PEDRO JORGE RAMALHO
JORGE RAMALHO, paraibano de João Pessoa, é colaborador do Correio das Artes e do jornal Oficina Literária, ex-estudante do curso de matemática (FURNe) e, atualmente estudante do curso de psicologia (IPE).
A PRESENÇA DA POESIA PARAIBANA: Marcos Tavares / Edmilson da Silva / Pedro Jorge Ramalho / Rita Monteiro. "Prêmio de Ficção e Poesia Jurandy Moura". João Pessoa: Secr. de Ed. e Cultura, 1981. 84 p. 14 x 21 cm.
Capa e ilustrações: Tônio. Coletânea de textos premiados no concurso de ficção e poesia “JURANDDDDDY MOURA”, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através de sua Diretoria Geral de Cultura.
Verão
Tetricamente expulso.
Legal, dolente feito um bêbado
que acabara de vomitar.
Amoroso igualmente um casal de vampiros
em orgias enluaradas.
Agora Cristina, te amarei
até que um vento funesto me leve
prá bem longe de te.
Amanhã. Amanhã não estarei mais aqui
e nem a profundeza da vontade
me trará de volta
a saudade desse lupanar
e desequilibrado amor;
amor suicida, passional
claro como um rei destronado.
Aos Bêbados
Foi uma estação, porém um só instante.
Apenas um grito e algumas estrelas tintas de paixão.
Foi um furacão e a primavera, uma vida
e um açoite do vento.
Foi uma morte lenta, porém um êxtase.
Foi uma taça de cicuta
misturada ao éter das flores.
Foi um rei e um filósofo
beijando-se com desespero e volúpia.
Que todos os amores cantem o crepúsculo
pois, não existe nada mais belo
do que as nuvens vestindo um sol ardente.
Agora me despeço e sei
que jamais morrerei como um bêbado.
Figura
Pequeno ponto perdido
circulando lepidamente
entre os encontros das sombras
que disputam com os postes iluminados
o prazer de beijar
as areias frias de tambaú.
Pequeno ponto
estranhamente contemplativo
aos seus próprios escombros
e indefinidamente distante
de minha patética figura.
Surgir
Não existe nada
além da bisonha certeza
de ter aparecido pela mão
de um gigante megalomaníaco
que açoita o tempo
e a consciência combalida
dos seres ávidos e esperançosos
da mesma maneira
que se beija o corpo mutilado
de um amante assassinado
inesperadamente
em pleno salão de um clube
numa terça-feira de carnaval.
Tudo acontece à altura do sub solo
coberto pelo manto do hermetismo.
Página publicada em agosto de 2019
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