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ANTÔNIO MARIANO
(1964- )
Nasceu em João Pessoa, Paraíba, no ano de 1964. Em 1984, venceu o I Concurso de Poesia do Sesc da Paraíba e publicou os primeiros poemas. É autor dos livros O gozo insólito (1991) e Te odeio com doçura (1995), ambos editados pela Scortecci. Entre 2000 e 2005, escreveu uma coluna no caderno de cultura do jomal A União (PB).
Publicou poemas em revistas e suplementos literários, tais como A Cigarra (SP), Blocos (RJ), Correio das Artes (PB), Et Cetera (PR), Livro da Tribo (SP) e Suplemento Literário de Minas Gerais (MG). Na Internet, a obra do autor pode ser encontrada em sites especializados em literatura, entre os quais Jornal de Poesia, Weblivros, Capítu e Zunái, além de sua página: www.antoniomariano.com
“Traz um pouco de cada olhar musical: tropicalismo, bossa, jazz, samba, frevo, capoeira. Eclético como a oscilação emocional de cada leitor. O idioma do escritor é “tátil às vezes,/ tática sempre”. Um olho porta faca e o outro depõe a arma. Antônio Mariano revela-se na extravagância e nas impurezas, no suor secreto das sobrancelhas, na investigação passional das falhas, desilusões e desacertos do cotidiano.” (...)
“As diferenças são as fraturas que propõe, os arranjos inusitados, as metonímias e os paralelismos criando um estrangulamento melódico reduplicando os sentidos. Em alguns momentos o poema é surreal (...)” FABRÍCIO CARPINEJAR
“Um autor em pleno domínio da arte poética, que sabe harmonizar forma e conteúdo, sem cair no reducionismo ou nos malabarismos de linguagem.” RONALDO CAGIANO
Parte do insólito e do enviesado, do sensual e do casual, do hermético para o lúcido, arquitetando visões pós-surrealistas do cotidiano. ANTONIO MIRANDA
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Construção de miragem
para Alfredo Bosi
Vi,
na outra margem do rio,
uma garça rindo
pra mim.
Em tempo, confirmo: menti.
Entrevi
o que sei dessa imagem esgarçada
no imaginário, rindo
de mim.
Inconfesso
Com o que não te digo
teço um enigma.
o que digo sempre
nega o evidente.
Como essa coragem
de me dizer teu fã;
e esse suave relâmpago
a visitar teu rosto.
E a visitar o meu, fosco.
Alquimia do ódio
A química de querer-te
sempre viva:
extrair pétalas,
moto-contínuo,
malmequer;
adicionar à fórmula
porções deste grito
(alheia dor que transcende
a essência dos mitos).
Pêndulo fixo
Nunca fiz dos olhos
ampulheta de mágoa
solidão, tristeza.
Agendei no pulso esse tempo
de cultivar a presença da amada
contando regá-la
numa punheta.
História universal
Nunca soubemos
amar em pleno vôo
como as andorinhas
que no auge do prazer
pairam e se absorvem
no antídoto dos instantes.
Então escolhemos
em vez do coito
(viveiro de constelações),
lágrima nos olhos
e um banquete de asas.
Condicionante ore rotundo
Que dizer à menina
que me pede versos
de encomenda
à fome obscena
de sentir-se viva?
Um poema pra ela
não me custa nada
a mim que sou honesto
e morro a cada dia
falto de amplexos.
Linhas que se fazem assim:
folha de alecrim,
os dentes da formiga,
ela passando a noite comigo.
Reflexão do alto de um 8º andar
Realmente certa
a promessa do infinito e
um salto
resgataria tudo
que o passado negou
e o futuro é sugestivo.
Caminho melhor
o das escadarias.
Se o homem as atenta
recompõe de certezas
uma um
os fiapos
de seu destino.
Dialética
Aquele homem
me aguarda na esquina
com uma faca
que irá repartir o pão.
Cortasse ele a esquina,
seria talvez padeiro
resgatando a poesia
que me escapa das mãos. |
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