NISIA NOBREGA
Nasceu em Mamanguape, Paraíba, no dia 1 de maio de 1928, filha de uma família de ricos fazendeiros. Seu pai, porém, tomado de uma certa depressão, vendeu suas terras e trouxe a família para o Rio de Janeiro, onde tudo perdeu e onde veio a falecer. Assim a mãe teve de “costurar para fora”, como se dizia, e logo colocou o filho no Exército e Nísia tornou-se professora primária, e depois professora creio que da Escola Normal. Quando do governo militar, seu primo Jarbas Passarinho, então Ministro da Educação, transferiu-a para a Rádio MEC onde Nísia teve um programa de entrevista durante muito tempo. Foi quase Adido Cultural do Brasil no Chile e casou-se tardiamente com um empresário, um editor estrangeiro. Sabia receber, sabia valorizar o trabalho do outro, tinha uma qualidade rara: tinha grandeza. Escreveu vários livros de poesia, como Nos braços leves do vento (1951); Rosa distante (1953,); Completamente amor (1961); Ramo da saudade ( 1965, poesia); Isla-sin-raices (1971); Na flor da correnteza (1979), Mamanguape. Faleceu em 2.000. (Rogel Samuel)
Fonte da biografia: ogel-samuel.blogspot.com.br/2011/07/nisia-nobrega.html
NOBREGA, Nisia. Mamanguape. Rio de Janeiro: José Olyympio, 1986. 61 p. 14x21 cm. Capa: Jair Pinto. ISBN 85-00163-2 “ Nisia Nobrega “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
“Nisia Nobrega é a mais feminina das nossas poetisas: delicada, envolvente, docemente tocada de ternura e bondade. Lemos com emoção seu livro tão puro, de lirismo claro e manso de água corrente. E como sabe falar de amor essa deliciosa voz de mulher! Encanta e comove ler poems como os de Rosa distante.” PEREGRINO JÚNIOR
“Nisia Nobre maneja com rara perfeição a nossa língua, compondo versos e alinhando prosa com a mesma facilidade. A II Guerra exaltou a emotividade poétic da alma de Nisia Nobrega. Viu partir o marido e um irmão, e tantos jovens patrícios nossos, em socorro da civilização pacífica da humanidade, ameaçada pelas insanas e grosseiras hostes nazistas. E de seu plectro de fina têmpera ressoaram hinos que hão de certamente figurar um dia em nossas melhores antologia.” BASILIO DE MAGALHÃES
POEMA DE AREIA E VENTO
Por onde, Mamanguape?
O medo ia e vinha
com cheiro de caldo de cana,
no vento encanado
das ruas de Areia.
Areia é só ventania:
vento trazendo lembrança
de gente buscando ouro,
de gente tangendo bois.
Areia de hoje rima vento e convento,
faz-se caminho do amanhã,
cresce no estudo,
religiosamente renascente.
Areia de ontem,
por onde?
NO CLAUSTRO DE AREIA
No amanhecer,
descobri o jardim,
dentro do claustro,
fechado ao vento
e aberto ao sol.
Suas flores cheiravam a incenso.
Pareciam-se com as velhas freirinhas alemãs
que o cuidavam,
quase cegas, quase surdas,
mas erguidas e brancas,
lírios vigilantes,
de pureza intacta.
POEMA DA MANGA-ROSA
Mamangua-penso, e ao risco escapo.
Volto no tempo...
Macia pele de manga-rosa,
mão descascava.
Sumo escorrendo,
da boca ansiosa,
manchava a manga
da blusa nova,
tão cor-se-rosa,
tão manga-rosa,
tão perfumada...
Manchada? Não.
Aquela blusa ficou foi doce,
e mais macia,
sem engomados,
só manga e róseo
tempo escorrendo,
despetanlado.
ONDE FOI RIO
Onde foi rio, era chão,
duro, lavado, sem brio.
Nenhuma flora para espera,
rachando ao sol,
chão de estio.
Onde foi rio, corri,
lágrima e sal de esperança.
Espera e anseio perdi
de me rever em criança.
E já não cri, já não cri.
Por onde os grilos da infância?
Quem de buscar não se cansa?
Página publicada em novembro de 2015
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