JOEDSON
Joedson Adriano da Silva Santos, poeta paraibano, residente em João Pessoa.
O livro ODE AOS DEUSES, de Joedson, chegou pelo correio com uma dedicatória “na esperança da amizade”. Edição particular, fora das regras editoriais convencionais: sem folha de rosto, páginas sem numeração, texto contínuo, e o nome do autor só aparece na última página, no colofão. Um texto verborrágico, palavra-puxa-palavra, nada trivial, recurso constante de melopéias e expressões de contraposição, em tom exaltado, ditirâmbico, delirante. Paradoxal. Improviso ver(s)(t)iginoso. Antonio Miranda
Blogs do Autor: http://odeaosdeuses.blogspot.com/; http://traicoestraducoes.blogspot.com/
Muito obrigado pelo envio da sua "Ode aos deuses", um poemão de largo sopro, a lembrar os versos homéricos com seus hexâmetros de grande musicalidade (as aliterações são notáveis), no seu ritmo épico e na distribuição ordenada de sílabas breves e longas, por entre pés trocaicos, iâmbicos e e anapésticos, numa demosntração de rara maestria poética, sem falar na visão crítica da mitologia do consumo de hoje. Parabéns! Abraço, Adriano Espínola
os numes memoráveis não merecem mercês
nem devem ser descritos ou ditos como seres
em textos-totens-tumbas e templos hominais
senão não seriam os sons iconoclastas
na memória oral sem horas nem orações
de intemplários ateus sem alianças nem atas
os agoureiros guizos e guerreiros gurus
do que na mente se sente se não cego e surdo
mas os réus ruminantes e rapazes decrépitos
sem poderem deveras pelo darma depor
a respeito do rei e do reino irreal
com ordálio e navalha a necrosar os nervos
lhes descrevem ocamente com ordinários ornatos
sem cientifico aval nem analítica anuência
senão não seriam os serviçais fiéis
das mansões castrofóbicas que são caiadas com a cal
das religiões todas de todos os turíbulos
as santas religiões das regiões mais remotas
de legiões de ingênuos sem intelectual higiene
de bandos de bandidos e bandalhos desfraldados
que empunham a bandeira da bestial besteira
de apertadas leis e longas ladainhas
de sacrifícios sonsos e soçobrados castigos
pros cegos que não sabem a situação do seu umbigo
com a enguiçante preguiça de procurar a prova
pela gaiata ciência que só sonha com certezas
e duvida da verdade que da vida e vício
a todos e a tudo que é torto e morto
os homens vida deram ao darma duvidoso
ao desenharem distraídos os deuses foderosos
da saudade dos defuntos que desde a diluvial
são ios idolatrados em ícones e eidolons
do que é de alma ancião e achacado de corpo
eles criaram quimeras e cristos monstruosos
pra se louvarem deuses das doenças de doutrinas
a ser criadores-criaturas de caricatas feras
e os danosos deuses sem dados pra jogar
das doentias danações que dançam nos altares
simplórias criações do cricrido sem crítica
das sandices das gentes sem gênio nos seus genes
pelo parvo pavor de primitivo medo
de serem subitamente por sábios deletados
inventaram o trabalho duma tripla tortura
paliativo terapêutico pra trapos e pra tropas
de homens sem impenitentes e idílicos ideais
de sensitivos sonsos sem sentidos apurados
de cabisbaixos criados sem cabisaltos nervos
de ressentidos cérebros de sombras saturados
EVANGELHO DE DIÓGENES
1
como a maioria pensa no princípio era
a palavra de deus seu filho unigênito
mas poucos conhecem o incalculável prêmio
que eu agora apóstolo apresento a fera
Diógenes o quínico o original gênio
o cristo nazireu o nous e a monera
o nômeno o pneuma e o ai quem dera
fosse eu e é pois Zeus é seu gêmeo
e se fez sangue-carne no mundo e o mundo
não no conheceu mas do céu do qual sou vaso
de volts positivistas e negando os prazos
em mim há a volta revolta do iracundo
desconhecido contra o conhecido raso
que se rebaixa ao baixo porém alto e profundo
de iluminista índole e indolente vagabundo
em mim se insurge ressurge o vinho-ázimo
2
há dois mil quatrocentos e vinte e seis anos
no solstício de inverno o anti-herói nascia
na cidade de Sínope atual Turquia
Anatólia pra seus fundadores jônios
na região ao sul do Mar Negro que soia
ser dita Paflagónia por helenos colonos
os quais lhe deram nomes numes e tronos
escrita arte ciência e cidadania
onde se fez um porto e a moeda floresceu
pra modificar a moda por nadas
a partir do nada criador e a revirada
e independente utopia se deu
sob bênção do sincrético Serápis sem parada
no tempo será pior no templo Serapeum
seu nome Diógenes (nascido de Zeus)
voyeur da declínio dos medrosos de espada
3
o filho da mãe dona de casa Olimpiade
da qual só se sabe por analogia
que não era donzela antes do messias
estar concebido via sexualidade
e do pai Iquésios cultor da mais-valia
proprietário de banco grande autoridade
do qual não se confirma a paternidade
nem se sabe nada da genealogia
Diógenes nasceu normal sem nenhum culto
de reis pra visitá-lo vindos do Industão
e cutelo real pra matá-lo aos dois não
ou evasão pitagórica ao egípcio oculto
pra aos doze já ser douto somente senão
pra falar uma nova língua quando adulto
trigo em meio ao joio com seu fermento bruto
a extrapolar contra a tradição
OBSERVAÇÃO
Acima estão 3 de quase duzentas partes deste longo poema de Joedson. Recomendamos a leitura completa nos blogs do autor:
ui http://contadosemedidos.blogspot.com.br/ alguns contos em verso
aqui http://meucanone.blogspot.com.br/ uns poeminhas meio como dicas de leitura
aqui http://joedsonadriano.blogspot.com.br/
ARAUJO, Joedson. Evangelho de Diógenes. João Pessoa: Ideia, 2003. 134 p. 15x21 cm. Col. A.M.
Trata-se de uma reedição do longo poema Evangelho de Diógenes, que saiu anteriormente no livro Ode aos deuses, agora com revisão e algumas mudanças nos textos dos poemas originais.
Página publicada em março de 2010; ampliada e republicada em janeiro de 2013. |