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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto> http://www.paraibacultural.com.br

 

 

BRUNO GAUDÊNCIO


 

Jovem Escritor, Jornalista e Historiador. Nasceu em Campina Grande, Paraíba, em 02 de Dezembro de 1985. Mestrando em História pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Graduado em Jornalismo e História pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Tem publicado poemas, ensaios e contos em algumas das principais revistas de cultura, a exemplo da Cordeletras (PB), A Margem (PB), Blecaute (PB), Correio das Artes (PB), Verbo 21 (BA) e Germina Literatura e Artes (SP). Alguns dos seus poemas foram selecionados recentemente para os projetos: O Jovem Escritor da Paraíba (UFCG) e Parede Poética 2009 (SESC-PB). Foi um dos fundadores do Grupo Bossa Usada Cineclube, responsável pelas exibições dos cineclubes Machado Bittencourt e Mário Peixoto em Campina Grande. Atualmente é Editor da Revista Eletrônica de Literatura Blecaute (http://revistablecaute.blogspot.com/)

 

 

BRUNO GAUDÊNCIO

 

O OFÍCIO DE ENGORDAR AS SOMBRAS

 

desmentindo seu próprio segredo

a alma carrega sempre

o ofício de engordar as sombras,

de retornar as coisas

da infância tangível,

em um límpido silêncio

de água que flui

na nudez

pura da morte.

 

 

DANAÇÕES

 

I

 

            A Rinaldo de Fernandes

 

O abismo nos convida para o sono

Eu conheço o profundo dos cansaços

Escondemos a tristeza e nada somos

A minha geração sangra nos mastros.

 

Máquinas trituram os nossos sonhos

Asas fechadas para vôo divino

Deus morre nu no ventre dos destinos

Ao som de estranhas músicas montanhas.

 

Não tenho onde pousar o meu cansaço.

A certeza me atrai mais incertezas.

E brutaliza tudo aquilo que faço.

 

A mesma lágrima no rosto, a dor que cresce.

O vento leva a noite, mas deixa estrelas.

E juntas contemplam a dor que me padece.

 

 

 

HAICAI

 

    ira de viver,

   canina fome

 de luz e abismo.

 

 

FABRICANÇÕES

 

A Arnaldo Xavier (In Memória).

 

Carnivorazes tons secretos

Soniferozes ritmos diversos

Apocalíricos cravados

Fabricanções tenazes:

Tigreversos.

 

 

ANDAR SURREAL

 

 “Ouço aves e Beethovens”

Manoel de Barros 

 

             I

 

A boca do meu coração

vive sentada

nas narinas de aço

do meu indiscreto desespero,

enquanto o vento verbaliza o tempero

e designa o papel dos meus cabelos sujos

de tensão e caos…

 

               II

 

Corrompo as frases

com o meu andar surreal

de Manoel de Barros

sem Pantanal,

e estupro o sentido normativo

da incompreensão.

 

 

               III

 

É ótimo cantar fluidos,

fluxos de fatos infantis

que perturbam o meu juízo

de lata e metáfora.

 

 

                IV

 

Mergulho nos significados dos medos

em um profundo claro de nada.

 

                   V

 

O caos brinca de osso

com os meus perfumes de livro.

São as palavras que matam

os fantasmas

de fruta podre

que moram 

em mim.

 

 

 

GAUDÊNCIO, Bruno.   Acaso caos.  João Pessoa: Ideia, 2013.   93 p.. Prefácio de Luis Avelima.  Orelha composto pelo poeta carioca Sérgio Bernardo e posfácio elaborado por Weslley Barbosa   Col. Salomão Sousa. 

 

ESTRANGEIROS NO LABIRINTO

Para Wellington de Melo

 

morde

a febre

que te consome

internamente

 

joga fora

o medo,

mastiga o credo,

liquida as horas

 

estoura a dor

dos olhos,

impregna

a flor da morte

aos vossos ossos

 

vomita a cor da fé

na incompreensão tranquila

 

perpetua a validade

do homem-nada.

 

somos estrangeiros

no labirinto.

 

 

RETINA

O olho do poema

permanece fechado,

fluente em seu acaso,

buscando o caos.

 

O olho do poema

escreve o seu atraso,

no teatro tenso

das luzes do mal.

 

O olho do poema

voa falso

(aos monstros da fala).

 

O olho do poema

come a razão

(com sua fome de nada).

 

 

GEOLÍRICA

Para José Inácio Vieira de Melo

 

na alma da terra,

montado em seu bicho mítico,

o poeta constrói a travessia das rosas

na sagração do caos

 

romaria de sertões,

em múltiplas cavalgadas

decifrações de abismos,

aboios de uma poesia que chove.

 

 

CÂNTICO A CAMPINA

 

campina,

és tão maleável,

feitiço de pedra

que pela força do verbo

e do delírio

ilumina o rosto oculto

da história real

 

campina,

és tão metáfora,

menina com “rosto de homem”

que pulsa uma soterrada ternura

numa melancolia circundada

por névoas infernais de céus

 

campina,

?cidade-centauro?

?cidade-invisível?

?cidade-enigma?

amor na serra

: planta fundida

no barro da memória

 

campina,

carregas contigo o não lugar

e no dorso flutuado

entre ás águas de um açude velho

tens as brumas da poesia.

 

 

 

GAUDÊNCIO, Bruno.  Blues e minotauros.  Ilustrações de Felipe Stefani.  Campina Grande:        Editora Ler, 2021.    84 p.       ISBN 978-65-89s402-20-6                               Ex. bibl. Antonio Miranda

 

BUMERANGUES E ORIGAMIS

 

Quando criança
       sonhava com bumerangues
       acabei afeito a origamis

       dei por compor borboletas
que penduradas
       nas paredes
do meu quarto
       acabaram por dar voltas
       nos meus
       sonhos

 

ARCANOS

deitado às armas
sempre escuto
o meu sangue

só eu sei quantos
nãos colecionei
em meu museu interior


 

FORMA

            
No labirinto
do corpo
             corre sangue
                     sem que eu possa ver
                                pressinto

sem movimento
                    em fluxo

                              contínua
                              metáfora
                              do existir

todas
         as células
assemelham-se aos corpos
                                  celestes

uma forma retorcida e leve

                             o embrião
                                      como sabem

                  é futura
                  estrela

 

VIOLA DE BOLSO

Um tédio todo prédio
       me corta ao meio

       a cada dia
mil repentes
         me tombam

na corda bamba
         da melancolia.


GAUDÊNCIO, Bruno.  A cicatriz que canta o incêndio da raiz.
Belo Horizonte, MG: Moinhos, 2028.  64 p.  14 x 21 cm.
ISBN: 978-85-93579-99-9   Ex. bibl. Salomão Sousa

       
       
AVESSOS

                Para Chico César

                “Tenho vinte e nove bocas urdindo a falsa doçura da confusão”  
                                                                          (Herberto Helder)

               
reviver
           vagando
           as vísceras
          
           calcanhares
           de sonhos
           pendurados
           no tédio

           pedras
           a tatuar
           ontens
           no sertão
           de hoje

           na esquina
           a carne apita
           o desmoronar
           de karmas


       CICATRIZES

      
ninguém perceberá
                  a urgência
                  do ontem

       dos templos
                   do segredo
       sobre o tempo das sombras

       dez sinos dobram
                   a nossa mórbida biografia

       guardiões e guardados
                   escondem a ternura
       dos porquês

       no erguer
       dos ventos a esperança
                   de crescer mais distante


       CARNE NOTURNA DA CASA

                          Para Thuca Kércia

       
acalmar o teto
                   com a boca
                              nos trêmulos

        leque da car-
        ne (cântico
        da brisa
        nos ombros)

                               botão
                               de ar-
                               rebatar
                               a pedra
                                          perdida

       por dentro

               no fulminante
                          tatear
               de calmas



       IMPÉRIO DAS RUÍNAS

                     
Para José Chagas

      
No encontro dos ventos
                              a morada dos mitos
                              se transforma em ondas

                                          prisioneiros dos templos
                   na cidade revista
                              de ruas acumuladas
                              o império das ruínas
       sopra quimeras seculares

                                          (pedra fundamental
                                                   do museu do abandono)
                    

 

*
Página ampliada e republicada em abril de 2022

        

Página publicada em maio de 2010; ampliada e republicada em março de 2013.

 

 

 

 

 

 
 
 
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