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MARIO DONADON LEAL
/ Don Leal /
Poeta do Paraná, Brasil
(São João do Caiuá, 3 de agosto de 1963)
É licenciado em Letras (UEM), nas áreas de Língua Portuguesa e respectivas literaturas, artista plástico (pintor, desenhista, escultor) e poeta.
Participou do livro Passagens: antologia de poetas contemporâneos do Paraná (2002), além de ter publicado poemas em diversas revistas. Em 2002 dirigiu o filme Estados alterados e participou do espetáculo homónimo.
101 POETAS PARANAENSES V. 2 (1959-1993) antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI. Seleção de Ademir Demarchi. Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 2014. 398 p. 15X 23 cm. (Biblioteca Paraná) Ex. bibl. Antonio Miranda
MENINOS NEGROS
meninos negros gregários
lá dáfrica ficam magros
em tribos de estribilho amargo
na lavra mastigam pregos
entre acre e crua horda
de pregadores da praga armada
pelos ciclos e ciclos amém
meninos negros gregários
namérica imitam magos
aos gritos nesse trilho anartro
palavras revidam cegos
contra o cricri da choldra
de senadores da praça armada
pelos ciclos e ciclos amém
pelos ciclos e ciclos amém
FRÊMITO
mi'alma dura láctea escorre dante
dentre olho-dágua folheado
a lamber-me o embeber meu
bem infernalmente enfornado
— quenta lava brava a lavar a via
e a língua em prega rubro cálida
molha vulva dalva diva atilada
pterodáctila dentada cava provas
de travas ou trevas ou trovas em se não
e não e não e não
— mais
GENTE
triste e a perdurar na umidade da rua
saí comigo temente do escuro fausto
como para entreter a andantes a nua
e gostosa mulher de um modesto casto
ainda em trajes socavados entrevi
por fresta jamais atravessada de olhos
outro infeliz revisa avaro seu devir
ali a somar parasita os ricos piolhos
quase esqueci deste caipora esmerado
que sou eu mesmo sob meu medo encerrado
ao amar aranhas em frio leito dalém
ao projetar campanhas diletas por bem
dos homens para quem entreguei o sexo pio
a assumir a culpa deles e a do brasil
ALVORADA LÁ NO MURAL
no jardim alvorada
alaranjada rajada de raios
alumia a terra marrom
nos pisos de vermelhão
nas paredes sem mata-juntas
adjunta poeira de eira
é pigmento peneirado
temperado pelo tempo
com lama aglutinante
compondo em ocre da índia
o afresco do preto nobre
é iluminado no seu casebre
todo inscrito em pictogramas
de lembranças angolanas
mas acorda no alvorecer
pega o ônibus vai trabalhar
como pintor na casa branca
do senhor barata
o brahma
AO GROU PÁRIA
aquele olhar de pena
voou
foi pousar nas costas
do grou
vai fazê-lo penar
por grasnar
vai cozê-lo com zelo
até solver-lhe a pena
para depenar
com puta candura
o pária
pernalta no altar
A DIFERENÇA E A NORMAL
não se parecer com o diferente
é o mesmo que seu verso parente
não se diferenciar do semelhante
só parecidos aparecem
e todo aparecido se parece
na aparência dum já ter sido
aparência e repetição
em grande competição
com diferença ou indiferença
a normal descreve o parecido
a normal proscreve o diferente
ser diferente é transparecer
por entre aparentados
aquele ímpar ente à parte
retirado da linha normal
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Página publicada em janeiro de 2021
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