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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SIMBOLISMO – POETAS SIMBOLISTAS

 

EUCLIDES BANDEIRA

 

 

Um dos patronos do Centro Paranaense de Letras — ao lado de Emiliano Perneta, e só isso bastaria para mostrar a alta consideração que merece na sua terra natal — é Euclides Bandeira. Nascido em Curitiba, em 22 de novembro de 1877, Euclides

da Mota Bandeira e Silva cursou a Escola Militar da Praia Vermelha, da qual foi desligado por motivo da sedição de 1895. Fez-se então jornalista em seu Estado, e colaborou nas várias revistas do simbolismo paranaense. Euclides Bandeira faleceu em Curitiba, no ano de 1948.

 

Dele assegurava Emiliano Perneta, em 1903, que fazia "o verso de hoje, com esse vago olor de simbolismo, com esse rebuscamento.raro e torturante, com essa loucura de perfeição inatingível"...

 

BIBLIOGRAFIA DO AUTOR

 

Heréticos, Curitiba, 1901; Ditirambos (com pseudônimo), Curitiba, 1901;

Velhas Páginas, Curitiba, 1903; Versos Piegas (com pseudônimo), Curitiba,

1903; Ouropéis, Curitiba, 1906, e Prediletos (poesias escolhidas), Curitiba, Tip.

da liscola de A. Artilïccs, 1940.

 

PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS, in  POESIA SIMBOLISTA Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1965, p.311-312.

 

 

 

PREDILETO

 

É o tipo que me encanta, o louro. De relance

Nos enche de ouro fluido as pupilas surpresas...

Não Esse, para aflar as emoções burguesas,

Que anêmico flavesce idílios em romance.

 

É o flamante, o galhardos.. O louro de proezas

Ruivas ao sol, chispando áscuas, raios, nuance,

Que eletriza e que cega! O louro, enfim, que avance

Ao superno fulgor de pupilas acesas!

 

Freme-se ao vê-lo; há nervo, há vibração, há francas

Aleluias de luz! — labaredas de sândalo

A se evolar... No azul umas volutas brancas...

 

— Por tudo isso eu o quero e por ser tão escol

O ouro que te esplendora, ó Rúbia! ó flor de escândalo!

Ainda me tremem na alma umas réstias de sol...

 

 

AUSÊNCIA

 

Recresce, arpoante e funda, a saudade cruel.

Corri ela foi meu sol, partiu minha risada!

Cada dia que passa é uma gota de fel

que se me infiltra na alma e a põe envenenada.

 

Mais larga a ausência, mais a lembrança dourada

resplandece, espertando emoções em tropel:

o riso, o gesto, a voz; boca a boca soldada,

os seus beijos febris que eram de fogo e mel...

 

Claro perfil de luz, louro encanto irradiando

o revérbero astral de flavescente véu

que dourava o meu sonho e o verso decadente.

 

Onde estás? interrogo. E a mágoa cresce quando

sinto tudo em silêncio em torno. .. O próprio céu

misterioso e azul, como os olhos da Ausente...

 

 

 

SONETOS V.2.  Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d    p. 151-302. 16,5 x 11 cm.  ilus. col.  Editor Edson Guedes de Moraes.  Inclui poetas brasileiros e de outras nacionalidades. Edição artesanal, tiragem limitada. 
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

               
MAL ÍNTIMO

       Rútilo e claro, como o céu de Maio.
Nas risonhas estiagens fugidias,
Surge-me sempre o seu perfil e eu calo
Na mais intensa das melancolias.

        O Passado... Oh! Saudade, estranho raio
De luz jaspeando sepulturas frias...
E eu abro-as todas, trêmulo, e desmaio
Vendo-as cheias de pó, quase vazias!

        Nada mais! Ambições, quimeras, crenças.
Versos floridos sob o olhar daquela
Chamada, outrora, imperatriz regente...

        Cinzas... cinzas... oh que tristeza imensa
Entra-me n´alma se enovela
— Em ninho, ao abandono, uma serpente!

 

       
SÁBADO

       No azul, pela manhã, como encantada bolha
flutuou, alvissareira, uma nota de festa.
Agora, ao pôr do sol— flor à sombra da folha—
Desabrochou enfim a alentadora sesta.

        Em descanso o pincel, a pena, o alvião, a trolha...
Tem tréguas o Labor; o struggle esmaga: resta
Novas forças haurir:— que o Homem se recolha
Ao mosteiro feliz dessa preguiça honesta...

        E por isso és tão belo, ó umbral do Desencanto!
Ó sábado de sol, maravilhoso, ó manso
Arco-íris recurvo ao poente da semana!

        És tu, ó dia azul de risos e noivados,
Do mosteiro o limiar, os pórticos dourados,
Por onde entra a gemer toda a canseira humana!

 

       

        EÓLIA

       Às vezes, quando estou muito alegre, escancaro
Plenamente a alma ao Sol, às Emoções, à Rima.
E os sonhos nela, então, vêm se aninhar num claro
E festo revoar de aves pela vindima.

        Entram fazendo um ruído estranhamente raro
De plumas a ruflar pizzicatos de primo,
Piano, dolce... crescendo...após forte, e reparo
N´harpa eólia, afinal, que vibra lá por cima!

        Um encanto! Um delírio!... E que doce algazarra
De arrulhos e de arrufos e de espanejamentos
A dos sonhos ideais — flavos pombos torcazes!

        Ah! mas não mais escuto essa orquestra bizarra:
Alucina-me e vejo, em meus deslumbramentos.
Viva Aquela que dorme à sombra doslilases...

 

 

Página publicada em setembro de 2009; ampliada em dezembro de 2019

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