Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

ELIZEU CESAR

 

Em 1894, na capital do estado da Paraíba, um jovem negro reuniu-se com colegas para lançar o seu livro com poemas românticos. Certamente, estiveram presentes no referido encontro, intelectuais e políticos que viviam os anos iniciais da República brasileira.

O “poeta” que publicizava o seu livro Algas era Eliseu Elias César, nascido em 1871, na Cidade da Parahyba, uma pequena capital nordestina e que nos anos finais do século XIX tinha um grupo de intelectuais que procurava movimentar o estado, buscando fundar associações intelectuais e clubes literários. Eliseu Elias César, como era comum no século XIX, publicou um livro de poesias para se projetar como um “homem de letras”. Para prefaciar o seu texto literário escolheu um intelectual, jornalista e político em início de carreira, mas com potencial de assumir cargos importantes na Paraíba. De fato, o prefaciador do livro de Eliseu César, foi Castro Pinto, que em 1894, era formado em Direito pela Faculdade do Recife 1 DH/PPGH/NEABI-UFPB  DH/PROHIS/UFS  DH/PPGH/NEABI-UFPB (Turma de 1886) e também atuava na vida política da Paraíba republicana, participou como deputado da Assembleia Constituinte da Paraíba (1891/92) e desempenhava funções como jornalista. Alguns anos antes, se destacou na luta abolicionista na Paraíba.   /Fragmento de texto extraído de www.snh2017.anpuh.org/

 

PINTO, Luiz.  Coletânea de poetas paraibanos.  Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.    155 p.   16.5 x24 cm    Ex .bibl.  Antonio Miranda

 

 

     AS ESPERANÇAS

 

Eu vi todas fugirem, docemente
Se foram pelo azul, to
das voando,
Qual de garças um bando alvinitente
O espaço azul, imenso, recortando.

 

Daqui, do meu retiro, aonde agora
Vivo carpindo os dias de ventura,
Eu disse-lhes: adeus, filhas d'aurora,
Aves feitas de amor e de ternura...

 

Como a tribo das aves emigrantes
Que perpassam no azul de ano em ano,
Em busca de paragens verdejantes,
Voam, enquanto ao ninho abandonado,
Êrmo de cantos, tétrico, ensombrado,
Baixa esa'ove noturna — o desengano!


 

A IGREJINHA

 

Ó que igrejinha tão formosa aquela,
To
da de branco no florido outeiro,
Cobe
rta sempre de uma paz singela,
Ingênuamente sacrossanta e bela,
Com áureos sinos e com ar fagueiro!

 

De longe vista só parece um ninho
Feito do cirrus que no céu alveja!
Que poesia no seu nichozinho!
E quantos lírios pelo seu caminho
Que, outeiro cima lá se vai, cobreja!

 

Quando a manhã, do longo céu deserto,
Acorda a
mata os maviosos trinos,
Na aldeasita, que demora perto,
Paira um sorriso de horizonte aberto,
Da igrejazinha ao repicar dos sinos!

 

O som que vem do campanário antigo
Entra nas almas a sorrir, cantando,
Dos aldeões pelo modesto abrigo,
Tal como um eco benfazejo e amigo,
A missa! a missa! os aldeões chamando!

 

Ah! como voam, derredor da igreja,
Da minha infância as ilusões queridas!
Como esse bando multicor voeja
Por cima dela, que bendita seja
Co'as torrezinhas para o céu erguidas!

 

Ó! que igrejunha tão formosa aquela,

Onde eu rezava em pequenino, quando,

Com minha mãe, ouvia missa nela,

Na primavera sorridente e bela

Da minha infância que se foi murchando!

 

 

 

A CEGUINHA

Quando ela vem à minha porta e estende
A branca mão nervosa e pequenita,
Do peito meu na tênebra infinita
Um delicado sentimento esplende.

 

Não sei se é compaixão, mas, dolorida,
Ante essa dor, que lágrimas inspira,
Como se fo
sse a corda de uma lira,
Minh'alma chora, triste e comovida.

 

São tais as emoções, tantas as mágoas
De vê-la prêsa de cruentas fráguas,
De vê-la tatear como entre abrolhos.

 

Que, se eu pudesse, a noite êrma e sombria
Dessa pobre ceguita desfaria,
Ofertando-lhe o brilho dos meus olhos!

 

         ***

 

Teu rostinho é como a Carta
De envelope côr de rosa
Onde o carinho de um beijo
Eu pouso, mulher formosa.

É teu colo, onde palpitam
Dois pombos de alva cor,
A Mala do meu afeto,
Lacrada com teu amor.

 

O recinto de tu'alma
De muitas estrêlas cheio
Tem mais esperanças flo
r,
Que segredos o correio.

 

Tu és a Posta Restante
Aonde a mão de Jesus
Deixou minh'alma guardada
Pelos teus olhos azuis.

 

Teu lábio é pura Etiqueta
Tão rubra como o carmim,
Ocultando doces favos
De beijos feitos pra mim.

 

Enfim, tu és meu cuidado
o coração do meu seio,
Etiqueta, Lacre, Carta,
Porque pertenço ao correio.

 

 

 

TEUS BEIJOS

Morena, teus castos beijos
Dessa boquinha de flo
r,
Me dizem coisas sonoras,
Segredam frases de amo
r;
São doces, de tal doçura,

 

São ternos, de tal ternura,
Têm tanto viço e frescor,
Que eu penso que são pingados
Lá dos mundos estrelados
Nas conchas dalguma flo
r.
Senti-los por sobre as faces

 

Brincando como crianças,
E' ter o rosto orvalhado
De liriais esperanças...
E' ver que o céu se desata,
Qual se desfolha a cascata,
Em chuvas de ouro e luz...
Oh! beija-me assim, formosa,
Teu beijo do mel de rosa
Me embriaga e me seduz!

 

Quando rompe a madrugada
E eu vejo por so
bre as flores
Os colibris doidejantes
Num doce idilio de amores,
Me lembro desses teus beijos,
Cheios de mel e desejos
Castos, puros, juvenis,
Que de teus lábios, na rosa
Semelham, virgem formosa,
Abelhas doidas gentis...

 

Pelos desertos da vida
Chorava eu triste sosinho.
Pungia-me o peito exausto
Dos sofrimentos o espinho;
Mas quando teu beijo santo
Bebeu-me a gota do pranto
Que dos meus olhos descia,
Senti que as dores passavam,
Que as aves todas cantavam,
Que o céu azul me sorria!..."

 

 

 

Página publicada em julho de 2019


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar