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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEVERINO PERILO DOLIVEIRA

 

Nasceu na Vila de Araruna, no dia 3 de dezembro de 1899.

Não tevê escolas nem se educou em colégios, tendo sido artista de ''circo de cavalinhos". Mas tornou-se um "criador de ritmos", um dos poetas maiores da sua época. Publicou dois livros: "Canções que a vida me ensinou'' — Paraíba; "Voz da Terra" — Paraíba. Morreu com apenas 30 anos, na capital paraibana.

  O poeta moderno Peryllo Doliveira, autodidata, mulato nascido em Cacimba de Dentro-PB, é apresentado pelo seu conterrâneo, presidente da FUCIRLA-SP, Prof. Dr. Montgômery Vasconcelos, por meio de sua pesquisa O Modernismo na Paraíba.:

https://montgomery1953.wordpress.com/2010/12/07/peryllo-doliveira-uma-poetica-do-modernismo-na-paraiba/

***

PINTO, Luiz.  Coletânea de poetas paraibanos.  Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.    155 p.   16.5 x24 cm    Ex .bibl.  Antonio Miranda

 

 

"Eu amo a vida pela glória de viver.

Eu amo a vida na harmonia dos meus versos

E na grandeza do meu sofrimento.

Amo-a, pelos instantes de tristeza,

E pelas horas de melancolia

E pelos sonhos místicos que andam dispersos

Nos silêncios ignotos do meu ser".

"— Por isso eu sou demais dentro de mim.

Eu sofro de transbordamento

Pelo contágio da paisagem.

É por isso que eu sinto

uma vontade impossível

de dizer para o mundo todo

a boniteza destas coisas!

Falar da Amazônia encantada

e das suas lendas tão lindas.

E dêste nordeste

sarapintado de roçados brancos de algodão.
Destes canaviais tão verdes imensos
tomando os horizontes em redor.
Baías, montanhas, planaltos.

E este cafezais

até onde vão?

Café ouro em frutos

em frutos vermelhos

da cor do meu sangue.

É que êles são feitos

do sangue da terra.

Café

sangue do Brasil.

Estas cidades ruidosas

douradas de sol.

Estradas rumores intrépidos

de máquinas velozes.

Os portos que são como portas do mundo.

Guindastes que são como braços

dando e recebendo

E trens e aviões.

Os rios que vêm para o mar

aos saltos mortais:

Iguaçu, Paulo Afonso...

Bem que quero falar disso tudo,.

irradiar minha emoção, irradiar

ondas altas e curtas

como se o meu pensamento fosse

uma estação de radiotransmissora

alta-potência.

Viver, vibrar em todas as antenas :

mandar para todos os lados

qualquer coisa assim como esta legenda:

"— Não sou um gigante que dorme.

Pois! eu não estava dormindo.

Estava pensando criando.

Fazendo um destino melhor

Burilando-te assim, o meu sofrer ingente

se concretizará em tua copia fiel

para que eu veja sempre o quanto foi pungente,

o quanto foi amargo o meu cálix de fei.

Espera mais um pouco, apenas um instante!...
" E a lágrima a brilhar, qual pérola de Ofir
desceu... beijou-me a boca. . . e foi no chão cair.
Fez bem. Se eu a esculpisse a minha dor cruciante
Seria ainda maior, pois quanta gente diante
dela não sentiria o desejo de rir?!

 

 

Já no fim da vida, devorado pela tuberculose, Perilo de¬dicou à cidade da Paraíba êste poema, já cinzelado nos últimos momentos:

 

 

"Ave, cidade

Cheia de graça!

O meu espírito é contigo!

Para a minha alma

és entre todas

a mais querida.

Amo e bendigo

o ritmo livre

do teu silêncio

e o ruído heróico

do teu labor,

nos quais eu vivo

disperso em ânsia,

melancolias

e desalentos.

Linda cidade.

De torres altas

coloniais,

de jardins verdes
cheios de fontes
e de palmeiras
imperiais;
de ruas longas,
quase desertas,
que à noite ficam
muito mais longas

e mais desertas
sobre a vigília
infatigável

das suas lâmpadas elétricas...

Cidade ingênua,

mãe adotiva,

mas dadivosa,

do grande sonho

em que se integra

a minha vida.

Que as almas brancas

das tuas virgens

que já morreram

dos teus poetas

(mortos sem glória

que tanto amaram

os teus encantos).

peçam a Deus

por que meus versos

possam um dia

cantar, fulgir

os heroísmos

do teu passado

e as esperanças

do teu porvir

para o sonho imortal

que eu vivo sonhando".

 

Tristeza, minha amiga, eu não me iludo
sentindo-te de pé, bem junto a mim,

 

.....................................................

 

E no teu seio acolho-me, tristeza,
enquanto o mundo tumultua em festa,
porque és minha vida de incerteza
a única ventura que me resta...

 

 

 

FALANDO  À MORTE

 

Não és, oh! Morte, o término da Dor,
Nem o fim da tristeza que a alma enlaça,
Não se esgota em teu seio a amarga taça
Que tragamos num último estertor.

 

Também não és o espectro aterrador
Cujo hálito de gelo nos trespassa
Apagando os vestígios da desgraça,
As nossas ilusões, a Fé e o Amor.

 

Não és mais que a aurora de outros dias,
O início de futuras agonias,
De outras angústias que hão de renascer.

 

Enfim, és o crisol de onde promana
A purificação da raça humana
Na sucessividade do viver.

 

 

Juntando seu sofrimento ao sofrimento alheio, eis a sua poesia, sublimando o homem da terra seca, imortalizado no seu estro:

 

 

"Que veio na proa oscilante
dos barcos veleiros
cantando tristezas
de nautas ausentes...
Fadinhos... Guitarras...
Sofrer que consola...
— Saudade.
"Coragem calada
que soube vencer

o próprio destino da raça infeliz".
"Irmão

como tu, eu nasci de três dores profundas.
E foram tão cheias de penas
as nossas infâncias!"

"Que a gente sempre sofre menos

quando vê alguém também sofrer por nós.

"Mas tarde nos altos sertões

do Nordeste esquecido

até sede e fome tivemos

em anos malditos e secas cruéis...

Contigo desci para as fraldas do mar.

Fomos para o Norte... Depois para o Sul...

E lutamos amando e sofrendo.

 

 

 

Modernista substancioso, o seu verso tinha essência e alma, retratando as dores do povo e realçando impetuoso as suas grandezas e as suas glórias.

Cultor do belo e amante apaixonado do Brasil, a mulher pátria empolga a sua musa e êle a decanta na imortalidade da sua glória:

 

 

 

"— Mulheres do Norte.

Bahia, Recife e Pará.

Oh! lindas patrícias

nem sei onde devo ficar

Tão grande este Brasil dos meus pecados!

—      Brasil sem modos, moreno, piegas.

—      Maxixes, modinhas, pastoril, catimbó.
Brasil valentão, ciumento,

que por qualquer coisa

catuca o amor e o destino com faca de ponta".

—      "Morenas do Norte
Natal, Paraíba, Ceará.

—      Não olhe para mim dêsse modo, meu bem.

—      "Mas que boniteza de corpo!
que seios redondos!

que ancas, que andar!
Nem pisa no chão!

E o que mais me machuca, meu Deus,
é o olhar que ela tem...

—        "Teus olhos são negros, negros
como as noites sem luar..."

Me deem depressa um violão!

Serenatas de amor...

E a gente a sofrer e a cantar.

—        "Patrícias do Norte
Morenas e brancas,

faceiras, fidalgas, ardentes, gentis.

Deixem lá que nós temos razão

de andar consumidos de amor por vocês".

 

 

 

Página publicada em agosto de 2019


 

 

 
 
 
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