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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


MÁRIO BORTOLOTTO

MÁRIO BORTOLOTTO

 


É dramaturgo, diretor e ator de teatro. Colaborou com os jornais Folha de Londrina, Correio Londrinense e A Notícia, de Joinville-SC, escrevendo sobre cinema, literatura, teatro, música, histórias em quadrinhos e futebol. Produziu e apresentou durante três anos o programa Estação Blues na Rádio Universidade FM de Londrina. Publicou os contos Balada Cruel de Big Gordon e Aquele Olhar Estudado de James Dean nas coletâneas Jovens Contos Eróticos e Contos Jovens, pela editora Brasiliense. Publicou os livros Mamãe não voltou do supermercado (romance policial), Para os Inocentes que Ficaram em Casa (poesia), Seis Peças de Mário Bortollotto e Seis peças de Mário Bortolotto – Volume II. Gravou o CD Cachorros gostam de Bourbon com composições suas. Foi indicado para o prêmio Shell como melhor autor e ator em 1997 e 1998. Atualmente mora em São Paulo.

 

 

Ela Veio da Paraíba com Duas Libras

 

Eu espero pacientemente que ela apareça

com suas tatuagens, seus selos canadenses,

o último cd do Jeff Buckley

sua aliança de noivado

sua sede inextinguível

sua amnésia oportuna

seus pecados mais que mortais

Eu espero que ela permaneça por aqui

com seu silêncio devastador

com frieza lendária

sua dança da chuva

sua fome de groupie

eu espero que ela se movimente pra mim

com seus anéis

seu pescoço animal

seus lábios de gasolina

seus dreadlocks

eu espero que ela gaste todo o seu dinheiro comigo

que me apresente a suas amigas

que me leve pra vê-la dançar

que me transmita suas doenças

Eu espero que ela venha cantando um balada

                                           do Lenny Kravitz

que venha confundindo o tráfego

         com seus truques de malabarismo

            com seu cinismo incompreendido

ela vai pisar com suas sandálias de névoa

em meu coração

ela não vai aparecer

eu a amo

então chamo um táxi e volto pra casa

 

 

Enquanto Ela Range os Dentes

Eu Espero os Fantasmas

 

Os fantasmas bebem comigo quando a lua vem

Eu abro a minha porta todas as noites

Eles aparecem e se apropriam das poltronas

coçam meus pés e bebem meu vinho

Não falam da vida os fantasmas

nem comentam as fotos que guardei

Eu me sinto bem com os fantasmas

Eles apenas gostam de ficar por ali

assoprando nas orelhas do cachorro

o cachorro se acostumou com os fantasmas

já não tira os chinelos das poltronas

percebeu o quanto os fantasmas são

importantes pra mim e o cachorro também

não quer me ver triste e eu sei que de

uns tempos pra cá o cachorro também ficou

dependente deles pois uiva de dia enquanto

eu leio Frost no telhado

o dia passou a ter 72 horas

o dia passou a ter grossos livros de poesia

o dia passou a ter Whitman, Thoreau e Bashô

o dia agora é um osso esquecido no assoalho

o dia agora é uma longa espera da noite

que é quando os fantasmas aparecem

Eu espero já sem muita paciência

não há nenhuma suavidade ou delicadeza em meus gestos

os fantasmas são a melhor companhia pra

quem descobriu que está realmente sozinho.

 

 

Ópera dos Pombos sem Destino

 

Eu moro no sótão onde os pombos morrem

Eu deixo a janela aberta

                   e deixo que eles venham morrer a meus pés

Eles entram voando e me olham

                   com seus olhos tristes de pombo

Como eu posso ser feliz com todos esses pombos mortos

                   abandonados por Deus

Gostava quando eles se chocavam contra o pára-brisa

Pombos desgovernados sempre me fascinaram

Esses pombos com destino certo

eles me deixam com os olhos cheios de lágrimas

vez ou outra um avião passa no céu

e os pombos sonham com lugares nunca visitados

Um dia os pombos desaparecerão

terão voado para algum lugar inatingível

não haverá  mais pombos

e alguém irá contar histórias sobre pombos

os seus cadáveres espalhados no chão do meu sótão

receberão visitas apaixonadas

mas pra mim o que vai ficar

será a lembrança dos pombos na minha caixa de correio

pombos que se recusaram saber o caminho

pombos que Deus há de acolher

pombos dos quais sempre vou me lembrar

ouvindo ópera no sótão

meu sótão de pombos sem destino

 

 

Poemas extraídos da ANTOLOGIA DE POETAS LONDRINENSES  - 12 – Org. e produção de Christine Vianna. Londrina, Paraná: 2000  - ISBN 124.943-194-105

 

Página publicada em novembro de 2009

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