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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LUCI COLLIN

 

É formada em piano (Escola de Música e Belas Artes do Paraná 1980), letras português/inglês (Universidade Federal do Paraná 1989), percussão clássica (Escola de Música e Belas Artes do Paraná 1990). Doutorada em estudos linguísticos e literários em inglês na Universidade de São Paulo (USP-2003). E, pós-doutorado em literatura irlandesa também pela USP (2010). Já lecionou fora do país e atualmente é uma das professoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), lecionando literatura de língua inglesa e tradução literária. Participou de antologias nacionais e internacionais (Alemanha, Argentina, EUA, Uruguai), recebeu prêmios de concursos de literatura no Brasil e nos Estados Unidos. Além de ter sido a escritora brasileira que representou o Projeto Literário no EXPO 2000 em Hannover. O forte da escritora curitibana são os poemas e contos, contendo muita ficção. Alguns de seus textos dramáticos viraram inspiração para autos teatrais, como Acasos Perdidos. Luci Collin possui vários artigos e textos em revistas e jornais do Paraná (Gazeta do Povo, Jornal Rascunho), São Paulo (Caderno de Sábado, Germina Revista Literária), Minas Gerais (Diário Regional). Também traduziu Gary Snyder, Gertrude Stein, E. E. Cummings, Eiléan Ní Chuilleanáin e Jerome Rothenberg, entre outros.

Obras: Estarrecer (1984, editora Astarte); Espelhar (1991, editora SEEC); Esvazio (1991, editora Do Autor); Ondas Azuis (1992, editora Do Autor); Poesia Reunida (1996, editora Alcance); Lição Invisível (1997, editora SEEC); Todo Implicito (1997, editora Alcance); Precioso Impreciso (2001, editora Ciência do Acidente); Inescritos (2004, editora Travessa dos Editores); Vozes num Divertimento (2008,editora Travessa dos Editores); Acasos Pensados (2008, editora Kafka Edições) e Com Que se Pode Jogar (2011, editora Kafka Edições).    Fonte da biografia: wikipedia

"Você tem talento demais e isso será reconhecido, estou certo, mais dia menos dia.

Sem favor, sem delicadeza, sem charme, você é uma Poeta. Com P grande... Foi uma alegria descobrir você ".      Dias Gomes

 

"Estou admirado com o nível técnico desta jovem poeta, nesta geração que pensa que qualquer coisa é poesia".    Paulo Leminski

 

"Descubro em Luci um grande talento. Demonstra notável conhecimento dos processos estilísticos da poesia moderna. Segura firme o pulso dos poemas. É um ponteio o seu canto". Helena Kolody  

 

VIA VERSO. III Concurso Nacional de Poesia.  Ourinhos, Prefeitura Municipal de Ourinhos, Departamento Municipal de Cultura, Biblioteca Municipal Tristão de Athayde, 1995.  98 p.  15 x21 cm.   Coordenação do Projeto:  Marco Aurélio Gomes.  Capa: Dany Eudes Romeira.

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

         Reconteur

velhas histórias em preto e branco
contava em cores

imaginadas noites vermelhas
tardes inteiras azuis e luzes
manhã sonoras — matizes

vaga plateia
— nem sempre aplauso –
acreditava           não entendia
como serpentes viravam flores
como feridas, cicatrizes

reinventava,
sem ser verdade — não mentia

contava em cores

o que fazia

desmascarado
desnecessário

nenhum escuro
sobrevivia

 

 

      *

 

 VEJA E LEIA outros poetas do PARANÁ em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana/parana_index.html

 

Página publicada em junho de 2021

 

 

 

COLLIN, Luci.  A Palavra algo. São Paulo: Editora Iluminuras, 2016.  112 p.  14x19 cm.  Capa Eder Cardoso.         978-85-7321-527-4   Ex. bibl. Antonio Miranda 

“Algo” mais que palavras. Como definiu Karl Popper, as palavras não são as coisas que elas registram. Nos signos pulsa a verdadeira poiesis que Luci Collin cria e dissemina. ANTONIO MIRANDA

 

          DEVERAS

         o poeta finge
         e enquanto isso
         cigarras estouram
         pontes caem
         azaleia claudicam
         édipos ressonam
         vacinas vencem
         a bolsa quebra e
         o poeta finge
         e enquanto isso
         vagalhões explodem
         o pão adoece
         astros desviam-se
         manadas inteiras se perdem
         a noite range
         o vento derruba ninhos e
         o poeta finge
         e enquanto isso
         vozes racham
         veias entopem
         galeões afundam
         medeias abatem crias
         turvam-se as corredeiras
         o sapato aperta e
         o poeta finge
         que as mãos cheias de súbitos
         não são suas

 

         ISSO POSTO

         impecável
         como uma aurora instala um dia
         como o botão abriga a rosa aberta

         implícito
         como a lua define a decisão da vazante
         e como o sol define a indulgêncvia da lua

         infinito
         como o entusiasmo dessa tempestade
         e como o pardal abrange o telheiro

         algo
         como o primeiro olhar da mãe pro filho
         e como o último sorriso de um pai

         como a impressão da palavra
                             algo

              flama na folha de rosto


 

         LANCES

         dado que nos poreja
         cumprir o poema
         sagrar sua sorte
         de verbo em chamas

         dado que nos decanta
         mover o poema
         provar sua forma
         de fusão de rochas

         dado que é sem doutrina
         jogo de emblemas
         ondulação das cortinas
         que tudo a voragem do início
         e os sons feito fosses azes
         estilando
         o âmago desimpedido
               de um esplêndido
                     algo

 

 

         MEUS OITO ANOS

                  
                  
AURORA          DA MINHA         VIDA
                        ORA                                     IDA

 

                   OS ANOS           TRAZEM             AIS                  

        

 

 

FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013.  Organização Ricardo Corona.  Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013.   43 cartões. Obra inconsútil: folhas soltas.  ISBN 978-85-64029-08-8  Ex. bib. Antonio Miranda

 

COLLIN, Luci.  Querer falar.  Rio de Janeiro: 7Letras,  ISBN 978-85-421-0228-4  14,5x21,5 cm.  capa dura.  Col. Bibl. Antonio Miranda

 

PLAY IT, SAM

 

Se não tinha lua

Se nua aquela cena toda

Se não teve flores

Se dores o que irrompeu

Se o vento levou

Até o último tango

Até o último trago

Até a última gota

Se não teve jura

Se você não veio

 

Não tinha

Não teve

Não veio

 

A gente não tem um amor

Pra se sentir triste

 

 

CONSPECTIVO

 

Consagração das ausências

na debandada dos verdes

nos ninhos desabitados

 

Até as visitas rareiam

 

Malogro das sementes

Desarrimo das mudas

Gorada das enxertias

 

Lenha que crepita

Chá e reminiscências

 

Olho pela janela:

 

do limoeiro, a coruja me fita impassível

                    - tem este junho divisado

 

Da paisagem

nenhum ocre que não seja

cumprir-se calmamente

a invernosa razão

dos existentes

 

 

HUPÓNOIA

 

dos restos

eu fiz uma história

fui recolhendo folhas soltas

recuperei desperdícios

e fiz um rascunho brotar

 

dos risos

eu fiz uma história

fui recompondo esquecidos

rebatizei luz e escuros

e fiz a memória transbordar

 

de avessos

da minha aventura

vim segredar os contornos

expor silêncios que supuram

eu vim aos poucos confessar

: eu fiz a escolha dos loucos

fazendo valer da fala os ecos

no cumprimento das juras

eu fiz uma noite

voltar

 

 

COLLIN, Luci.  Trato de silêncios.  Rio de Janeiro: 7Letras, 2012.   86 p.  14x21 cm. capa dura      ISBN 978-85-421-0001-3  Col. A.M. 

 

ORA

 

Com aquele amor eu rascunhei eternidades

Plantei e colhi tresvarios

Ouvi os risos orvalhando

E então admiti todos os blefes

 

Com o outro eu rastreei recônditos

Comi e dormi sobre o linho

Ouvi as auroras partindo

E então reconheci os entretantos

 

Com este rebatizei absolutos

(Encontro das frases no estrelo)

E um indivisível se biparte

E aquilo não miscível se conjuga

 

A maçã que não se devia agora já foi

 

 

ESPÉCIE

 

vestido e tempo na caixa

só o relógio compreendeu o rigor dos pactos

as plantas do vaso não

o pó sobre os móveis não

as botas num canto não

 

e tudo fora de moda

vincos e adamascados

falar em silêncio

esperar pela conjuntura

regar imutáveis

 

acreditar naquele telefonema

é quase servir conhaque a fantasmas

 

até as escadas mentem

até o gelo no copo

a lâmina de rematado aço

deixa vazar árido murmúrio

 

rostos quedarão desconhecidos

depois de um tempo o entrevisto se firma

 

na lixeira a presença dura dos papéis rasgados

e por dentro um infinito de exclamações

 

 

COLLIN, Luci.  Todo implícito.   Porto Alegre: Alcance, 1997.  80 p.  14x21 cm.  Capa: Claudio Santana.  Col. A.M. 

 

O que conta

 

    na vida sabedoria

(que o contrário se prove)

    é sem qualquer teoria

         tirar dez

         naquela prova

                         dos nove

 

 

Atenuante

 

entre as mentiras que invento

e aquelas que os sábios ensinam

as minhas

 

                 — preto no branco —

                são brancas 

                                     mentiras

         que, dando sorte,

                                   inda rimam

 

 

Dessa forma

 

as palavras são flamas

milhas talvez

veios

 

um apelo denso

este assim imenso

que enfim se faz

escutar

 

contando a história dos dias

este exercício semelha

a trajetória do pêndulo

cumprindo a eterna aventura

de impresumível desfecho

 

                                      ora inicio

                                      ora meio

                                    ora extremo

 

COLLIN, Luci.  Esvazio.  Curitiba: Edição de autor, 1881.   Capa: Daulos Bittencourt.  s.p.  15,5x21 cm.  Col. A.M.  (EA)

 

SAIDAENTRADA

 

         o CÓTTCO de um NAR ciso

o URO de um 0X1 gênio

 o CESSO de um AB sinto

  o BÓLICO de um PARA íso

   o GASMO de uma OR questra

    o FÓR1CO de um META físico

     o ÁVER de um CAD ostro

      o ÓDIA de um PAR oxismo

       o RAPO de um FAR sante

        o BELDE de um RE banho

         o AUSTO de um EX pediente

          o TÁSTICO de um FAN toche

           o TÁCULO de uma TEN dência

            o FADO de um EN genho

             o RÂNICO de um Tl nhoso

 

            a DADE de um UNI córnio

 

 

ONÍMODO

 

dentro de mim

alguma coisa mais do que pulsa

dança

mais do que arde

ferve

mais do que soa

freme

 

mais do que muito

— completamente

mais do que às vezes

— sempre

 

insurge

bem mais do que sugere

 

sente

 

tanta coisa

desta alguma coisa

 

que nos maravilhe

sentir

 

          — sem encobrir coisa alguma

 

 

COLLIN, LuciEspelhar.  Curitiba: SEEC, 1990.   80 p.  ilus.  (Série Textos Agora)  15x21 cm.  Projeto gráfico: Teresa Cristina Monecelli. Editoração: Regina Benitez. Capa e ilustrações fora do texto: Vera Andrion.  Col. A.M. (EE) 

 

LOAS

 

               os pássaros

          que cantam á noite

peludos           e         obscuros

              são serenos
vadios           e           ¡nocentes
             em sua lógica

             peluda e obscura

 

com ela vigiam a noite

mensuram a noite

regem

dominam

 

                    louvam

 

no escuro

cantar

o escuro

 

                              não bem com salmos

                              mas com gritos


COLLIN, Luci.  Estarrecer. 2ª. edição.  Curitiba: Edição de autor,  1991.  s.p.  15x21 cm.  Capa: Daulos Bittencout.   Col. A.M.  (EA)

 

 

PASSADO A LIMPO

 

despregar

num lance definitivo

a máscara grudada ao rosto

 

retirar

a trava que nos encobre

o pálido vero da pele

quase que nos delindo

a estampa real do siso

(preço que enfim se paga

pelo emprestar-nos

                              o sorriso)

 

demover

o sarro a borra o limo o véu

mesmo que se revele

as manchas de umidade

no rosto deixado ao tempo

os rombos dos estilhaços

na estampa de papel fino

 

devassar

o falso da face e as suas vozes

 

o que sobrar é a verdade

 

mesmo que ali

as cicatrizes

 

 

- DE MEU CANTO -

 

Não fabrico o pranto            

  e não pranteio

      o ponto

que angario/que trabalho

      e não encontro

                           pronto.

 

Não chamo por chamas

      que vislumbro

sem grandes esforços;

           — Sereias cederam-me encanto,

                    e dele não morro;

                    apenas viverei

                                    em meu canto.

 

     Canto para o sempre

          e ainda

             depois dele;

                ajudo sereias

                       em seus cânticos.

 

                Entoo palavras belas

                          — verdadeiras.

                Da miséria,

                     lindos os desenhos,

                          se da verdade...

 

      Mas,   

             não tenho recursos

               que outros

                 deste curso caudaloso

                   em que me espio.

 

             Perdoem-me incisivos erros;

 

                Aceitem um meu desvario.

 

 

 

- NOÇÃO -


não foi

          para ficar

deitado

          que te puseram

no mundo

 

não foi

          para ficar

no mundo

              que te fizeram

          deitado

 

puseram-te

                 inteiro

no me io

            de meio

            mundo

 

fizeram-te

               meio

no meio

            do mundo

            inteiro

 

  no fundo

     não foi no mundo

     onde te fizeram

 

                         foi apenas

                           onde a mão

                         deitou-se

 

                                        em pé

                                          no chão

 

 

 

Antonio Miranda e Luci Collin na livraria do museu dedicado ao Surrealismo Português, em Vila Nova do Famalicão, Portugal, durante as RAIAS POÉTICAS 2013.


OFICINA – cadernos de poesia  29.   Rio de Janeiro: OFICINA Editores, 2001.  108 p.     23 cm.    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                INSONDÁVEL

            
da pedra e da dor
             qualquer palavra redunda
                                  portanto silêncio

             qualquer palavra
             mesmo a mais funda
             apenas orbita
             roça
             apenas circunda
            
             nada se diga da escuridão
             da pedra e da dor

                    facada
                    flor

                — sede das ervas daninhas —

             vozes subtraídas
             à mercê do tempo

                                       rolando no verde os dados
                                                   ecoam

                                         segredos não serenados

 

*


Página ampliada e republicada em novembro de 2022

 

Página publicada em dezembro de 2013; ampliada e republicada em abril de 2014. Ampliada em janeiro de 2017..


 

 

 

 
 
 
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