ANGÉLICA LÚCIO
Nasceu em Patos, no Sertão paraibano, em 22 de abril de 1974, e está radicada em João Pessoa desde a década de 90. Além de poeta, é jornalista profissional. Recebeu menção honrosa no concurso de Poesia do Sesc João Pessoa, participou da Antologia Contemporânea da Poesia Paraibana, editada pelo O Sebo Cultural em 1995, obteve o segundo lugar no Festival Amapaense de Poesia, em 1998, e publicou, junto com os poetas André Ricardo Aguiar, Fausto Costa e Karina Grace e brochura “Quadrifólio’. Atualmente, organiza a publicação de seu primeiro livro de poemas.
“Angélica Lúcio trabalha com rigor e economia nas palavras. Há em seus poemas um tenso equilíbrio entre o elemento mineral, que serve de referência à maioria das imagens, e a inquietude de uma alma que oscila entre os apelos da carne e a salvação.”
Francisco José Gomes Correia (Chico Viana), Universidade Federal da Paraíba
Pétrea
Por vezes,
me sinto pedra
pele salgada
sob a língua vermelha
em esgares de náufrago
estátua translúcida
sumindo em saliva:
a eterna mulher de Lot.
Pérola
Minha dor é molusco
e se faz de ostra:
sempre me enclausura.
Brinca com hipocampos,
faz cócegas em Netuno
e me quer sua filha.
Talvez uma pérola.
Sacrossanta
Se sois santo
havereis
de me querer
todos os dias
- corpo e hóstia –
Aos teu pés
Imolando-me no altar
se santo não sois
por que havereis
de me querer
pura e pedra
e também sacrossanta
por que não esfinge
- pronta a te devorar?
Antífonas
Não sou fraca por obra de Deus
em mim, os seios pedem abrigo
as dobras do corpo, flagelação
por isso, valho-me de rezas,
terços e xaropes
e me desdobro em antífonas:
antes o gozo do que a morte
antes o cancro do que a salvação.
O gato
O olho do gato
tem outro gato
no espelho
tem outro pêlo
no fio
tem outra lida
no sê-lo
tem outra vida
no cio
tem outra luta
no relho
o olho do gato
não sabe da vida
um fio
não sabe da noite
um pêlo.
Tessituras
Se me esqueço
em novelo de dedos
não me fio em roca e fuso
de tessituras alheias.
Ainda que fique sem pão
colher de pau e jasmim
tapete de tez vermelha
ventilador e dentifrício,
Ainda que perca o elo,
não me fio
e me fecho em minotauro.
Filhos
Meu pai
pensava filhos
como se quisesse açude
pomar curral e galinhas
fazia filhos
como se pensasse
em sítio:
de sua carne.
Extraído de ANTOLOGIA SONORA – Poesia Paraibana Contemporânea. João Pessoa: Edições O Sebo Cultural, 2009. Produção executiva de Heriberto Coelho de Almeida. Contendo 9 CD com gravações de poemas nas vozes dos autores, e 31 encartes em caixa de madeira. ISBN 978-278-995423
Página publicada em novembro de 2009, a partir do material cedido pelo Editor.
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