MARCOS TAVARES
Severino Marcos de Miranda Tavares nasceu em Ingá, Paraíba. Suas atividades literárias começaram em João Pessoa com a fundação do Grupo Sanhauá, que reunia jovens poetas, pintores e xilogravuristas. Jornalista, foi editor do Diario da Borborema, passou pelo O Norte e depois pelo Correio da Paraíba e Radio Tabajara.
Publicou vários livros de poesia, entre eles os primeiros: “Fuzuê e Finados”, “Dual dos Incriados” e “Hoje a Banda não sai”, além de textos para teatro.
bolero 2
a letra A
quer dizer amor perfeito.
e a letra C,
de que coração fala?
não fala.
cala.
bolero 3
doutor, afine esse
diapasão.
meu coração anda
ultimamente,
num ritmo que não quero.
devolva-lhe bolero
ou me retire do salão.
lição de pintor – I
deixe que o traço
como tiro
rompa o branco do papel
feche a íris
do olho, arco, mire,
dispare o pincel
feixe de luz, prisma
incompleto. veja
pelo ângulo reto.
natureza morta com casa
não sei
se minhas palavras voarão;
não sei sequer se terão asa.
mas elas estão dentro de mim
como uma casa dentro de outra casa.
não sei
se minhas palavras voarão,
não sei sequer se serão fala
mas, se conversamos
é uma pena.
outras palavras
de outros poemas,
vagam dispersas pela sala.
Extraído de ANTOLOGIA POÉTICA GRUPO SANHAUÁ, org. Sérgio de Castro Pinto et al. João Pessoa: Editora Universitária/ UFPb, 1979. (Coleção Miramar, 5)
Por que
me Ufano de
- É um pássaro, um avião?
Não. É Bartolomeu Gusmão
na sua passarola.
Ê um pássaro, um avião?
Não. Ê Santos Dumont
que decola e pede bis
em Paris.
Manuel de Abreu um dia
descobriu que a abreugrafia
lhe mostrava o lado interno
o inferno de Kock
a tortura do bacilo
um três por quatro da tosse.
2. Nessa terra de porvir
à beira do abismo
a solução é descobrir
o mais pesado que o ar,
ou então vasculhar
a caverna pulmonar
a tísica galopante.
3. O mundo inteiro garante
que Deus é brasileiro
e que Portugal cabe
inteiro no Piauí.
O melhor está por vir
nessa beira de abismo
quando o país decolar
morrendo de hemoptise
com Santos Dumond no leme
Manuel de Abreu no timão
um auri-verde avião
uma nave interestelar
apontada em direção
dos buracos do pulmão.
4. Uma nave carregada
de imensa sabedoria
bem mais leve que o ar
mais tênue que a abreugrafia
uma película de sangue
uma golfada de ar,
tão interno aeroplano
que decola numa tosse
como nave pulmonar.
A PRESENÇA DA POESIA PARAIBANA: Marcos Tavares / Edmilson da Silva / Pedro Jorge Ramalho / Rita Monteiro. "Prêmio de Ficção e Poesia Jurandy Moura". João Pessoa: Secr. de Ed. e Cultura, 1981. 84 p. 14 x 21 cm.
Capa e ilusstrações: Tônio.
Coletânea de textos premiados no concurso de ficção e poesia “JURANDY MOURA”, promovido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado, através de sua Diretoria Geral de Cultura.
Página publicada em novembro de 2009; página ampliada em agosto de 2019.
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