EDUARDO MARTINS
Nasceu em João Pessoa, Paraiba. Fez estudos primários e secundários na capital, começando logo a sua faina poética, abraçou a corrente modernista, tendo lançado seus primeiros versos num livro de ensaios que a crítica recebeu elogiosamente.
Em 1947 lançou seu segundo livro — “Poemas”, de onde foram extraídos os textos a seguir:
PINTO, Luiz. Coletânea de poetas paraibanos. Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953. 155 p. 16.5 x24 cm Ex .bibl. Antonio Miranda
DESTINO DO HOMEM
Primeiro veio a infância,
Uns olhos adolescentes
E um desejo imenso de amar.
Após essa manhã de amor
Vieram outras manhãs,
Manhãs mais lúcidas
Com flores e frutos ao sol...
Em seguida as suas mãos rudes
Para sempre repousaram
No adormecido peito.
Hoje cartões tarjados apenas
De velhas coroas balançam
Ao sopro do vento!
JESUS
Eu te exalto ó Homem Divino
Não porque me ensinaste a tolerar e a perdoar
Não porque me ensinaste a sentir a emoção eterna da beleza.
Não porque me ensinaste a compreender o amor dos infelizes.
Eu Te exalto ó Homem Divino
em todas as filosofias e em todas as línguas
em todas as ciências e em todas as artes
porque sem Ti ó Homem Divino
não existiria a harmonia universal do amor!
POESIA SEMPRE. Ano 17. Número 34. Poesia híndi contemporânea. Editor Marco Lucchesi. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2010. 228 p. No. 10 386
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
A palavra falta
palavras são vozes mudas
de faltas que não ausentam
mas que de ausência se mudam
para outras faltas-presenças
por todos os lados são surdas
as palavras que se inventam
não do lado que se escuta
mas do outro que se pensa
aquele em que à palavra falta
seu espaço de ausência
não na lacuna do corpo
mas no que aí se inventa
como ausência há de ser oco
ou oco o que aí se pensa.
O vaso
o poeta escreve por dentro
do vaso que não tem flora
nem fora que não tem flores
como essa estrofe
como este vaso que não se quebra
que não sequela palavra
cacos de cola flora de chão
cerâmica verde
o poeta escreve por dentro
argamando a massa
futuro vaso que há
futuro vaso do ar
que se espalha espelho
de outro vaso nobre.
A palavra zero
todo redondo do mundo
só cabe de ser profundo
no fundo palavra zero
porque em seu centro dorme
esta oração que comove
e se planta de desertos
no vazio que renova
outro mundo que, se forma,
é centro palavra zero
todo redondo do mundo
no centro de outro fundo
sé fundo quase deserto
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Página ampliada e republicada em maio de 2025.
Página publicada em julho de 2019
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