Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


 

Astier Basílio,

foto de Felipe Rizemberg

 

 

ASTIER BASILIO 

 

Pernambucano, reside em João Pessoa, PB. É jornalista, editor do suplemento cultural Augusto, do Jornal da Paraíba. Autor do livro "Antimercadoria" (2005)

 

 

impressão digital

 

 

após todos os fins

nasço:

 

nos escombros do muro,

das torres,

do mundo.

 

Eu,

rascunho permanente,

de um já escrito

epitáfio.

 

dois ponto um

 

não inventamos nosso futuro

que sem nome e longe

se ultrapassa

sem saber para onde.

 

Preferimos não ter perguntas,

nem erros, mas,

velhos de photoshop,

retocamos a morte,

o sonho, a sorte,

o never more

e o nosso retrato

é um extra

 

sem filme próprio

 

 

 

bar amarelinho, campina grande

 

onde não se aceita cartão, nem tem whisky.

Agüento o amigo (por dentro qualquer um é triste).

Sem importância que a cerveja esfrie,

éramos dois kafkas de R$ 1,99, de butique.

Nenhuma mulher nos esperava, nenhuma mulher livre

àquela hora em que contávamos cicatrizes.

A noite era de uma miséria simples.

Falávamos de eliot, nossa inútil estirpe,

num lugar onde este nome era invisível.

"Ninguém aqui lê eliot", entre risos disse,

"mas, eles se vingam de nós sendo felizes".

 

 

 

 

anteprojeto

 

carrego n'alma

um domingo com a filha que terei

a velhice na cama dividida

o horizonte concluído da janela

 

mas um escorpião tem medo de fogo

em meu sangue

dança e derruba sua peçonha de 4 patas

que me põe de pé quando sou homem

 

e eu sou mais veneno

que paisagem

 

 

 

 

lugar

 

onde o

desespero

escava um

nó exato.

Uma verdadeira

solidão

não seu relato,

o vazio mais intacto.

Descobrir um

caminho

e apagar os

rastros

 

 

 

geração zero

 

não se trata de preferir teclas ao lápis.

Ninguém usa mais sangue, história ou carne.

Pensar? Pensam no em-si-mesmo, mas em apud.

Um remake do arte-pela-arte.

 

Não se trata de ser gaveta ou site.

É o andaime como lugar sobre a paisagem,

o making of como filme, a maldição como charme.

É o novo centro: a margem. Deus negro, mulher e com aids.

 

É o fim do autor, o pós-nome, metalinguagem,

incapaz de ouvir ou de entender black-outs

 

 

 

2006, paris

 

diferente do sonho,

nunca se acaba um pesadelo.

Não temos bandeiras, nem empregos.

A exploração virou direito.

 

Queimam automóveis e modelos.

Mudam as palavras de ordem,

mantém-se o medo.

 

Fim da história? fim das utopias?

minha utopia sou eu mesmo

 

 

 

 

 

anos 00

 

Arquivo a ser salvo

o futuro.

 

vazio em zoom

tabuleiro arcaico à mostra

caixa de ecos nada por baixo

 

solo de cristal em vácuo

entre o asfalto e o escuro

sempre salto:

concerto para o erro

 

'stamos

um pouco acima do zero

 

 

BASÍLIO, AstierFunerais da fala.  João Pessoa: Editora Universitária, 2000.  42 p.  (Novos autores paraibanos) ISBN 83-237-0243-8.  13,5X21 cm.  “Obra vencedora do Prêmio Novos Autores Paraibanos  V Versão – 1999/2000 – categoria poesia, promovido pela Universidade Federal da Paraíba – Campos I – João Pessoa – PB”.  Col. A.M. (EA)

 

 

Soneto da fraude do tempo que tecias

 

Como os fios da falta... o mar é tanto
Quando rasgo o azul envolto em dias
Diluídos nas vagas mais vadias
Quando o sal do silêncio ensaia o pranto

 

Na memória do cais... No amianto
Das manhãs os meus raios tu cosias
E um sarau de sereias tão baldias
Recuava-me o mar num quase canto

 

incrustado no círculo onde me deixas
feito à raiva das rugas fugidias
Na miopia das águas... o teu rosto

 

Condenava o meu sul às mãos de seixas
Sob a fraude dos tempos que tecias
Para a composição de um sol deposto

 

 

 

 

BASILIO, AstierSearas do sol (cantoria de um tempo inacabado).  João Pessoa: Idéia, 2001.  93 p.  12x20 cm.   ISBN 85-7539-003-1  Ilustrações da capa: Aurilio Santos.  Col. A.M. (EA)

 

 

 

VIII

 

Nestas ásperas terras de águas raras
tenta o sol seus vitrais de elegia,
nuvens se esquartejam numa via
rasurada por árvores avaras;

 

entortados acenos. Espinharas,
encravaste em meu peito rude via
que à poeira das perdas pertencia
quando o sol semeava-se em searas

 

sob a túnica do azul. Transe ou trapézio
em que a seca sorria labaredas
sob o sangue pisado das veredas
que arrepia a distância feita em césio

 

Ah! Estradas que em lágrima desabem,
pois de mim suas pedras não mais sabem

 

 

 

BASILIO, Astier.  Antimercadoria.  João Pessoa: Dinamica, 2005.  120 p. (Coleção Tamarindo)  Projeto gráfico: Milton Nóbrega.  ISBN 978-85-89-17814-3   Col. A.M.

 

 

Mundo cão

 

que o mundo era um cão

e nos acuava

em olhos e dentes,

eu já sabia.

 

Mas, só a socos e solidões,

aprendi que sua fome nos escolhe,

seu bafo nos sufoca

sua marca nos premia.

Sua respiração tranca rumos.

 

É inevitável o combate

e entre a lona e o nocaute

somos sempre

algo de presa ou

carne.


 

O piano

 

notas

que só pertences

de teu corpo

em círculos, em mergulhos,

num azul de que nenhum mar

ultrapassa tuas nunca

palavras.

Tocas de libido,

manuscritos de uma

música

quando

a falta em riste,

como um fuga de Bach

ou como um címbalo

que retine.

 

 

II BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA – Poemário. Org. Menezes y Morais.  Brasília: Biblioteca Nacional de Brasília, 2011.  s.p.  Ex. único.

 

Cabe ressaltar: a II BIP – Bienal Internacional de Poesia era para ter sido celebrada para comemorar o cinquentenário de Brasília, mas Governo do Distrito Federal impediu a sua realização. Mas decidimos divulgar os textos pela internet.

 

 

BB King, 2010, via funchal 

 

 

 

Lucille é uma mulher e é mulher nenhuma.

Em qualquer dor uma guitarra existe. Urram

quando voz nem silêncio. O açúcar

vira pólvora; cicatrizes, música.

Foi remendada, Lucille, tua roupa de viúva.

O ventre, onde nossa finitude pluga-

se. Túmulo que adia a morte, a vulva

 

2

 

que em si, esta canção de nem ainda, dubla.

Meu epitáfio é o Mississípi em cujas

águas está brilhando lamacenta a lua.

Eu acordei de manhã, sou um final que perambula.

Eu acordei de manhã, que o sol se cumpra.

Não precisa repetir, nem é favor. Eu nunca

vou me esquecer de olhar meu rosto em sua tumba.

 

João Gilberto

 

 

fotógrafo do que falta. O que não vissem 

era sua bienal. Com o teu silêncio, o filme.

Negativo de paisagem, enquadra item

por item. A pedra se move, o jogo insiste.

Como alguém que, num quarto escuro, revise

a origem do zero. E esta origem

não reaja ao que é sal . Que não explique -

 

                   2

 

se em retrato falado. E quanto à efígie?

Que o desenho continue, infenso ao crime.

Em meu canto há martelos e matizes.

Como se na escuridão dançasse um míope.

De quanto suor eu preciso pra que ilumine-

se o sol do mesmo sobre o céu do simples?

Ou o fio do que é fim não desafine?

 

Romance em feitio de oração para Senhora dos Navegantes

 

Senhora dos Navegantes

por sobre vossa avenida

a procissão se derrama

cheia de som e camisas

brancas e flores e ofertas,

parece que a praia emigra

 

Senhora dos Navegantes,

dos mares de Manaira,

na multidão desta  data

neste final que não finda,

o mundo borrou os rostos,

como se a arcaica tinta

 

que contornos, que perfis

do que há identifica,

dançasse se desmanchando

nos vidros da minha vista

e somente um rosto houvesse

naquela bagunça acrílica

 

e sendo o centro da tela

com seu sorriso e sua íntima

expressão, sendo o motivo

que arte nenhuma explica

como se em todos os rostos

se repetisse o de Sylvia

 

E toda esta multidão

fosse esta mulher que, mítica,

com seu sorriso e seu jeito

em todas se multiplica

enquanto jasmins e joias

em júbilo de Janaína

eram jogadas nas águas

no embaçado que eu via

Senhora dos Navegantes

dos mares de Manaira

devolvei-me os tons, as cores,

ao chão da minha retina

para que, malgrado o muito,

eu novamente a distinga

dai-me os olhos de Odisseu

quando ele voltou pra Ítaca

que a túnica feita de insônias

a minha silhueta vista.

Mas mesmo desfeito o encanto

na procissão que em fila

 

em loa e louvor se rende

a quem do mar é Rainha,

as faces que variavam

com uma só confundiam-se

e o mundo, assim, se transforma

numa multidão de Sylvias.

 

 Antes que o sol derramasse

e subisse ao céu com suas línguas

ela estaria com os saltos

nas mãos e os pés sob a fina

fronteira entre areia e fábula

que o seu andar pronuncia

 

canções, paisagens, belezas,

vertigens, geometrias

Estrelas - botões, ou broches -

nas ondas grudam-se às fímbrias

e ela saltasse, as mãos

seu belo vestido esticam.

 

Os astros, silêncio e festa,

no espelho do mar carimbam

sua forma e movimentos,

nas águas em que ela pisa

e uma canção se acende

pra celebrar que ela exista.

 

Senhora dos Navegantes,

dos mares de Manaira,

deixai o rumor da festa

dançando em minha retina

e as letras do alfabeto

compondo um só nome: Sylvia.

 

ANTOLOGIA SONORA – Poesia Paraibana Contemporânea.  João Pessoa, PB: Edições OK Sebo Cultural, 2009.  Caixa, contendo
1 CD e 31 encartes (poetas e poemas).
       Ex. bibl. Antonio Miranda

                                                                                            

 

FAIXA 05

 

“Astier Basílio (1978), senhor pleno das formas tradicionais
 da cantoria nordestina, é, ao lado disso, poeta erudito, e
 um dos mais importantes de sua geração.”

 

 

Antemercadoria

carrego n´alma
um domingo com a filha que terei
a velhice, na cama dividida
o horizonte concluído da janela

mas um escorpião tem medo de fogo
em meu sangue
dança e derrama sua peçanha de 4 patas
que me põe de pé quando sou homem

E eu sou mais veneno
que paisagem.

Meu Perfil

biruta
o vento me
preenche
de direções.

Tudo o
que eu aponto
é vazio.


Curta para Inácio e Romano

Para Homero Fonseca

I

minha graça é Romano do mãe d´água
no meu Sangue naufraga a fidalguia
desta Lira de Sol que me consagra
galopando os Brasões da Poesia.

A memória de Homero me esculpia
um Castelo que é lar e que é Ágora.
O improviso da vida, a fantasia
já compunha os meus passos de estátua.

Mas Inácio já vem, com ele ataques
e o desejo da carta de alforria
manuscrito em estrela da atabaques.

A ciência é uma espada que me afia
na insônia movida a almanaques
e eu não temo a peleja que inicia.

II

O meu nome é Inácio e a catingueira
é o lugar onde habita a sombra rasa
que desenha os roteiros na ladeira
de minha vida, ó senhor dono da casa.

Meu repente rabisca-se em poeira,
as esquinas têm grades mas na prática
sonham aves em minha voz violeira,
o meu sangue é um mar buscando a África

o luar do pandeiro é meu calibre,
foi zumbi que me deu como presente,
mas Romano já vem, eu ouço o timbre

de sua pressa afogada no poente.
— Enquanto eu canto meu caminho é livre
esta peleja vai durar pra sempre.

           
(Poema extraídos do livro “Antimercadoria”)

*

VEJA e LEIA outros poetas da PARAÍBA em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/paraiba/paraiba.html

 

Página publicada em fevereiro de 2022

 

 

 

Voltar para a página da Paraíba Voltara para o topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar