VANILDO BRITO
Naturalidade: Monteiro – PB
Ano de Nascimento: 1937 / Falecimento 22 de julho 2008.
Atividades artístico-culturais: Filósofo, poeta e escritor.
Atividades exercício – profissional: Professor de Filosofia aposentado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Foi Diretor do suplemento literário do jornal A União.
Obras literárias: O poema dramático A serpente alada (1960). Organizou e publicou a obra A Construção dos Mitos (1960), republicado em 1982, com alguns acréscimos, participou da antologia "Novos contos paraibanos" (1976), editou Memorial Poético (1985), publicou Duplo Sinal das Horas, e Cantigas de Amor para Inalda (1987), A Sagração do Emblema e o Livro das Paisagens (1998), e Poesia Selecta Carmina.
O poeta Vanildo Brito nasceu no município de Monteiro, nos Cariris Velhos, e começou a escrever suas poesias muito cedo por volta do ano de 1955, e recordava com muito orgulho e apreço: "Desde menino sempre tive interesse pela poesia. Eu lia na biblioteca do meu pai Guedes Monteiro e Antero de Quental. Sempre gostei muito de poesias portuguesas. Curiosamente eu fui ler Augusto dos Anjos muito tempo depois, como meus 22 para 23 anos de idade. Os poetas do meu início eram chamados de mestres. Eu gosto de dizer que eram mestres e hoje são meus irmãos".
Vanildo Brito era poliglota (Português, Inglês, francês, italiano, e um pouco de Alemão, Esperanto, e Interlíngua). Ele veio a falecer no dia 22 de julho de 2008, aos 71 anos de idade, após lutar contra um câncer. (...) Fonte: http://www.paraibacriativa.com.br
Com uma grandeza de espírito ele escreveu "Memorial Poético" (1958/1985), a obra metrifica perfeitamente sua visão sobre o exílio, e metamorfoseia no poema "Metamorphoseon", uma fábula que se desfaz, e volta sobre o mar ensanguentado e embriagado entre as luzes das estrelas.
A Raça-Mãe e suas geometrias
Já sepultas estão. Porto sem caís,
o Planeta contempla as suas luas
sulcando o sulco amargo dos canais.
A Raça-Mãe rumina o seu degredo.
Aquém no tempo, naves ancoradas —
Syrtis Major, Calixto, Ganimedes —
ó memória nas rotas orbitada!
Agora a Raça-Mãe ante os humanos:
o milenar e repetido encontro.
Há um gosto de tempo e olhos bebendo
o céu violeta, os gelos e as montanhas.
Como cinza estrelar na imensa tarde
a morte em Marte seus desertos arde.
De A Construção dos Mitos
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia. ANO 4 – NÚMERO 7 – JULHO 1996. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 1996. Ex. bibl. Antonio Miranda
Metamorphoseon
A fábula desfeita se refaz
no encontro das memórias redivivas;
volta o verde das chuvas, volta o aroma
vegetal das espigas.
Por sobre o mar a lua ensanguentada
aderna lenta como nave bêbeda;
já se lhe pode ver a luz mastreada
entre a luz das estrelas.
Aquém a Terra obscura e imensurável
tecendo as teias do seu próprio passo;
nascem formas e vozes no silêncio
do luminoso espaço.
A fábula refeita se desfaz
nas pedras turvas desse cais salobre;
vai-se a lua de sangue, naufragada
sobre as líquidas flores.
Das praias dessas ilhas encantadas
eu não mais partirei em torno ao vento;
contemplo a luza da sempiterna Face
renovada no tempo.
Aligerum mare
O nauta despe-se das âncoras, despede-se
do imóvel cais, a voz dos ventos pressagia.
Não teme as marés de sizígia
inflando os líquidos canais. O leme
inventa-lhe os caminhos.
Pelagus patet, dixit. E se parte
para o espaço do grande mar aberto
aos sonhos. Nos seus olhos as bússola certa,
alertas carata de remotas rotas.
No coração as velas da
lesta navegação. A nave plange
seus madeiros. Aquém as rocas
roídas de salsugem.
Lento, o silêncio doura
o dorso alígero da tarde.
O sol, fruto maduro, arde
seu rastro na pele do tempo.
A viagem revela o seu rosto
curtido pelo sol da febre marinheira.
E as ilhas se revelam no navego
da quilha, sobre o azul do fundo pélago.
Mui brancas, as gaivotas gritam
seu canto gaio
Página publicada em janeiro de 2018
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