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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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CARLOS DALA STELLA

 

Curitiba, 1961) é artista visual e autor, entre outros, de dor de vaga-lumes (poemas, 1998), Riachuelo, 266 (cronicas, 2000) e Bicicletas de Montreal (desenhos e fotos, 2002). Poeta-pintor nascido em Santa Felicidade, no sul do Brasil, onde mora e trabalha atualmente.

https://plus.google.com/112852051776325253962

 

101 POETAS PARANAENSES (V. 2  (1959-1993)  antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI.  Seleção de Ademir Demarchi.  Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.  398 p. 15X 23 cm.  (Biblioteca Paraná) Ex. bibl. Antonio Miranda

 

escuridão terrificante
antecedia a manhã

mas acolhedora
o canto dos galos

latidos perdidos
na noite, silêncio

o temporal descabelando
os eucaliptos

no fogão a lenha
estalidos secos

o corpo na cama
capaz de prazer, casca

de cigarra, seca

no palanque da cerca

 

*

 

no balcão frigorífico, o peixe-
poema desperdiça olhar fixo

sutis flutuações da mente
atraem moscas sobre o vidro

azulejos brancos na parede
não redimem os frutos do mar

 

imune à trama das redes

a água continua seu percurso

mesmo mãos hábeis, lâminas
evocam vírgulas perdidas

impossível sobreviver fora d'água
longe do oceano imposto

o olho aberto do peixe-poema
fixa a agonia de apodrecer

a água contém seu curso
mudo discurso como nenhum

 

 

 

COMO OS CHINESES 

Escrevo meus quadros.
Às vezes nem é o quadro que me interessa
mas a pipa em que ele se transformou
— vermelha, com sua longa rabiola
chicoteando o azul.

Quando sinto nos dedos
a tensão do fio, o vento das alturas
atuando sobre a estrutura de paina e seda,
reconheço espantado que o voo do quadro
nasce em mim
mas não sei para onde me leva.

 

*

 

quantas vezes chora minha
mão / enquanto desenho / cho
ra / pelo menino iraquiano / fe
rido na explosão de um carr
o-bomba / chora por meu irm
ão / atingido na cabeça por um
a membrana preta / chora por
tantos eus / que não virão à luz
do carvão / confinados que est
ão / aos vãos, aos vales, à es
curidão // toco, com o prolong
amento / calcinado dos dedo
s / onde os olhos não, onde / n
em o veio negro da inspiração

 

Página publicada em abril de 2016

 

 


 

 

 
 
 
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