WALDIR PEDROSA AMORIM
( - 2017)
Causou profunda comoção na sociedade paraibana e na sociedade pernambucana a notícia da morte do médico gastroenterologista Waldir Pedrosa de Amorim, que suicidou-se, pulando de um edifício no Cabo Branco, em João Pessoa, onde residia. Considerado um dos mais conceituados e abalizados especialistas em gastro, casado e pai de filhos recém-formados em Medicina, Waldir Pedrosa era natural de Pernambuco mas atuou como professor adjunto de gastroenterologia na Universidade Federal da Paraíba, bem como na pesquisa, incentivo e especialização em hematologia. Pessoas próximas ao médico revelaram que ele se encontrava em quadro depressivo. A notícia foi divulgada pela colunista Hélia Botelho em seu site na internet, destacando o pesar de segmentos da sociedade com o infausto acontecimento.
Waldir Pedrosa de Amorim deixou, também, livros de poesia publicados, versando sobre a vida e o amor, com títulos como “O Avesso da Pele”, bem como “Poemas e Solilóquios”. A família não divulgou maiores informações ou esclarecimentos a respeito da morte de Waldir Pedrosa, mas várias pessoas que conviveram com ele externaram condolências em manifestações nas redes sociais, destacando a sua abnegação e dedicação ao sacerdócio da medicina, bem como ao aprofundamento de pesquisas na especialidade a que se dedicava.
Nonato Guedes
AMORIM, Waldir Pedrosa. Amor que sai do casulo. Poemas. João Pessoa, PB: Autor Associado, 2003. 164 p. 15 x 21 cm. Patrocínio:
Universidade Federal da Paraíba. Editora Universitária. Ex. bibl. Antonio Miranda - Exemplar do livro gentilmente cedido por Lau Siqueira.
APRENDIZADO
Tempo atado,
mundos muitos,
multidão.
Nó no vácuo.
Tempo sozinho.
Réstia
em tempos tantos.
Compilação sintonizada.
Tempo mudo, ouvinte, vidente,
táctil,
olfativo tempo.
Incursão de quem lambisca
o tempo onipresente,
ou belisca a onisciência.
Tempo competente
que expurga:
arrogância, preconceito,
vaidade...
Erige entendimento.
Sustém o incerto devenir.
TEMPOS MODERNOS
Homem deste tempo,
sucumbi.
Agônico,
antipatizo metas,
prospecções, planos, cartas de navegação.
Aculturei-me.
Assimilei a lentidão e cadência
dos deliciosos mistérios,
desvencilhei-me da apressada agonia.
Erigi um tempo sem urgência,
que me metamorfoseia
em metrônomo
de um movimento pausado,
lento, vagaroso,
síncrono com o regato,
a fonte,
o tempo do desfolhar, do germinar, do fenecer...
REFLEXÃO
Quem se esquece
de si,
como deve ser chamado?
Um abjeto.
Um louco.
Um visionário.
Um poeta.
Um inadequado?
Ou
um aprendiz
apaixonado...
pela farra
de perceber
nas entranhas
que a vida
nada mais é
que um urgente poema
onipotente
compulsivo
e apaixonado?
PELO MUNDO
Pelo mundo
não posso fazer mais que o ofício mundano.
Eco, gota, silêncio.
MAR DE NOVEMBRO
Verde esmeralda, verde caldo de cana, translúcido,
acontece o mar novembrino;
ontem, turvo
eriçado
água com rapadura...
ANGÚSTIA SOCIAL
Tecelagem baldada
inane
sem susto
incapaz
da lágrima.
Nunca
imune ao vislumbre
da arte não aclimatada
e da poesia.
ONDE ERRADO?
Onde errado,
entre o sol e a terra gasta?
Monstros humanos
dominam a natureza?
Empregam novos epítetos
para fantasiar velhas mazelas?
A voracidade e a tirania ensandecida
os fazem tratar o mundo
como seus brinquedos?
— Compará-los às feras, não seria denegri-las?
Homúnculos,
adquiriram competência
e covardia,
para se superarem
em vilania.
Página publicada em julho de 2019
|