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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

CESAR BOND

 

1956- 2006

 

Jornalista, redator publicitário e escritor.
Publicou, entre outros, Esses homens tão chapéus (poemas, 1980) e As mulheres são todas (poemas, 1984).

 

 

 

101 POETAS PARANAENSES (V. 1 (1844-1959)  antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI.  Seleção de Admir Demarchi.  Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.  404 p. 15X 23 cm.  (Biblioteca Paraná)    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

 

PRETA NO BRANCO

 

Pranto pranto canto pronto

mais um poema outro tanto de nada ponto

parada

 

Outra vez o pranto tranco no olho branco

e canto na lágrima água e sal

branco

 

Pronto mas sem tronco sem perna me lanço

avanço um pouco no espaço

pronto

 

Porque sou só sou braço e caço na cabeça

uma palavra larva borboleta

preta

 

Para preencher um pouco o espaço branco
e o papel com um poema feito aos poucos
aos prantos

aos pretos da tinta pinta sinal ponto
final

 

 

 

 

ANDAR

 

Não gostava de ver o pai
ajoelhado no chão da igreja.
Não gostava de ver o pai
sentado na ponta da mesa.
Não gostava de ver o pai de frente.

 

Gostava de olhar suas costas
quando estava nervoso
na frente da janela.

 

 

 

 

O SEGUNDO

 

O avô na cadeira de rodas.

Uma das mãos imobilizada.

A baba escorre no canto da boca

e pinga no pijama branco.

Pinga no pijama branco.

O relógio grande, na cabeceira da mesa,

bate uma, duas, três vezes.

Três horas e quarenta e cinco minutos.

Na cozinha a empregada surda e muda está coando café.

No bico do bule, um pequeno pássaro cor-de-rosa, de  porcelana.

O pássaro impede que o café pingue na toalha branca.

Pingue na toalha branca. Pingue. A baba, a papa.

Um cachorro, peludo e amarelo, entra na sala.

O avô bate com o pé no chão.

A empregada solta um grunhido, o cachorro corre.

O cachorro tem que sair para não sujar o tapete verde da sala.

Para não sujar.

A baba escorre do canto da boca e pinga no pijama branco.

Pinga no pijama branco.

Três horas e quarenta e sete minutos.

Mais treze minutos e o relógio vai bater uma, duas, três, quatro                                                                                        vezes.
Hora de dar remédios ao avô.

Depois, um café morno, leite e pedaços bem pequenos de pão. Bem pequenos.

 

 

 

 

NAS TRIPAS

 

Às cinco horas o céu estará cor-de-rosa.

Um amigo diz isso às minhas costas, com absurda certeza.

Fico olhando o céu, cinza, por alguns instantes.

Por alguns instantes delicados e quebradiços ficamos

olhando o céu por alguns instantes.

E de repente uma ponte. Um fio.

Uma mulher, talvez, enovelada em nossas tripas.

E então estamos sérios. Quietos e talvez tristes.

Voltaremos a rir às cinco horas da tarde.

 

 

 

 

PASSAGEIRO

 

É uma manhã simples.

Um mundo foi construído.

Me obrigam a decifrá-lo.

Escavo palavras, fórmulas, flâmulas e larvas.

A máquina.

Táxis passam. Foram chamados às pressas.
Alguém morreu.

Estico o braço. Um livro está a meu alcance.

Nele, um verso de Pasolini.

Reinvento mal. Foda-se.

"A dor pode expressar

nestes doloridos anos

o nosso pudor.

Herdar a angústia e a alegria:

porque é necessário ser louco para ser claro".

E uma manhã simples.

 

 

 

 

CRONOLOGIA DE UMA DÍVIDA

 

Nasce em 1956. Cai do berço, uma, duas, dez vezes cem.
Aos seis anos é abraçado por um tio tido como louco: foi o
primeiro carinho que recebeu na vida. Aos dez, já assobia
à luz do dia. Aos dezessete, ama pela primeira vez, e para
esta mulher doa as córneas. Aos vinte e três estranha o
próprio sexo, se recusa a pagar a conta de um amigo e tenta
esquecer para sempre o profundo afeto dado por aquele tio
tido como louco. Em 1978, foge para a cidade de Antonina,
onde pela primeira vez vê uma réplica do quadro "Judite
Cortando a Cabeça de Holofernes", de Caravaggio, nascido
em 1571. Caravaggio perde a mãe aos dezenove anos, e por
ter perdido a mãe, compra um menino. Aos vinte e seis
anos, se recusa a aceitar que perdeu uma aposta, briga e
acaba matando Ranuccio Tommasoni, seu maior amor e seu

maior adversário. Foge para Nápoles. Em 1978, na cidade
de Antonina, depois de ver pela primeira vez a réplica de
"Judite...", de Caravaggio, ama ninguém e para ninguém doa
todos os seus órgãos. Aos quarenta e seis, distraidamente
assobiando em plena luz do dia, é assassinado por engano
por um estranho, a quem doa a vida. E se vê livre de
qualquer dívida e de toda a cronologia.

 

 

 

 

 

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Página publicada em dezembro de 2020

 


 

 

 
 
 
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