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Sobre Antonio Miranda
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




RONALDO CUNHA LIMA

 

(1936-2012)

 

 

 

Ronaldo José da Cunha Lima (Guarabira, 18 de março de 1936 - João Pessoa, 7 de julho de 2012) foi um advogado, promotor de justiça, professor, poeta e político brasileiro. Durante sua carreira política foi vereador de Campina Grande, deputado estadual da Paraíba por dois mandatos consecutivos, prefeito de Campina grande em duas ocasiões, governador da Paraíba, senador da república e eleito deputado federal por duas vezes.

 

 

Ronaldo, lançou, entre outros livros: 50 canções de amor e um poema de espera, 1955; Livro dos tercetos - Em defesa da língua portuguesa (discurso no Senado Federal, 1998) ; 3 seis, 5 setes, 4 oitos e 3 noves - grito das águas (discurso no Senado Federal, 1999); A seu serviço II, 1999; A seu serviço III, 2000 Roteiro sentimental – fragmentos humanos e urbanos de Campina Grande, 2001. Breves e leves poemas, 2005

 

“… a despeito da diversificação métrica e temática, há uma permanência rítmica e lírica. Os intimistas denotam uma fixação amorosa. São, aqui e ali, pedaços de uma mesma história, real ou fictícia. Recheados de metáforas, os tercetos guardam sonoridade – sonoridade que Ivan Junqueira chamou de “quase pianística”, a lembrar, segundo ele “The Five Finger Exercices”, de T. S. Eliot. Finalmente, os tercetos justificam o título do livro. São breves e leves e permitem uma leitura agradável pela acessibilidade da linguagem e a mágica capacidade de síntese.”                                                                                  ANTONIO CARLOS SECCHIN

 

 

LIMA, Ronaldo Cunha.  Breves e leves; tercetos e outros poemas.  Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2004. 287p

 

 

 

NATUREZA MORTA

 

A fama do pintor, já não importa.

A natureza não existe morta:

o quadro é que parece não ter vida.

 

 

O MAR

 

O mar corteja a praia e, uma a uma,

as ondas pousam perolas de espuma

sobre seu ventre branco, umedecido.

 

 

A CARTA

 

Aquela carta, fiz bem em escondê-la.

Sinto , as vezes, vontade de retê-la

mas tenho medo de querer rasgá-la.

 

 

INDUÇÃO

 

A dúvida, afinal, esclarecida:

ela jamais se foi da minha vida.

Minha vida, sem ela, e que se foi.

 

 

DESPENHADEIRO

 

Porque eu te amei o quanto pude,

em dimensões de abismo e de altitude

o nosso amor se fez despenhadeiro.

 

 

MODORRA

 

Ancorado na barra de mar morto,

do navio um marujo espia o porto,

como quem se perdeu do horizonte.

 

 

AUSÊNCIA

 

Renasces, recompões e me retornas

paisagens mortas e lembranças mornas

mas tu mesma não vens para vivê-las.

 

 

O QUE RESTOU DE NÓS

 

Além do adeus, da lágrima velada,

do nosso amor se não restou mais nada,

fica, entretanto, o que restou de nós.

 

 

ALHEAMENTO

 

A vida não me alheie no absorto

enquanto eu não me encontre, vivo ou morto,

e, estando vivo, enquanto eu não me esqueça.

 

 

SONHOS

 

Se nas horas dos dias de crescer

eu sonhava com o que queria ser,

hoje sonho em ter sido o que não fui.

 

 

O JUIZ

 

Aplicando o direito a qualquer custo,

o juiz não se apega ao que é justo,

decide o que é legal e o que não e.

 

 

POUCO A POUCO

 

Assisto triste, aflito, quase louco,

o nosso amor morrendo pouco a pouco

e meu querer sem poder fazer mais nada.

 

 

CLT

 

Não são distâncias tão sérias.

Ela só entrou de férias

e eu gozo licença-prêmio.

 

 

OFENSA/ELOGIO

 

Ao me chamar de incrível,

resta a dúvida terrível:

foi ofensa ou elogio?

 

 

CERZIMENTOS

 

Ponto a ponto, fio a fio,

enfrentei o desafio

de cerzir tempos puídos.

 

 

ESPELHO

 

O espelho e o meu castigo.

Nele eu pareço comigo,

não com o que penso que sou.

 

 

A ESTRADA

 

Parecia aquela estrada

Ser uma língua estirada

para engolir a distância.

 

 

CICLÔNICO

 

Minha vida, caso a caso,

foi mais fruto do acaso,

do que da minha vontade.

 

 

À MINHA PROCURA

 

Perdido na noite escura,

Saí á minha procura,

sem ter noticias de mim.

 

(Abraçando Arnaldo Cipriano)

 

 

TRAVESSIA

 

Ondas navegadas

marulham, cansadas,

nas encostas do cais.

 

 

LIMA , Ronaldo Cunha.  As flores na janela sem ninguém...Uma história em verso e prosa. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2007. 128 p.  13,5x21 cm.  ISBN 978-85-03-00967-6  “ Ronaldo Cunha Lima “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

ERA UMA VEZ...

 

Toda história de amor assim começa:

"Era uma vez...", em seu início tredo.

Cenário, personagens e o enredo

com muitas emoções, sonhos à beça.

 

Irei contar, também, uma história dessa:

Era uma vez um poeta, era um aedo

que viveu grande amor mas, em segredo,

somente em versos seu amor confessa.

 

Bonita história, encantador romance!

Contá-la, se eu pudesse, lance a lance,

voltaria a sofrer, chorar talvez.

 

Pois nessa história, "era uma vez" combina.

"Era uma vez" não começa mas termina.

Era uma vez um poeta, era uma vez.

 

 

UM PEDAÇO DE RUA

 

Bandeira criou Pasárgada.

Camilo, São Saruê.

Orwell recriou um mundo

tão dadivoso e profundo

que tão somente ele vê,

pois cada poeta crê

em suas inventividades

e dentro de si cultua

imaginosas verdades.

Eu não imagino cidades.

Eu me limito às saudades

de um pedacinho de rua.

 

 

LIMA, Ronaldo Cunha.  Poemas de sala e quarto.   Ilustrações: Flávio Tavares.  São Paulo: Geração Editorial, 1992.  96 p.  14x21 cm. Apresentação de José Nêumane.  “ Ronaldo Cunha Lima “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

I

 

Na sala
você fala
e reclama.
Na cama
você ama
e se cala.

 

VIII

 

As histórias são no quarto,
se de paixão.
As anedotas são na sala,
se de salão.

 

XVI

 

Não gosto
de ser o primeiro
nem ser o último.
          Prefiro o quarto.

 

XVII

 

O que se fala na sala
se repete.
O que se repete no quarto
não se fala.

 

 

LIMA, Ronaldo CunhaLivro dos Tercetos.  Breves e leves poemas. João Pessoa: Grafset, 1998.  135 p.  11,5x18 cm. “Orelha” por Antonio Carlos Osório. “ Ronaldo Cunha Lima “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

18

Fazem curvas e desvios
          e, assim, adiam os rios
          os encontros com o mar.

 

37

Eu sou mais o imaginário.
          O real é refratário
          ao que penso e ao que quero.

 

105

Eu me entreguei,
             eu me doei,
                 mas me doeu.

 

 

 

PINTO, Sérgio de Castro.  A flor do gol.  São Paulo: Escrituras Editora, 2014. 96 p.  14x20,3 cm.    ISBN 978-85-7531-625-2  Capa: Milton Nóbrega “Sérgio de Castro Pinto”  Ex. na bibl. Antonio Miranda

 

 

O BODE

 

      Ao amigo Wills Leal, que encomendou este poema.

 

o que escrever sobre o bode?

compor-lhe uma ode?

 

dizer que o^seus chifres

despontam na testa

como duas raízes

brotando da terra?

 

que é irmão siamês

dos seixos, da poeira,

das pedras?

 

que é duro na queda?

que o bode é antes de tudo um forte?

 

ou que, quando bale,

é todo ternura,

torrão de açúcar

desmanchando-se em candura?

 

 

ANIVERSARIO

 

são 56 verões

são 56 invernos

outonos nem se fala

muito menos primaveras

 

até que um dia

descarrilharei

numa dessas estações

 

e nunca mais verei

um verão como este

 

 

CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS

 

não me comovem

as insepultas carcaças

dos automóveis,

 

mas quão céleres

os passageiros

se precipitam

no despenhadeiro

 

dos breves dias sem freio.

 

 

 

 

 

 

RODRIGUES, José Edmilson.  Canções de amor e a poética das possibilidades em Ronaldo Cunha Lima. Campina Grande, PB: Editora Cultura Nordestina, 2000.  32 p,    13x16 cm   “José Edmilson Rodrigues “  Ex. na bibl. Antonio Miranda

 

 

POEMA DO DESENCONTRO

 

Era segunda, imaginei Domingo.

Era de noite, imaginei manhã.

Chovia muito e eu imaginava sol.

As pessoas se comprimiam e eu não via nada.

Havia multidão, eu me sentia só.

Você não estava, mas eu a fiz presente.

Você chegava sem saber se estava.

Você falou sem saber o que disse

e disse coisas sem dizer palavras...

Você estava perto sem saber se estava.

E até me beijou sem se sentir beijada.

Era segunda, mas imaginei domingo.

 

Chegou o sol e se fez manhã,

chegou o dia e se fez domingo.

Houve palavras, mas não eram suas.

Houve presença, mas sem ser você.
Houve multidão, agitação profunda...

Então era manhã, mas eu quis a noite.
Fazia sol, e eu queria chuva.
Era domingo e desejei segunda.

 

 

          “Este "Poema do Desencontro" revela o conjunto de contradições nos sentimentos poéticos e desenvolve situações claras de conflitos amorosos, em que os desejos do poeta variam em cada instante e a cada realidade desejada. Ao invés de aproximação amorosa, lembra o distanciamento de amantes.

          A temática do tempo serve para fluir sentimentos na imaginação, que situa o poeta numa movimentação intensa de vontades e buscas em torno da realização que se aproxima. Entretanto, o desenrolar do poema estabelece distanciamentos no tempo e contatos quase infinitos.”  JOSÉ EDMILSON RODRIGUES, p. 20-22

 

 

 

 

 

Página ampliada e republicada em junho de 2014, ampliada e republicada em agosto 2014.



 
 
 
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