ANTONIO JOAQUIM PEREIRA DA SILVA
(Pereira da Silva)
Antônio Joaquim Pereira da Silva nasceu na cidade de Araruana, na serra da Borborema, a 12 de novembro, de 1877, aos 14 anos foi levado ao Rio onde começou a estudar, então, nas aulas noturnas do Liceu de Artes e Ofícios. Em 1895 iniciou os seus estudos secundários na antiga Escola Militar da Praia Vermelha, donde é excluído dois anos depois. Começou a sua vida intelectual na imprensa do Rio, trabalhando na "Ci¬dade do Rio", "Gazeta de Notícias", "Época", "Pátria", "Jornal do Comércio", etc. Fêz, nessas folhas, a crítica literária da maioria dos companheiros de geração. Participou do movimento simbolista, com Carlos Dias Fernandes na revista "Rosa Cruz". Criou e dirigiu o mensário "O Mundo Literário". Em 1933 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na vaga do poeta Luiz Carlos.
Faleceu de um colapso cardíaco na Casa de Saúde da Gávea, em 11 de janeiro de 1944.
Publicou: "Vae Solis!” — Imprensa Paranaense — 1905; "Solitudes" — Editora Jacinto Ribeiro dos Santos — Rio 1918; "Beatitudes" —Livraria Leite Ribeiro — Rio — 1919; "Holocausto" — Livraria Leite Ribeiro — Rio — 1921; "O Pó das Sandálias" — Livraria Leite Ribeiro — Rio — 1922; "Senhora da Melancolia" — Lahure — Paris — 192t8; "Alta Noite" — Editora S.A. A Noite — Rio — 1950.
Inéditos: "Intranquilidade", "Meus Irmãos, os Poetas" e "Os Milagres de Cristo e os Homens de Deus".
PINTO, Luiz. Coletânea de poetas paraibanos. Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953. 155 p. 17 x 24 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
BEATITUDES
Bem vos compreendo a vós, que a vida inteira
Buscais vãmente essa Desconhecida,
Que dentro em vós seria uma roseira
Dando rosas de amor por toda a vida.
Bem vos compreendo a vós, almas veladas,
Que o mal do puro amor sofreis demais
E pressentis que as Vossas Bem-Amadas
São bem diversas do que imaginais...
Bem vos compreendo a vós, almas eleitas,
Que o demônio da análise tortura,
Obrigando a ver formas imperfeitas
Mesmo nos gestos da melhor criatura.
Bem que compreendo, poetas interiores,
Por que vos arrasteis por toda a parte.
Nunca encontrando, em vida, os amores
Ese outro amor do vosso sonho de Arte.
Bem vos compreendo, seres sensitivos,
Que interrompeis vosso caminho diante
Dos trechos, doces como lenitivos,
De um harmonium de cego mendicante.
Bem vos compreendo a vós, galés das doenças
Que a morte arguta segue par em par
— Coração como pêndulas suspensas
Que mão sinistra ameaça de parar.
Bem que compreendo, espíritos de asceta,
A contrição do vosso olhar profundo,
Quando a sombra da Noite se projeta
Como a sombra da Morte sobre o mundo.
Mãos órfãs, viúvas, virgens e mãos puras,
Bem vos compreendo, mãos instrumentais,
As angústias das trémulas ternuras
Dos instrumentos em que vós tocais.
Bem vos compreendo a vós, almas votadas
Às emoções e concepções extremas,
Que jamais conseguistes realizadas
Nos vossos dramas ou nos vossos poemas!
Bem vos compreendo, corações amigos,
Irmãos gêmeos nas mesmas desventuras,
Mágoas iguais, idênticos perigos,
Desilusões presentes e futuras!
ENVELHECENDO
Hoje, olhei-me no espelho. Que mudança
De desenho e feições a do meu rosto!
Que faces cavo, magro, descomposto
E diferente do que tinha em criança!
Como o tempo é minaz, a vida cansa
E ficamos no mundo a contragosto
Sentindo o próprio corpo mal disposto
E perdendo em nós mesmos a confiança!
Como nos punge, no declínio morno
Do nosso Dia, ver a vida em torno
Arder nas mesmas chamas imortais!
Que contingência a de ficar-se velho,
Pressentindo que um dia, à luz do espelho,
O nosso olhar não nos conhece mais!!
A DIVINA MISÉRIA
Ah! bem me lembro, Musa. Era menino
E já te via, tímida e risonha,
A me apontar (menino já se sonha!)
A Escada de Jacob do meu destino...
0 Amor, depois, (que força há que se oponha
A seu ditame trágico ou divino?)
Fez-me fazer, em pleno desatino,
Loucuras de um cadete de Gasconha...
E tu comigo sempre em toda a parte:
Na luta viva, nos instante da Arte,
Nas angusturas dos meus dramas reais...
SOLICITUDES
Senhor meu Deus, não move a minha pena
Vós o sabeis o impulso da vaidade,
Que neste mundo a glória é tão pequena
E eu não nasci para a imortalidade!
Mas não sei porque nada me dissuade
E, antes, tudo em meu sangue me condena
A dar forma, expressão, plasticidade,
A tudo aquilo quanto é dor terrena!
A meu tormento, chamo-lhe de poesia,
Arte de verso, chamo-lhe o madeiro,
A cruz da minha noite e do meu dia!
Cruz em que verto o sangue verdadeiro,
Em que minh'alma, em transes, agonia
E o coração se crucifica inteiro...
OS VENCIDOS
Sim ! eu conheço todos os Vencidos.
Passam por nós como despercebidos
De tudo que interessa ou que fascina.
São seres de alma em crise e corpo em ruína.
Sim! Eu conheço todos os Vencidos,
Seus ares humilhados e ofendidos
Dizem demais o que padecem sós.
Olham de um modo estranho para nós.
Página publicada em julho de 2019
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