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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



VICENTE SALLES

 

 

Tem 24 livros publicados e cerca de 50 micro-edições, além de ensaios em obras coletivas.

 

Um homem de muitas facetas: antropólogo de formação acadêmica, folclorista, historiador da cultura, musicólogo e a mais antiga faceta, poeta!   Marena Isdbski Salles 

 

“Nasci numa vila no interior do Pará: Caripi, a vila. Um lugar elevado, bastante chuvoso no inverno.  (...) Infância no interior do Estado, variando as paisagens, até os 14 anos. Aos treze anos vi uma esquisitice: um combóio de trem carregando os soldados que regressavam da guerra. Os soldados cantavam alegremente bonitas canções e diziam coisas tais que — “a cobra fumou”, etc. Achei a guerra um negócio bonito. O combóio foi-se embora, deixando os “heróis” do lugar. A cidadezinha ficou de novo tranqüila.

 

A primeira revelação pura da poesia veio através da música. Um violinista tuberculoso era nosso vizinho. E era o fascínio dos meus oito anos sem tardes fagueiras. Gostava de me pendurar na janela do insidioso artista, e ouvi-lo, enlevado. Sarazate era o idolo de José Maria — o violinista. Quando José Maria morreu, herdei o seu violino.

 

Taludo, minha família se mudou para Belém. Era a quadra dos estudos mais elevados: ginásio.  Inaugurei  a nova fase com uma bomba no Colégio Estadual. A época era difícil. Belém havia deixado de ser base aérea estrangeira; e percebi que se falava de guerra de um modo diferente do que eu imaginava antes. (...)

 

18 anos inadmissíveis. Conhecimento  do mundo. Subversão total na  poesia; evolução total na poesia; evolução nas idéias litero-sociais.  (...) Às vezes, porém, achava que a vida era um engodo; considerava-me equívoco da natureza — e meditava diante das águas barrentas da Guajará. Reminiscência  de Werther, lido na infância (quase diria tenra). Rio de Janeiro, 1955”

 

Poemas extraídos da segunda edição da obra (aparecida originalmente na revista “Letras Fluminenses”, Niterói, em 1955 e em versão completa em 1964).

 

 

 

SALLES, Vicente.  Livro de Marena.  Rio de Janeiro: Thesaurus Editora, 2008.  142 p.  Capa: Beto Paixão e Victor Alegria.  ISBN 978-85-7062-701-8  “ Vicente Salles “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

O MENINO MUDO

                   Belém, 14 fev. 1952

 

procurei a voz menino

que o rei dos grilos te arrebatou

naquele pingo dágua

que a noite toda pingou

 

debalde!

quando cheguei no bosque

muito cedo!

o sol não se levantou

quando cheguei na fonte

muito tarde!

o sol a fonte secou!

 

 

LUZ NA CALÇADA

                   Belém, 3 set. 1952

 

não há luz no teto do mundo

não há luz nos postes

não há luz no cérebro do homem

apenas na calçada

o jato da lanterna do guarda-noturna

 

 

LENDA AMAZÔNICA

                   Belém, 14 nov. 1953

 

o pescador jogou nágua o puçá

cheio de escamas e cheiro de peixe

 

quem escondeu a beleza do mundo

na praia do mar

na conchinha de nácar

puxada por dois cavalos marinhos?

 

o pescador jogou nágua o puçá

cheio de escamas e cheiro de peixe

 

rena remou

a montaria montou na onda

boliu nágua

o vento terral soprou forte

espalhando os seus cabelos

 

eras! esse arrepio

         que silêncio!

no calor da noite este frio

         nossa senhora!

a lua bubuia na água

espalhando estrelas sobre o rio

 

o pescador jogou nágua o puçá

 

 

CENAMENA

                  Belém, 13 mai 1954

 

o preto no branco

caximbando está

a água no barranco

cai cai sem parar

 

pingo dágua pinga

do teto furado

pinga que respinga

o preto calado

 

a chuva chovendo

telhado de renda

a cana moendo

babando a moenda

 

o preto no branco

caximbando está

deu um solavanco

parou de fumar

 

 

TEMA DE REDONDILHA MAIOR

                   Rio, 12 set. 1955

 

procurando conhecer-me

e interpretar pormenores

muitas vezes o contraste

foi equívoco e somente

 

do bonde a forma corria

no aço de trilhos e rodas

era flagrante da fuga

vontade de libertar-me

 

eu subia pelo estribo

na noite correndo enorme

parecia a sombra minha

não poder desintegrar-se

 

quanta idéia sem limite

quanta vida reprovada

meus olhos deterão sempre

no aço de trilhos e rodas!

 

 

XI CARTA

 

TODAS AS SOLUÇÕES E A FINALIDADE

 

Todas as perspectivas no momento

têm fundamento os velhos preconceitos

representando súmula e quociente

quando me arguo abandonado fico.

 

Provavelmente encontro transitório

tateando a única figura opaca

nebulosa sem véspera ou sinete

continuada no tempo irresoluto.

 

As vezes que te busco numa aurora

a face igual temperamento quedo

tens na distância a nitidez prevista.

 

E as pedras que recolho no trajeto

banhando os olhos e apoteose cuja

finalidade têm a gaze a forma.

 

 

XIV CARTA

 

            QUANDO UNS OLHOS ME FITARAM SEM PROMESSA

 

Perdidos olhos confrontando e espaço

foram iguais no tráfego de fuga

na circunstância de querer ou quase

perder-se num encontro sem promessa.

 

No bonde. Em Ipanema. Vago esforço

me perguntando incógnitas prolixas

propus compreensão ilimitada

e inadmissível forma e paradigma.

 

Mas era vaga sombra e a noite apenas

habituou-se a circunscrever enigmas

e gestos que perderam seus motivos.

 

Nem impressão marcada mudamente

nem desejo de ser real presença

para constância e permanência em suma.

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2008.

 



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