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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PARNASIANISMO / POETAS PARNASIANOS
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Fonte: Wikipedia

 

EMILIO DE MENEZES

(1866-1918)

 

 

Emílio Nunes Correia de Meneses nasceu em Curitiba, Paraná. Jornalista e poeta, foi eleito para a Academia brasileira de Letras mas faleceu antes de tomar posse. . Escreveu sonetos e poemas satíricos tão mordazes que o comparavam a Gregório de Mattos. Considerado boêmio e excêntrico para os padrões da época.

 

Obras publicadas: Marcha fúnebre - sonetos – 1892; Poemas da morte -1901; Dies irae - A tragédia de Aquidabã – 1906; Poesias – 1909; Últimas rimas – 1917; Mortalha - Os deuses em ceroulas - reunião de artigos, org. Mendes Fradique – 1924; Obras reunidas – 1980.

 

 

TEXTOS EN ITALIANO

 

 

 

MENEZES, Emilio de.  Poesias.  Rio de Janeiro: Editores Francisco Alves & Ca., 1909.  104 p.  12x17 cm. 

 

 

NOITE DE INSÔNIA

 

Este leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,

Onde este grande amor floriu, sincero e justo,

E unimos, ambos nós, o peito contra o peito.

Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;

 

Este leito que aí está revolto assim, desfeito,

Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto.

Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito.

Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...

 

Louco e só! Desvairado! A noite vai sem termo

E, estendendo, lá fora, as sombras augurais.

Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.

 

E mal julgas talvez, quando, acaso, te vais,

Quanto me punge e corta o coração enfermo,

Este horrível temor de que não voltes mais!...

 

 

(Poesias, 1909.)

 

 

NOITE DE INSÔNIA

 

Este leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,

Onde este grande amor floriu, sincero e justo,

E unimos, ambos nós, o peito contra o peito.

Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;

 

Este leito que aí está revolto assim, desfeito,

Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto.

Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito.

Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...

 

Louco e só! Desvairado! A noite vai sem termo

E, estendendo, lá fora, as sombras augurais.

Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.

 

E mal julgas talvez, quando, acaso, te vais,

Quanto me punge e corta o coração enfermo,

Este horrível temor de que não voltes mais!...

 

 

(Poesias, 1909.)

 

 

A CHEGADA

 

Noite de chuva tétrica e pressaga.

Da natureza ao íntimo recesso

Gritos de augúrio vão, praga por praga,

Cortando a treva e o matagal espesso.

 

Montes e vales, que a torrente alaga,

Venço e à alimária o incerto passo apresso.

Da última estrela à réstia Ínfima e vaga

Ínvios caminhos, trêmulo, atravesso.

 

Tudo me envolve em tenebroso cerco

— D' alma a vida me foge, sonho a sonho,

E a esperança de vê-Ia quase perco.

 

Mas numa volta, súbito, da estrada

Surge, em auréola, o seu perfil risonho,

Ao clarão da varanda iluminada!

 

 

(Poesias, 1909.)

 

 

TARDE NA PRAIA

 

A Leal de Sousa

 

Quando, à primeira vez, lhe via grandeza,

Foi nos tempos da longe meninice.

E quedei-me à mudez de quem sentisse

A alma de 'pasmos e terrores presa.

 

Depois, na mocidade, a olhá-lo, disse:

É moço o mar na força e na beleza!

Mas, ao dia apagado e à noite acesa,

Hoje o sinto entre as brumas da velhice.

 

Distanciado de escarpas e barrancos,

Vejo-o a morrer-me aos pés, calmo, ao abrigo

Das grandes fúrias e os hostis arrancos.

 

E ao contemplá-lo assim, tristonho digo,

Vendo-lhe, à espuma, os meus cabelos brancos:

O velho mar envelheceu comigo!

 

 

Últimas Rimas (1916)

 

 

ENVELHECENDO

 

A Luís Murat

 

Tomba às vezes meu ser. De tropeço a tropeço,

Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.

É o abismo e eu não sei se cresço ou se decresço,

À proporção do mal, do bem à proporção.

 

Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,

Unidos, estro e pulso, ambos fogem ao chão

E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço.

E não sei onde o mal e o bem me levarão.

 

Fim, qual deles será? Qual deles é começo?

Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?

Por qual deles ventura ou castigo mereço?

 

Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,

Do bem que sempre fiz, nunca busquei o preço,

Do mal que nunca fiz, sofro a condenação.

 

 

Últimas Rimas (1916)

 

 

MENEZES, Emilio de.  Obra Reunida   Rio de Janeiro, RJ: Livraria José Olympio Editora; Curitiba, PR: Secretaria da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná, 1980.  474 p.  16x23 cm.  “ Emílio de Menezes “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

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Emilio de Menezes – poesia humorística – poesia satírica

  

Alto, gordo, ventrudo, com restos grisalhos de cabeleira romântica, cujas falripas lhe escorriam para a testa, a dupla papada a cobrir-lhe o colarinho baixo, em pontas, chapelão de abas largas, EMILIO DE MENEZES, a cabeça baixa, cofiando os biqódes gauleses, os olhos semi-cerrados, improvisava epitáfios. Muitos não podem ser aqui reproduzidos por pertencerem ao gênero fescenino. São talvez os mais engraçados e, evidentemente, os mais perversos. Comecemos pelo auto-epitáfio, ligeiramente modificado, pro-pudor:

 

Morreu em tal quebradeira,
que não pôde entrar no céu,
pois
levou: cabeleira,
BANHAS, bigóde e chapéu.

 

 

      Frequentava as rodas de boemia o guarda-livros M. B. _ belo tipo, dado a conquistas amorosas, Como sói acontecer a D. Juans e Casanovas, de vez em quando as suas conquistas tinham epílogo tragi-cômico de umas bengalas do Meneláu ciumento.

 M. B. fazia-se também notar pelas orelhas de asinina grandeza. A sua última conquista custára-lhe tremenda tunda de páu. Quando, depois de uma semana de repouso, M. B. reapareceu na roda, recebeu-o EMILIO com êste epitáfio:  

Morreu depois de uma sova;
e, como não tinha campa,
de uma orelha fez a cova
e da outra fez a tampa.

 

O do dr. Rego Barros, Diretor da S. A. du Gaz:  

Êste, que os vermes consomem,
foi um sujeiio de truz,

pois, apesar de muito homem,
toda a noite dava a luz.

 

Como Gastão da Cunha que dizia preferir perder um amigo. a perder a oportunidade de uma deliciosa perversidade EMILIO também não poupava os de sua roda, quando a perversidade podia causar sucesso. Sabendo que um fôra apontado como sedutor de uma enteada, o epigramista, envenenando o caso, improvisou:  

Êste: foi dos mais completos
Sem nunca sair d
os trilhos;
pois foi pai dos próprios netos!
Foi avô dos próprios filhos!

 

Tempo houve em que o advogado e político Pinto da Rocha usava uns bigódes imensos só comparáveis aos do seu colega Quintino do Vale. Imortalizou-os EMILIO nesta graciosa quintilha:  

Pinto da Rocha, se acódes
a ver o nascer da aurora,
saem bigódes, saem bigódes,

e tú, ó Pinto, não pódcs
 pôr a cabeça de fóra  

   A imprensa noticiou que a Sra . Pepa Ruiz e o sr. Pupo de Morais andavam em negociações para o arrendamento do Mercado Público desta capital. Não tardou o comentário do gordanchudo boêmio:  

Parece pêta, a Pepa aporta à praça
e pede ao
Pupo que lhe passe o apito.
Pula do palco e, 1Jálida, perpassa

                   por entre um porco, um pato e um periquito, 

Após, papando, em pé, pudim com passa,
depois de páios, pombos e palmito,
precípite, por entre
a populaça,

passa, picando a ponta de um palito,  

Peças compostas por um poeta pulha,
que a palpalvos perplexos
empulha,
prestando apenas pra apanhar os páios...

 

Permuta a Pepa por pastéis, pamonha... _ Que a Pepa apupe o Pupo e à pôpa ponha
papas, pipas, pepinos, papagáios!

 

 

      Vítima habitual de EMÍLIO DE MENEZES era o Hemetério, professor de português da Escola Normal, grande autoridade  em assuntos filológicos e preto como a noite escura. Quando o nomearam Diretor do Pedagogium, fez-lhe EMILIO o seguinte engraçado soneto:  

 

- Neto de Obá, do principe africano,
não faz congadas, corta no maxixe.
Herbert Spencer de ébano e de guano

é um Froebel de "nankin" ou azeviche. 

No Pedagogium, onde é soberano, diz:
“ Q
ue comigo a crítica se lixe!
Sou o
mais completo pedagôgo urbano,
Pestalozzi genial, pintado a pixe”.
 

Major, fez da côr preta a côr reúna,
Na vasta escala da ornitologia,

se águia não é não é também graúna,  

Um amador de pássaros diria:
Êsse Hemetério é o pássaro turuna ―
é o VIRA-BOSTA da pedagogia...
 

  Outra perfídia com o excelente velho professor preto, autor da Pretidão do Amor, é um modêlo de sátira e de perfeição parnasiana:  

O preto não ensina só gramática
é, pelo menos, o que o mundo diz;
entende de dinâmica, de estática,

e em outras cousas mais mete o nariz. 

Dizem que quando ensina matemática,
o sinal de "maios b", de "igual a x;"

em vez de em louza, com prazer e prática,
sôbre a palma da mão escreve a giz.

 

Uma aluna dizia: - "Êste Hemetério
vai
 fazendo do ensino um grosso angú
com que empanturra todo o magistério".

 

É um felizardo, o príncipe zulú:
quando manda um parente ao cemitérlo,
toma
um luto barato: fica nú.

 

 

     Temido em vida pelas suas sátiras ferinas, não foi EMILIO DE MENEZES poupado pelos inimigos, mesmo depois de morto. À falta de cousa piór. chamaram-no de alcoolatra. Nada mais falso, EMILIO teria sido, quando muito, um clcoófilo. Gostava de beber, apreciava os bons vinhos e lícôres.
Mas nunca bebia além de sua conta, a ponto de perder o juizo, Jamais o viram embriagado. Tinha, mesmo, um pitoresco
slogan que aplicava constantemente como advertência aos amigos que se esborrachavam: "Beber é um prazer;
saber beber, uma virtude; embriagar-se, uma infâmia". Organicamente bem construido, de admirável resistência física, não era facilmente acessivel
à intoxicação alcoólica, Mas bebia em público. Homens com a sua projeção vivem debaixo de constante fiscalização alheia. Podia êle estar tomando o seu
primeiro
whisky, porém, para quem o via, o copo à frente,à mesa da Colombo, aquele era o quinto ou o décimo"...

 

    Mas o que ressaltava na personalidade marcante do grande satirista e notavel poela, era a bohomia. Sempre muito bem humorado, sem uma palavra de revolta nos lábios .

 

Bastos Tigre, no dia seguinte ao da morte do querido e pranteado amigo, escreveu êste soneto:

 

Poeta amigo, alcançaste a estância derradeira.
Passaste. E todos nós, vendo-te em teu caixão,

indagamos: E a Musa? e a Musagalhofeira?

E a satírica? E a séria? E a triste? Onde é que estão?

 

Nenhum apareceu à tua cabeceira.

Mas não os condeneis, pulcro espírito, não!

Fujiram por te ver da negra cóva à beira,

sem te poder valer, sem te dar salvação.

 

E morreste alma bôa, alma pura, descança

neste sabes-lo tú misterioso lugar

em que o “ Nada” final sôbre o “ Tudo” se lança.

 

E eu me fico a sorrir tristemente, a pensar,

que é mais "uma do Emílio"... a animar a esperança
de que vives ainda e que estás a brincar...

 

 

 

TEXTOS EN ITALIANO

 

Extraído de

MIRAGLIA, TolentinoPiccola Antologia poetica brasiliana.  Versioni.  São Paulo: Livraria Nobel, 1955.  164 p.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

L’ANUNZIAZIONE

Tra la gente modesta, esistenza prosaica,
Lontano dal gran lusso e vivendo distante
Dal babilonio fasto e la pompa caldaica,
Nulla le puo turbar l'angelico sembiante;

La tradizione dice e la leggenda arcaica
— E il Vangelo ne dà la voce concordante —
Fioriva il miglior fior delia razza giudaica,
Un lótus ideal d'aroma penetrante.

Vive calma e felice. E si concentra il bene
Nell’aver, nel suo Dio, la suprema allegria,
Che il sogno le profuma e le calma le pene.

"Madre di Dio sarai" — La dolce profezia
La spaventa, e alio sguardo estranea luce viene.
— Era il primo guardar degli occhi di Maria !

 

LETTERA INTIMA

Questo sonetto, amor, fatto, a cuore sereno,
Ti possa dire quel che la voce non dice.
Perche l’affetto eccede il linguaggio terreno
Ed io non sò parlar, se ti vedo infelice.

Se tutto non ti va, per caso, allegro e ameno,
Tu non ascolti me, senti quel che non lice,
Da quelli che vorrian sempre colpici appieno
E farei ognor curvar umile le cervice.

Tu che fosti, che sei e che sarai, per certo,
Quella che lungi sta dagl'interessi suoi,
Resti, lontan da me, in quel momento incerto !

Devi saper, però, che, quando sol mi vuoi,
La própria folia mi è lo squallido deserto,
Perchè il mondo non sei, non son io : siamo noi !

 

Ampliada e republicada em janeiro de 2016.



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