NELSON CAPUCHO
Poeta, jornalista e cronista. Premiado no concurso poesia Hoje, Editora Vertente/ Revista Escrita (São Paulo, 1983), publicou Solta Chama (edição do autor, 1980), Sundae Cogumelo (Editora Cavalo Incendiado, 1983), e Vida Vadia (Editora Pé Vermelho – 1995). Participou das antologias Aos Amigos e Inimigos (Londrina – 1981), Vozes (Londrina-1982), em Família, com Ademir Assunção e Nilson Monteiro (Londrina, 1982) e Feiticeiro Inventor, com Alice Ruiz, Paulo Leminski, Helena Kolody e outros poetas (Editora Criar,Curitiba, 1986). Ganhou o prêmio Paraná de Jornalismo (1985) e o prêmio Volvo de Jornalismo, com a equipe da Editoria Especial da Folha de Londrina (1989). Trabalhou no jornal O Globo, na revista Placar da Editora Abril. Tem poemas musicados e gravados por Madan e Bernardo Pellegrini.
De
Nelson Capucho
HO.MI.NI.MA.LIS
Londrina, PR: Edição do Autor, 2002.
ISBN 85.88338.23.5
o que tivesse tido
não me bastaria
de todo haver
eu jamais seria
como sou das coisas
sem serventia
do pó de estrelas
aspiro o brilho
longe da insensatez
dos dias
GRAMÁGICA
o que o sujeito
enriquece
não é o adjetivo
(só parece)
de palavras
vivi um bocado
pra chegar
ao predicado
juntando letras
(no céu branco
estrelas pretas)
desprezo o jugo
de bancos e caretas
às vezes me perguntam
: e o tempo futuro, poeta?
seguro a barra e respondo
: quando vier, conjugo
MARINHEIRO QUE PARTE
pauto o que posso
: é quase nada
componho navios
de meus destroços
inútil partitura
meus ossos
dos sonhos
restarão rastros?
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O Jorro da Palavra Sangue
1
é maio
e o sol desmaia
no bosque
no ócio
na praia
2
noitou cedo
quem diria
meio rosa
quando prosa
quando pessoa
poesia
meio junkie
meio jeca
meio dândi
meio dark
mamãe vou passear
no parque
da antropofagia
3
ouço um som
como de sinos
na sombra
um cristão carrega
crisântemos clandestinos
4
em meio a tantos anúncios
arrasto o meu cansaço
anuncio o meu silêncio
o menino pede um cigarro
o mendigo pede uns trocados
o vizinho pede socorro
faço de conta
que sou feliz
vou onde aponta
o meu nariz
5
amigos morrem de cirrose
aids, desencanto, overdose
uma menina ainda lê Marx
outra viaja com o enforcado
joni fez desintoxicação
dizem que ficou bom
7
não me xingue
não se zangue
é só o jorro
do meu sangue
8
em algum lugar há foguetório
passo diante de um velório
não conheço quem morreu
mas a cidade muda um pouco
sem o anônimo habitante
(ou anônimo sou eu?)
em local nem tão distante
o médico pelas pernas ergue
o pequeno ser viscoso
a cidade muda um pouco
a cada habitante novo
10
essa história
sei de cor
todo caminho
vai dar no bar
vôo
não existe
sorte azar
não existe
tudo é risco
arrisque
leão de zôo
tem os olhos tristes
Poemas extraídos da ANTOLOGIA DE POETAS LONDRINENSES - 12 – Org. e produção de Christine Vianna. Londrina, Paraná: 2000 - ISBN 124.943-194-105
Página publicada em novembro de 2009, ampliada e republicada em maio de 2010.
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