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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SILVINO OLAVO CÂNDIDO MARTINS DA COSTA

 

(Silvino Olavo)

 

Nasceu na vila de Esperança, no ano de 1896, filho de Manuel Joaquim Cúndido Maria e Josefa Martins da Costa.

Fez o curso primário em Esperança e o secundário e superior na capital da República (na época, Rio de Janeiro), onde se formou em direito pela Faculdade do Rio de Janeiro, em 1928. Neste mesmo ano voltou à Paraíba, onde fez a campanha política em prol de João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, tendo sido depois seu oficial de gabinete.

Deixou os seguintes livros de versos: "Sombra Iluminada" — Rio, 1927; ' Cisnes" — Rio, 1924. Em prosa: "Estética do Direito" — Rio, 1924; "Esperança — lírio verde da Borborema" — Paraíba, 1925; "Cordialidade, estudo literário, a série — Nova Iorque — 1927. (Nota: Atacado de esquizofrenia, vive há muitos anos recolhido na Colônia Juliano Morera, na captal da Paraíba, onde decerto terminará a sua triste vida).

Falecimento: 26 de outubro 1969 Campina Grande-PB.

 

PINTO, Luiz.  Coletânea de poetas paraibanos.  Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.    155 p.   16.5 x24 cm    Ex .bibl.  Antonio Miranda

 

 

O MEU PALHAÇO

 

Meu coração é um mísero acrobata,
Um palhaço sarcástico de arena:
Gargalha sempre, de feição serena,
Contrafazendo a mágoa  que  o maltrata.

Enquanto em riso a multidão desata,
Às piruetas desse clown em cena,
Ninguém descobre, na aparência amena,
A tragédia recôndita que o mata.

Mas eu me vingo desse pouco siso,
Ao paradoxo do meu próprio riso;
Porque a tragédia deste riso insano,

Que me remorde e que ninguém ausculta,
É irmão gémeo da tragédia oculta
Que existe em todo coração humano.

 

 

 

RENÚNCIA

 

Lançado nos caminhos desta vida,
a minha rota, por desertos e ermo,
sem amável pousada nem guarida,
vou completando sem saber o termo.

 

Caminheiro sem fé, de alma exaurida,

órfão de afeto, o coração enfermo,

de tal maneira empederniu na lida,

que hoje, ninguém consegue comover-mo.

 

Depois de tanto anseio insatisfeito
será melhor ser pedra; que, talvez,
em tal renúncia, se lhe abrande a sorte.

 

Resta-lhe só trancar-se no meu peito,

fiel ao dó da sua viuvez,

para os sinistros esponsais da Morte.

 

 

 

INSCRIÇÃO


Meu corpo é sombra... Sombra e pó... Mais nada!
Minh'alma é sombra trémula de luz...

 

Sou triste e sou feliz. . . Divinizada,
a Dor dentro de mim canta e reluz...

 

A Vida é uma joia ambicionada
que no estojo do Mundo tremeluz:

 

Roça-me a sua túnica inflamada,
mas o seu esplendor não me seduz...
 

...Amo uma estrêla lívida e velada
que há de um dia nos vir ficar parada,
umbrolúcida, sôbre a nossa Cruz...

Meu destino é uma sombra iluminada!

 

 

 

RETORNO

 

Revejo a terra onde vivi criança
onde joguei meus jogos pueris —
a encantadora vila de Esperança,
cuja recordação me faz feliz...

 

— Meu castanheiro e sua sombra mansa,
minha vivenda perto da Matriz,
meus pais e meus   irmãos   (quanta lembrança!)

minha menina — a que mais bem me quis!...

 

Beiral de casas brancas e baixinhas,
onde se agitam, quando a gente dorme,
num festivo rumor, as andorinhas!

 

Ó vida boa de ócio ingênuo e lindo

ao recordar-me vem-me agora um enorme

desejo alegre de chorar sorrindo...

 

 

 

LÂMPADA TRISTE

 

Pobre Lâmpada Triste, evocatória,
que alumiasse a minha adolescência,
já vais fugindo no êrmo da memória,
vais-te apagando em minha conciência...

 

Não mais pude acender-te a chama flórea
de mansa e generosa apalescência...
E a ingratidão que te fêz triste e inglória
enlutou também tôda a existência.

 

Naquela encruzilhada entre menino
e moço — em que se é presa do desejo,
da ambição de sonha melhor destino


Sonhei de mais... E, assim como previste,
tudo falhou-me, tudo! e hoje é que vejo
que o meu sonho era tu — Lâmpada Triste!

 

 

 

Página publicada em agosto de 2019


 

 

 
 
 
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