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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA

(05/05/1882 – 26/01/1930)

 

Pioneiro, membro da primeira geração de poetas populares, o paraibano Francisco das Chagas Batista nasceu na Vila do Teixeira no dia 05 de maio de 1882. Aos 18 anos, comercializava água e lenha, e era estudante na cidade paraibana de Campina Grande; aos 20 anos, produziu seu primeiro folheto intitulado Saudades do sertão (1902). Nos idos de 1905, ele passou a vender folhetos no Recife, além de passar um curto período de tempo no seminário da cidade de Olinda; em seguida, foi trabalhar na ferrovia de Alagoa Grande, Paraíba.

Foi poeta popular, escritor e editor. No ano de 1907, Francisco das Chagas inovou ao rimar o romance polonês Quo Vadis: Powieść z czasów Nerona (1895), escrito por Henryk Sienkiewicz, cujo tema é a perseguição aos cristãos, após o grande incêndio de Roma. Sua passagem no universo literário também incluiu atividades na seara editorial, ocasião em que residia em Guarabira, Paraíba, trabalhando com o editor e irmão Pedro Batista (1909), em Guarabira, Paraíba.

Chagas Batista casou-se com a prima Hugolina Nunes da Costa (1909), que era filha do cantador Ugolino Nunes da Costa. O casal teve 11 filhos. Alguns herdaram a veia artística do pai, como os poetas populares: Paulo, Pedro, Maria das Neves e o folclorista Sebastião Nunes Batista, produtor de obras referenciais do cordel.

Intelectual reconhecido, sua paixão pelos livros o fez adentrar no mercado livreiro em 1911, em João Pessoa (ainda chamada de Paraíba). Dois anos depois, em 1913, fundou a sua Livraria Popular Editora, localizada na Rua da República, n. 65 (depois n. 584).

Ativo e empreendedor, ele foi um dos primeiros editores de cordel e imprimiu produções de muitos poetas populares da época.

Francisco das Chagas Batista morreu jovem, aos 48 anos, em João Pessoa, no dia 26 de janeiro de 1930.

Fonte: https://memoriasdapoesiapopular.wordpress.com

 

BATISTA, Francisco das Chagas.  Francisco das Chagas Batista. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1977.  280 p.  (Antologia, Tomo IV)  14x19 cm.  Capa de Ana Luisa Escorel.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Os Decretos de Lampeão

Como elle foi cercado em "Tenorio"e a
morte de seu irmão Levino Ferreira

 

Está preso Antonio Silvino
Porém ficou Lampeão
Governando pelas armas
O nordestino sertão;
E agora elle publicou,
Dois Decretos que baixou
Da sua legislação.

Diz o primeiro decreto
No seu artigo primeiro:
— Todo e qualquer sertanejo,
Negociante ou fazendeiro,
Agricultor ou matuto,
Tem que pagar o tributo
Que se deve ao cangaceiro.

No paragrapho primeiro
Desse artigo elle restringe
A lei
somente aos ricos
Dizendo?
a lei não attinge
Ao pobre aventureiro
Pois quem não possue dinheiro
Diz que não tem e não finge.

O decreto numero dois
Fixa em trinta cangaceiros
O Grupo de Lampeão
Diz nos artigos primeiros:
Preciso de trinta cabras,
Trinta figuras macabras ;
Trinta lobos carniceiros ...

Só quero cabras que tenham
Menos de vinte e seis annos;
Que conheçam palmo a palmo
Os sertões pernambucanos
Que possuam pernas boas
Conbeçam bem Alagôas
E os sertões parahybanos.

Saibam manejar o rifle
Sejam bons escopeteiros.
Defendam os opprimidos,
Tirem só dos fazendeiros;
Persigam os traidores
Não perdoem os oppressores
Sejam peritos guerreiros.

Quando o Jornal do Recife
O Decreto publicou,
O Grupo de Lampeão
Em um mez se completou;
E no estado pernambucano;
Seu decreto soberano
Todo mundo respeitou.

Lampeão requisitou
Brim kaki para fardar
A todos os cangaceiros,
E depois de os municiar
Seguio seu féro destino
De ladrão e assassino
Continuando a matar

Os sargentos José Guedes
E Cicero de Oliveira
Da força parahybana.
Policia forte e guerreira
Perseguiram Lampeão
E tiveram occasião
De cercar-lhe a cabroeira.

Foi na fazenda "Tenório"
No estado pernambucano
Na noite do dia quatro
De Julho do corrente anno.
Deu-se esse ataque renhido,
E ali o grande bandido
Perdeu Levino seu mano.

Commandavam os dois sargentos
Somente vinte e tres praças
Vinte e tres parahybanos
Que não temem as desgraças
Lampeão, forte e valente
Resistiu heroicamente
Commandando seus comparsas.

Quando o sargento Zé Guedes
Viu o tenente Oliveira
Morto no Serrote Preto,
Fez uma cruz de madeira
Ajoelhou-se e jurou :
Dizendo a quem te matou
Eu darei morte certeira.

Oliveira fora morto
Pelo bandido Levino
Que em "Tenório" se achava
Ao lado de Virgulino,
Apesar da noite escura
Zé Guedes cumpriu a jura
Matando aquelle assassino.

Esse combate sangrento
Mais de dez horas durou
Quando o dia amanhecia
A "Tenório" então chegou
Uma força pernambucana
Que a força parahybana
Muito ali auxiliou.

E devido a confusão
Que entre as forças se deu
Lampeão fugiu deixando
Morto um companheiro seu
E Levino foi conduzido
Numa rêde tão ferido
Que no outro dia morreu

Lampeão feriu na lucta
O valoroso sargento
Cicero de Oliveira
Que devido ao ferimento,
Dias depois falleceu,
Como seu irmão morreu
Sem fugir do acampamento.

Lampeão depois da lucta
Foi p'ra sua fortaleza
Descansar a cabroeira
E arctectar nova empreza
Agora amarrou o guiba
E no Estado da Parahyba
Veio fazer uma surpresa.

Na fazenda Santa Ignez
Do termo de Conceição
Residia um sertanejo
Inspector de quarteirão,
Que fôra gratificado
Por que já tinha atado
Dois cabras de Lampeão.

Lampeão cercou-lhe a casa...
O Inspector resistiu !...
Porém nos primeiros tiros
Assassinado caiu
Lampeão matou-lhe o gado
Incendiou-lhe o cercado
E sua casa destruiu.

Levou bastante dinheiro
Do termo de Conceição
E com sua cabroeira
Atravessando o sertão,
Foi pra Cariry Novo
Onde elle é amigo do povo
E não teme perseguição...

 

 

É POSSÍVEL LER TODOS OS CORDÉIS DE FRANCISCO DAS CHAGAS BATISTA, EM VERSÃO DIGITAL FAC-SIMILAR DOS FOLHETOS ORIGINAIS, EM EDIÇÃO NA WEB:

http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/FranciscoChagas/franciscoChagas_acervo.html

 



 
 
 
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