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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ERNANI SATYRO

 

Ernâni Aires Sátiro e Sousa (Patos, 11 de setembro de 1911 — Brasília, 8 de maio de 1986) foi um fazendeiro , poeta, cronista, romancista, ensaísta e político brasileiro, que exerceu oito mandatos de deputado federal pela Paraíba. Foi ainda prefeito de João Pessoa e governador da Paraíba.

Pertenceu à Academia Paraibana de Letras, à Academia Brasiliense de Letras e à Academia Campinense de Letras.

 

SATYRO, Ernani.   O Canto do Retardatário.  Poemas. Brasília: Senado Federal, 1985.  130 p.  formato 15,5X22 cm.  “ Ernani Satyro “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

ONDE ANDAM AS PALAVRAS?

 

Onde andam as palavras?

Rádio, televisão, ficção científica, átomo, hidrogénio, astronáutica,

E nada das palavras correspondentes.

(A correspondência que eu quero não é a do linguista, é outra).

Será que as palavras estão adivinhando o fim de alguma coisa

E então se aguardam para a última resposta?

E se a última resposta não puder vir,

Heim, Amigo?

Cadê as palavras?

Antigamente elas se davam

Como fêmeas em cio,

Até aos machos indiferentes.

E agora?

E agora/Poeta?

 

 

INSÔNIA

 

Ao esperar o sono eu aceito a morte.

Mais do que isso, eu me entrego à morte.

O sono tarda, eu convoco a morte.

Mas a morte pensa que apenas me empresto

E não que me dou.

Pois eu me dou à morte sem reservas,

Contanto que possa dormir.

 

 

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

        

         RECIFE

 

       Oh que saudades que tenho
Da minha Rua da Aurora
Do rio daquela rua
Da aurora naquele rio
Que as águas não trazem ais.
Oh que saudades que tenho
De meus sonhos tão branquinhos
Lavando as águas barrentas,
Das águas levando os sonhos
Que as águas não trazem mais.
Oh que saudades meu deus
De meus passos na calçada
Acordando aquela estátua
Do Conde da Boa Vista
Eu querendo ser estátua
Só não querendo morrer.
Oh que saudades também
Do meu amor em Olinda.
Navegava em pensamento
Nos navios que passavam
Mas nadava na verdade
Dando braçada nas águas
E no corpo da amada.
Oh que saudades, já quantas
Do Diário e do Comércio
Que só são bons de ser lidos
Bem quentinhos com o café
Numa pensão de estudantes
Vendidos por gazeteiros.

 

       Oh que saudades que tenho
Da minha ama de leite
Joana Pé de Papagaio
Que conheceu o Recife
Mas cujo leite escorria
Nas águas daquele rio
Levado pelos meus olhos
Onde nunca ele secou

       E ainda hoje umedece
Um certo modo de olhar.
A outra saudade grande
É dos sonhos bem sonhados
Bem pouco realizados.
E das frases preparadas
Pra serem ditas ao povo
A multidões inflamadas
Pela força do meu verbo
Mas que foi bom não ter dito
Porque eram ruins demais.
Mas a saudade maior
É daquelas esperanças
De ser um bom promotor
Lá bem dentro do sertão
Discursando para o júri
Namorando as moças todas
Depois casando orgulhoso
Com a filha do coronel.
Se outras coisas alcancei
Tão boas e até melhores
Não são as coisas sonhadas
Com os passos firmes no chão
Os olhos bem para cima
Desafiando as estrelas,
Que não sabiam de nada.
Oh que saudades que tenho
Da Rua da Aurora
Do rio daquela rua
Que as águas não trazem mais.
Saudades são mil saudades
Do rio que corre agora
Pra outros que não veem
Mas termina sempre em mim
Que eu é que sou seu mar.

 

 

 

       AS DUNAS

      
(Nos céus da Bahia)

 

       As dunas não são as dunas.
Só mesmo imaginando elas são dunas,
Que são vistas do avião, ao sol,
Apenas são espelhos.
É preciso que à terra nós baixemos
Para que sejam dunas.
Baixemos pois, mas não por muito tempo.
Deixemos que elas sejam o que do alto são.
Pavor.
Mas não é da morte — É da Hora da Morte.
É por isso que te peço, ó Morte,
Que venhas quando quiseres,
De noite ou de dia,
Mas não me deixes nunca pressentir a Chegada.
O medo é da Hora.
Não é do teu mistério, Morte,
Que o mistério da vida é maior.
O que eu temo é a Hora — o ar das pessoas na
Hora da Morte.
Tu primeiro te apoderas das testemunhas,
Que aceitam e começam a ser cúmplices.
Te desanimas e abates os que assistem
Para então desferires o golpe
Vem, antes ou depois.
Na Hora da Morte, não!

 

 

 

       A MOEDA

 

       De um lado da moeda:
Minha alma postiça
No corpo natural...
Do outro lado da moeda:
Meu corpo postiço
Na alam sobrenatural!

 

       Cara ou Coroa!

 

       É melhor arriscar a moeda na aposta de Pascal.

 

 

 

       CUMPLICIDADE

 

              (A Ernaninho , meu filho morto)

 

         Não quero contribuir com o meu desânimo para a morte de meu filho.
Não quero admitir que o seu caso seja perdido,
Porque aceitar é uma forma de colaborar.
Não, eu não quero ajudar a morte.
Que minha fraqueza não venha como uma cumplicidade.
Que o meu pequeno doente, tão pequeno e tão grande na luta desigual,
não veja em mim um gesto de conformação
com o trabalho da Assassina.
Ela pode vir,
Mas que os olhos ternos de meu filho não a leiam nos meus fracos olhos.

 

 

 

 

         O CANTO DO RETARDATÁRIO

 

       Pouco importa que o canto seja tardio.
Se não tinha amadurecido, inda não era canto.
O idade do poeta se mede pelo amadurecimento do canto.
Cantar não é desejar a glória,
É simplesmente cantar.
A gente nasce para viver,
O canto rompe para vibrar.
O resto é com que ouve,
O poeta não tem nada com isso.
Já houve um santo que falou às aves.
Mas eu sou a ave, canto para as árvores
— Árvores, ouvi-me!

 

 

 

        ESPERANDO

 

       Recife, poema e chaga do Brasil.
O poema dos rios
E a chaga dos mocambos.
As praias dos coqueiros
E os marginais da Rua Nova.
O saber da Faculdade de direito
E a miséria dos sem lei
Recife, capital de todas as grandezas e
todas as desgraças do Nordeste.
Os conventos vazios e as multidões sem abrigo.
Leoa triste de um leão cansado,
Cidade eleita e condenada,
Eu te amo na esperança da tua ressurreição,
Quando novamente te ergueres sobre os Guararapes,
Não para expulsar os estrangeiros da terra,
Mas para distribuirdes melhor as estrelas de teu Céu.

 

 

 

       O INSTANTE

 

       O instante, nem sempre é agora.
Às vezes já passou.
Às vezes está por vir.
Em certos casos não virá nunca.
Mas é necessário cultivar o instante,
Estar, preparado para que
Quando vier
Não seja recebido como um estranho.
Sim, porque o instante é caprichoso,
Caprichoso e rebelde, embora também seja doce e amigo.
Cultivemos o instante e não nos arrependeremos.
Se não vier, contentemo-nos com a alegria de tê-lo esperado.
Deixemos o instante em falta
Embora sem nos orgulharmos.
Não sejamos com ele nem orgulhosos nem humildes — sejamos naturais.
Se ele passar apenas como um sopro
Quase imperceptível,
Nem por isso deixará de ter sido o instante.
Às vezes demora, senta-se, conversa. Convive.
Cultivemos o instante e não nos arrependeremos.

 

 

 

 

 

Página publicada em abril de 2015; ampliada em maio de 2020

 

 

 

 

 
 
 
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