CRISTINA GEBRAN
Nasceu em Curitiba, Paraná, em 1956. Foi criada no Rio de Janeiro. Regressou à cidade natal, onde leciona inglês. É autora dos livros Blasphemias (1984), Tácito turno (1994) e Alma Gene (2004).
Parte de mi
em teu pelo
roça o cansaço mudo
e suspiro
o cansaço mundo
Beijo como um vampiro
surpreso e insatisfeito
o teu feito
parte de mim
e o céu trovoa
enquanto minha mão relâmpago
à tua face voa
Oculta
noturna
loucura
deste ser desfeito
deste céu desfeito
Meu infinito é todo esse pedaço de vida
que você me tomou e eu nunca recuperei
na sessão de achados e perdidos.
Continuei por aí sendo achada e perdida.
Mas um pedaço de amor ficou nos seus olhos,
Distante como o oceano que nos separa
E a criança que não tive..
Hoje
por acaso
escutando uma canção do passado
percebi que minha dor
atingira
a maioridade.
Textos extraídos de POESIA SEMPRE, Ano 13, n. 20, março 2005. (Publicação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro) p. 98-100
GEBRAN, Cristina. Alma geme. Rio de Janeiro: TOPBOOKS, 2004. 119 p. 16x22.5 cm. Capa: Miriam Lerner. Prefácio: Silviano Santiago. ISBN 978-85-7474-088-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
"A poesia intimista e estouvada de Cristina Gebran carreia consigo práticas múltiplas de desnudamento. Desnuda-mente do mundo (isto é, das coisas), desnudamento dos seres humanos.
É preciso, no entanto, que se compreenda uma meia-verdade que muitíssimos outros poetas vendem como verdade. A raiz do desnudamento - o poema - não expressa apenas um movimento de introspecção, em que a paisagem interior do poeta, até então virgem de palavras, se desvela e se revela. Quero dizer que, diante dos poemas de Cristina, o leitor não deve cair numa armadilha que foi armada pela tradição autobenevolente da poesia intimista.
O movimento de introspecção que a poesia de Cristina carreia consigo não pode e não deve ser entendido pelo leitor como um mero adentrar-se do poeta pela vida íntima e solitária, a fim de que o que é secreto seja revelado. A paisagem interior é povoada por mil e um seres: "A solidão faz caber em mim/ tantas pessoas desiguais/ que me transformo em intermináveis / mosaicos, a alma em caleidoscópio"." SILVIANO SANTIAGO
"Perturbador testemunho de vida, a poesia de Cristina Gebran é uma forma íntima de conhecimento, mas é também um caminho, onde a esperança é pânico, que ela percorre sempre de olhos escancarado, em busca de algo que o vendaval levou". THIAGO DE MELLO
Quando inquieta
quieto
Quando debando
bando
Quando te olho
marejo.
Tenho saudade
de um tano
que nem tento
discernir
do que tenho
saudade
É falta
de minha vida
pedaços
retalhos
que formam
a colcha
de hoje
onde sonolenta
me enrolo
coberta
de memórias.
O esgarçar
do amor
me agrada
mais
que o cerzir
pequenos buracos
agulha
risada, choro
gozo rasgado
entrega
do incontido
que nem
me cabe.
Cala a boca
tua fala entranha
todos os orifícios
e parte
elo partido
Cala a boca
teu dito
me estranha
pelo ruído
Parto evitando
teu canto cínico
de sereia
que já afundou
meu navio.
A vida é apenas beira de estrada.
BRIC A BRAC IV - Brasília 1990. Produção executiva Luis Turiba. Capa Resa Celavi. 23 x 31 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
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Página publicada em maio de 2008 - Página ampliada em outubro de 2017;
Página ampliada e republicada em dezembro de 2020
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