JOÃO CARLOS BEZERRIL
Bezerril, João Carlos (Cónego) — Paraibano de Mamanguape, nas¬ceu a 26 de setembro de 1892. Aluno do Seminário da Paraíba, ordenou-se a 19 de março de 1916. Embarcando para a Europa, formou-se em Direito Canónico na Universidade Gregoriana de Roma. Na terra natal, foi professor do Seminário do Colégio Diocesano "Pio X" e redator de "A Imprensa". Vindo para a metrópole do país, atualmente, é vigário da paróquia de Santa Rita, cónego honorário do Cábido Metropolitano, Promotor da Justiça.
INVERNO TROPICAL
Chegou o inverno sem trazer o gelo,
Que para o rio e cala a voz da fonte.
Inverno bom, que não desnuda o monte
Nem prateia de neve o meu cabelo.
Entrou risonho sem vincar-me a fronte
Com os pavores de negro pesadelo.
Insinuou-se sem que a gente, ao vê-lo,
Sentisse o sol ausente no horizonte.
Em tudo diferente de outros climas,
Dá-nos, além dos frutos das vindimas,
O perfume da flor, suave e terno.
Inverno iluminado de alvoradas,
Sem lareiras a arder em noites tardas,
Como eu quisera fosse o meu inverno ...
Rio, junho de 1962.
PINTO, Luiz. Coletânea de poetas paraibanos. Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953. 155 p. 16.5 x24 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
AD ARBOREM
Enquanto na planície estua, rumoreja
idade, na faina de viver e lutar
Sozinha na amplidão, esta árvore braceja
Por libertar-se da terra e as alturas a ganhar
Crstou-lhe o rudo inverno a fronde benfazeja,
Onde as aves do céu vinham outrora cantar
É o velho e anoso tronco agora lacrimeja
pranto da resina, com saudade e pesar
Pobre árvore medrada à beira do caminho,
De algum germe talvez trazido ao torvelinho,
Na asa de um vento insano, de longínqua paragem...
Presa aos grilhões da seiva ancestral, tu procuras,
Humilde Prometeu, a evasão das alturas
Ó árvore minha irmã... tu és a minha imagem!
Página publicada em agosto de 2019
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