Arte de Inês Sarmet
sobre foto da orelha de
A SAGA DOS CRISTÃOS-NOVOS NA PARAÍBA
ZILMA FERREIRA PINTO
ZILMA FERREIRA PINTO nasceu em Tacima-PB. Muito jovem, ingressou por concursono magistério, missão que exerceu não só na sua cidade natal como em Alagoa Grande, Pocinhos, Cabedelo e João Pessoa, cidade onde atualmente reside. Ainda criança compôs seus primeiros versos. Iniciou-se nas letras paraibanas com o “Cancioneiro Experencial, em 1987. Sua obra tem sido reconhecida, tendo obtido alguns prêmios entres os quais o “Prêmio novos autores paraibanos”. Seja na categoria poesia, como na conto infanto-juvenil (A história da pedra maliciosa, 1977 ) como na cordel (O romance de Ferdinando e Maria, UFPB,1998), ou em concursos de trovas e poesias, vem recebendo também vários prêmios. Com o livro Isabel, nossa princesa, também recebeu o Prêmio Nacional de Poesia -1999 da Academia Friburguense de Letras. Transitando entre a arte literária e os estudos de história e genealogia, publicou também, entre outros, Nas pegadas de São Tomé, um estudo dos símbolos da pedra do Ingá: características judaicas, cristãs e islâmicas das inscrições (Senado Federal, 1994), Os Ferreira de Tacima: paraibanos da fronteira (RIGRAFIC Editora Ltda, ,2000) e A saga dos cristãos-novos na Paraíba ( Idéia Editora, 2006). Licenciada em História pela UFPB, integra os quadros da Academia Paraibana de Poesia (cadeira n° 15), da União Brasileira de Trovadores - seção Paraíba, da Associação Paraibana de Imprensa e do Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica (IPGH).
" A autora entra em cena com o texto “Meus amigos" para, num apelo fraterno à força universal, dizer do pólo psicodinâmico de que se nutre a sua poesia... O que é a Poesia, não sei - frase com que ela chega à sua identificação poética. Ela não saberá o que é a poesia ... mas sabe construí-la, melhor auto-construir-se poeta sob a formade textos como as décimas, oitavas, sextilhas, quintilhas ou quadras, liricamente brincadas nos mais variados ritmos ou metros... A nótula, porém, mais significativa recai no poder congeminativo com que Zilmase evade ou se aerifica nas asas da alucinação emocional... Ora,é uma alucinação cósmica... Ora, uma alucinação estilo medieval... Eis as razões de saudarmos em Zilma Ferreira Pinto o seu poder excepcional de congeminar, exigência inevitável paratrilhar os areais matinais da criatividade poética".
ANTÔNIO SOARES, professor e crítico literário, sobre CANCIONEIRO EXPERENCIAL
“ A saga dos cristãos-novos na Paraíba” teve seu embrião num trabalho apresentado pela professora Zilma no Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica. O livro resultou de uma longa e paciente pesquisa, e bem cuidada elaboração. Apresenta-se como um valioso contributo à historiografia paraibana.”
ADAUTO RAMOS, presidente do IPGH
“ Costurar estes fragmentos, dar-lhes uma inteligibilidade, não deve ter sido fácil. Mas a autora o fez, tecendo a teia de uma presença humana sempre cercada de muitos mistérios e curiosidade: a dos cristãos-novos, desde as perseguições por eles sofridas em Portugal, aos primórdios e ao longo da colonização portuguesa no Brasil, especificando e caracterizando os judeus em sua complexa-dúplice relação com o cristianismo, suas práticas e tradições, muitas das quais ainda persistem no interior nordestino”.
ROSA MARIA GODOY SILVEIRA, no prefácio de A SAGA DOS CRISTÃOS-NOVOS NA PARAÍBA
Minha Cantiga
No castelo do Destino
Dividi-me por igual.
Ficaram duas meninas
No meio de um roseiral.
Uma bordando a ouro,
Outra o mais fino metal.
Uma transpôs a soleira
Que era a porta pra o mar.
Tomou o barco da vida,
Partiu sem querer sonhar.
A outra subiu à torre
Que ia dar nas estrelas
No barco da meia-lua
Foi para a mais longe delas...
Um dia encontro as meninas
Bem longe do roseiral
Nelas havia a tristeza
Dividida por igual.
Nenhuma bordava a ouro,
Nem o mais fino metal.
Fui escolher! Não sabia
Com qual das duas ficar!?
Castelos já não havia
E a torre para sonhar.
.Sem manto bordado a ouro;
Sem palmatória de rei!
Ai! Minhas pobres meninas
Qual de vós escolherei?!
Do CANCIONEIRO EXPERIENCIAL (1987)
Rondó
Vem, meu belo navegante!
Vem ancorar no meu porto.
Faz renascer exultante
Um coração que está morto.
Faz-me outra vez radiante
Este olhar hoje absorto
À espera de um barco errante
De onde me vem o conforto.
Dos oceanos que viste
Traz-me a cantiga que existe
No arrojo de cada onda.
Traz as canções que ouviste
E faz o meu riso triste
O sorriso de Gioconda.
Mulher
Perguntas-me quem sou? Sou a beleza.
Sou a forma ideal da natureza.
Da razão sou a luz.
Sou o porto onde o náufrago descansa.
Sou Pandora guardando a esperança.
Sou a Virgem chorando ao pé da cruz.
Sou a Ciência - o livro que ensina
Sou a lâmpada que os lares ilumina
E a flor dos gineceus.
Mas, acima do que sou enaltecida,
Sou o seio nutriz gerando a vida
E a mais pura criação das mãos de Deus.
Sou acalanto, a mão que embala o berço.
Sou a mais lírica expressão de um verso...
Sou Aspásia e Éster...
Sou mistério nas coisas mais secretas...
Sou a musa de todos os poetas!
Sou deusa. Sou encanto. Sou Mulher!
A canção de uma dama que espera
Eu vou assentar-me à porta
Ver meu cavaleiro chegar.
O seu cavalo é mais branco do que as nuvens mais brancas,
Seu capacete do oiro mais precioso da terra.
Ele está vestido de azul!...
A sua espada reluz como chorões de prata
Ela conduz à Ordem e edifica o Progresso
O meu cavaleiro tem o olhar da águia
E galopa como vento.
Eu vou assentar-me à porta
Ver meu cavaleiro chegar.
Seu brado tem a ressonância de muitos gritos de guerra
O meu cavaleiro é como o leão quando parte pra luta;
Tem o saber das corujas
E o coração do poeta.
Conduz o Auriverde na ponta de sua lança!...
Ai! quando o meu cavaleiro chegar!...
Ele me guardará os meus afamados tesouros;
Achará o pão dos meus filhos
E bem estar para todos.
Dobrará a injustiça.
Eu vou assentar-me à porta
Ver meu cavaleiro chegar...
Do CANCIONEIRO EXPERIENCIAL (1987).
Foto de Inês Sarmet:
escritores Donaldo Mello e Zilma Ferreira Pinto na Academia Paraibana de Poesia, abril 2006
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