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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HAMILTON FARIA

 

Hamilton José Barreto de Faria nasceu em Curitiba, Paraná.  Em 1983, publicou Emoções, seu primeiro livro. Foi um dos fundadores da Editora Cooperativa dos Escritores (ECE), importante na publicação de poetas dos anos 70.

Hamilton Faria publicou oito livros de poemas e participou de vinte antologias, no Brasil e no exterior. Publica desde 1976 por várias editoras e em jornais, revistas impressas e eletrônicas, sites e outras publicações de grande circulação no país. Participou de recitais, lançamentos e palestras em feiras de livro, universidades, fóruns internacionais de cultura, centros culturais e em espaços públicos ( praças e ruas). Em 2011, publicou o seu primeiro livro digital intitulado MinimoImenso. Em 2012, publicará Memória de Frutos pela Escrituras Editora. Recebeu prêmios por trabalhos literários e culturais.

 

Veja também os HAICAIS de Hamilton Faria...

 

 

ODEÁGUAS

ao Rio Negro

 

Águas de onde

O céu se esconde

Por trás dos montes

Nas tuas telas

 

Desenho nelas

Um mar de águas

Que se evapora

No lá de longe

 

Onde não há

Hoje ou ontem

Águas que montes

Cavalgam horizontes ?

 

E onde o sol

Se põe contente

Dizendo adeus

Ao dia errante

 

Águas pra onde

Me levas sempre

Nem sei se nasces

Ou morres onde

 

Sei só que trazes

O que não há

O que não finda

O que não diz –

 

Dirá ainda?

Águas me levas

Algum lugar

E o que me trazes

 

Não sei o que

Será quando

Águas de úberes

Vaca sagrada

 

Bebe-se nelas

O doce leite

Do riomar

Que galga o céu

 

Como prece o altar

Ó rio que fonte

Te pariu onde ?

Rio voraz

 

Que não és mar

Se tudo tomas e

Te apraz ?

Que não és mar

 

Tu que não tens

Sonhos de fonte

Ou inocente córrego

Sem horizonte ?

 

Que nasceste

E a morte não virá

Te visitar

Soma das águas !

Que sonham

A

Mar

 

 

FARIA, HamiltonCidades do ser.   São Paulo: Masso Ohno Editor,  1988.  93 p  16x21 cm.  Ilus.  Capa e ilustrações de Fernando Fernandes. Tiragem de 100 exs. 

 

O SER O VOO

Nenhum ser é plenamente voo
se não sabe da magia da terra
ou totalmente luz
se o escurecer lhe cega
Todo horizonte é terrível
se o voo nega
                    o passo elementar

Logo     sigo     quase    pássaro

 

PÊNDULO

Ora    um insetozinho bastardo preso à tênue eia de cristal
Ora    um anjo etéreo ensinando infinito às latitudes

Sempre    a procura na inquieta densidade do diamante.

 

ANIMUS ANIMA

                   
A Paulo Sá Brito

Quanto chorei ao tê-la
chorar é a mutação da pedra em estrela

E tanto mais ao perde-la
chorar é ser perdedor na perda

Rasguei a seda revelei belezas
ao me fazer mais inteiro na incerteza

 

 

CASA DOS OMAGUÁS

 

www.poetahamiltonfaria.org.br

 

 

 

Apresentação

 

 

No mês de julho, em visita à Polônia, tive a oportunidade e a dádiva de apreciar a beleza desse país e conhecer melhor  o  sofrimento de seu povo. Visitei Auschwitz, chaga, mancha, cicatriz de uma civilização enlouquecida.  Em homenagem à Polônia, aos que sofreram no campo de concentração e à poetisa Wislawa  Szymborska, realizamos (alguns andarilhos) a  leitura de um poema da poetisa em várias línguas, no portão de Auschiwtz-Birkenau. 

 

Hamilton Faria

 

 

 

 

 

Polska

 

                                                “Não sei o papel que desempenho.

                                                  Só sei que é meu, impermutável”.

  

                                                   Wislawa Szymborska

 

O CÃO POLACO

 

O cão polaco abana o rabo

Sem saber de nada

O que se passou em Varsóvia

 

De pólvora

lágrimas

muros

                                                

- o General Inferno –

 

Sem saber da flor da Pomerânia

Sem saber  – “é melhor morrer

De vodka do que de tédio”-

Sem saber

Pátrias esfumam-se

Nos mapas

O cão polaco

quietude

Da Wierzba placzaca

Olha-nos –

em compaixão

 

O Vístula vestido de noiva

Sem saber que a memória

                                       Queima 

 

 

 

 

A CAMINHO DE TORUN

 

Noturna a chuva no Vístula

E calmo espreita a cidade

Que logo águas em fuga

Correm montanhas estrelas

Outras e outras cidades

De onde o rio se escapa

- verdes escuros espantos –

No mais silêncio de relva

E tanto imensa-se em mar

 

 

 

 

 

 

EM WISLAWA SZYMBORSKA

                                                    ( Conversa conversos – de Wislawa Szymborska )

 

 

E assim componho aos pedaços

A quem se destina o teu puro traço

 

Por falta de eternidade

Bato à porta da pedra .

Esquecem-se de que isso não é a vida.

É a guerra, você tem que escolher.

Tua aldeia ainda existe?

Talvez  o tempo de piscar de uma galáxia pequenina !

O ressuscitar dos mortos das cenas de batalha.

A incorrigível disposição de amanhã começar de novo.

Ao cair do telhado desço de manso na relva.

Me desculpe o tempo pelo tanto de mundo ignorado por segundo.

É concebível que meus olhos estivessem abertos.

Era para se chegar à primavera e à felicidade.

Nada mudou, além do curso dos rios.

A relva cobriu as causas e os efeitos.

Porque afinal cada começo é só continuação.

 

Wislawa – perdão  -

Te vou compondo de teus pedaços

Como quem anseia o inteiro traço.

 

 

 

                                                                                                

NA PORTA DE AUSCHWITZ

 

                                             ( com a respiração suspensa)

O vento toca sem cordas

Fina música da existência

Um sopro em Auschwitz

De tão delicado:  quase oração

De joelhos sussurra :

- Entre, A casa é sua !

 

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DOZE HAIKUAZES

 

Quase inverno

O ventre da mulher -

Lua crescente

 

Esgoto o verbo

Só o silencio

Me liberta

 

Caminhada noturna

Como um velho mestre

A lua ensina a cidade

 

Caminhada noturna

A lua olha a cidade

Com superioridade

 

Ninguém merece

Os anos maduram

A xícara não obedece

 

Por melhor que seja

A ração e o sono

Não invejo o cão

 

O besouro

Tão pequenino - eu ele

Tamanho destino

 

Beleza tem patas

A vida busca sentidos

No terno olhar da vaca

 

Retrato do abandono

Cansado de domingos

O cão sem dono

 

O som da água

Entre as pedras:

Barulho que a vida precisa

 

Concluo - breve e silente

O que mostrei do amor

Foi o instante

 

(Hamilton Faria, inéditos, abril 2013)

 

 

 

FARIA, Hamilton.  MínimoIMENSO.  São Paulo: Instituto Cultural Casa Omaguás, 2013.  96 p.  (Coleção POTLATCH pelo reencantamento do mundo)  10x15 cm.  Design visual e fotos: Marilda Donatelli.  ISBN 978-85-67639-00-0  “ Hamilton Faria “ Ex. na bibl. Antonio Miranda.

 

Alegria triste
Tudo morre
E ainda existe

 

Converso com a rã
Há na loucura
Alguma coisa sã

 

Jardim inatingível
Brotar de três linhas
A flor do que digo

 

Ora, vê se não insiste!
O futuro é agora
O amanhã não existe

 

Aqui o meio do caminho
Nessa viagem vou comigo
Quero nunca andar sozinho

 

 

FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013.  Organização Ricardo Corona.  Curitiba, PR:          Fundação Cultural de Curitiba, 2013.   43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil.  ISBN 978-85-64029-08-8  Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem,  Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger. 

 

 

Página publicada em março de 2012; ampliada e republicada em agostso 2012; AMPLIADA E REPUBLICADA EM MAIO 2013. Ampliada e republicada em setembro de 2014. ampliada em dezembro de 2016.

 

 

 
 
 
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