. É membro da Academia Paranense de Letras.  Fonte:  ww.gazetadopovo.com.br

 

 

101 POETAS PARANAENSES (V. 1 (1844-1959)  antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI.  Seleção de Admir Demarchi.  Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.  404 p. 15X 23 cm.  (Biblioteca Paraná)

 

 

POEMA DA CIDADE

 

Eu te aprendi cidade

teus carregadores de marmitas frias
teus trilhos de estômagos vazios
teu relógio cardíaco
teu templo de potes de ouro
tua barriga de lombrigas
teu fogo gélido
torrando o pão.

 

Eu te conheço e saúdo

a manhã vazando teu pulmão
de ônibus bufando lama e óxidos,
a manhã lavando calçadas
e o sangue que grudou no asfalto e em tua história.
Digo bom dia, com medo da resposta,
e caminho entre conhecidos
caras, casas, árvores,
no meio da praça um lambe-lambe
pede sorrisos para o pássaro ferido.

 

Eu te conheço cidade

 

e sei de teus meninos

fumando e levantando voo.

Sei também de teus patrões

domando dias e noites

escarrando em toda dignidade.

Sou irmão de teus bandidos famintos

de tuas meninas prostitutas

de teus meninos

arrebentando vidraças.

 

Sei teu cheiro

teu cheiro de barracões entupidos de café

de bares ferventes

de bolsos entupidos de dinheiro

de cinturões apertando corpos famintos.

Eu te conheço e sinto todos os poros

te sentirem roxa e visceralmente roxa

por toda a parte. Dentro do cinzeiro

ardendo o calor de tuas noites

vadias

em teus becos

favelas, esquinas e botecos

em tua vida.

 

Sou testemunho, cidade

 

Engraxo meus olhos

com bueiros entupidos

e nos trilhos da estação

repleta de saudade,

uma viola de ternura

sola ao peito nomes de amigos

e a cara triste de roceiros no vai e vem.

 

Eu te conheço cidade maldita e querida cidade

 

Teu chão, tua lei, a lei
dos que não cedem espaço
dos que vendem diariamente,
camelos engravatados.
Seu naco, à revelia e rebeldia
de tua vida

gerada por cafeína a esperma,
pioneiro e cadáver de tuas horas,
a febre que te engravidou,

esta poeira endiabrada,
as tetas desta lama.
Conheço tuas fábricas
que arrotam estrumes
e operários amassados,
sei deles.

Sei de tuas mulheres
que esfregam e espremem
seus salários

e nos acenam mãos vazias.

 

Cidade, cidade,
saúde teus loucos
me dizendo
bom

triste, inflacionado, esperançoso dia,
impresso em manchetes policiais
no embrulho das feiras e verduras.
Não, cidade, não nos deixemos
liquidar em bazares.

Jogo uma moeda
ao fundo do teu lago
e confesso:

só queria te fazer um poema.

 

 

 

LIÇÃO

 

estes dentes de leite

caramujos na barriga inchada

aprende com eles a lição

da cárie doida de sonho

de sonho brinquedo esburacado

 

a vida, lição de pedra,
ave em voo noturno ferida
é difícil dentro e fora da cartilha,
brota dentro e fora da tabuada,
aprende filho.

 

 

O TEMPO

 

O tempo

enfiou-me o cansaço
das bíblias e dos ídolos
sob as retinas.

Cristalizou-me a esperança
e volatizou-me o medo
costurando o amor
e o ódio

no rebanho de luas.

 

O tempo
deu-me filhos
amigos, inimigos,

pessoas que rondaram meu coração

como lobos

como cordeiros

ou ainda como

companheiros.

O tempo negou-me paz e pressa
rabiscou-me rugas e cicatrizes
soprou-me alegrias e tristezas
dependurou-me sobre a vida.


O tempo enxergou-me
espiando pelas lascas das teorias
e metendo o dedo em feridas
encharcadas nos bairros.

 

O tempo
deu-me cabelos brancos
e paciência.
Deu-me
a certeza da dúvida
como motor do mundo.

 

 

Página publicada em junho de 2016


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar