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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Fonte: www.culturapara.art.br/

VICENTE FRANZ CECIM


(Belém, 7 de Agosto de 1946) é um escritor brasileiro. A literatura de Vicente Franz Cecim é multifacetada como a sua origem. Marcada pela presença da natureza, nela vemos a Amazônia transfigurada na região metafísica de Andara. Sempre unindo extremos, o autor chama de livros visíveis os livros que escreve, mas os reúne na obra imaginária Viagem a Andara oO livro invisível, que não escreve e só existe na alusão de um título. Segundo Cecim, Andara é literatura fantasma[1]. E à medida que sua obra se faz e desfaz, ela contamina a própria noção de realidade, interrogando o que se oculta sob a aparência do mundo[2]. O escritor fez um apelo à insurreição da Amazônia em seu Manifesto Curau[3], lançado durante o Congresso da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, de 1983, realizado em Belém.

Fonte: wikipedia

 

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS    -    TEXTOS EN ESPAÑOL


 

         HOMENS E CINZAS

 

         homens e cinzas enveredaram cedo
         Deserto, passos de centeio negro
         Ali
         horizonte e noite e alimento. Uno

         As estações por onde passam

         A mais rítmica terra uiva longe Silêncio

         entre clarões
         E clamo

         Os trigais sagrados

         A relva das desordens

         Ex-voz interminavelmente sempre retorna um êxtase

 

 

 

MÚSICA E MUSGOS

I
Não é a água
que jorra fora de nós,
das fontes, cantantes

É

A Água

que corre do Vaso de Sombras por dentro: Rumor
da carne em seu leito

                            O Corpo,

um estado de musgo
Demanda da paz vegetal

O Corpo,

uma flauta de osso,
e aquilo é a voz dos perfumes

II

para abolir a tentação do grito,
um Animal murmura um homem escuro
para beber sem trégua uma Lágrima da estrela
chovendo sobre ti

E se ainda desabrocham a Fenda e a Senda, através da tua Lenda?
É que aqui por cima está o Tanto insuportável que a te grita: Vê sem agonia
Ainda por trás vem a Sombra
A que protege

uma
a

uma

as Ramagens gotejantes dos teus dias

III

Tenta saudar as manhãs nascentes
Se isso abrisse um olho de luz na tua pele mais ausente

E se
pisca efêmera
a tua gota perdida de sua gema gêmea,

é que um oceano oscila num sonho

os repousos que antecipam: os crepúsculos
as auroras sem poentes

e o ruído cintilante de tua sede

e a entretecida Forma que te tece: ó a Irmã Obscura, em Sua rede

 

 

 

DOAR

 

Doar, a Guenádi Aigui:

De que te vestes

e do que te despes/

Sonho: caminho no campo/

Daquele que antes passa

não verás

nem rastro

 

doar

 

o centeio negro à claridade das manhãs

o que sustenta um homem contra as tempestades

não sabe ao certo do que ele é feito e no que se desfaz

 

partes estão sempre desmoronando coisas estão sempre deixando

de ser no corredor de ossos O Clarão e mais um filho é devolvido à relva

 

O pavilhão de trevas

 

Quase nunca é preciso soprar as cinzas

dos olhos

ninguém vem retribuir à terra a água colhida na palma da mão

 

tu não avanças mais cantando

 

há a impossibilidade da semente

vir a se tornar uma floresta sem ressentimentos

 

tu não avanças mais cantando

 

sem notar a caridade dos dias

com o direito de ocultar todo horizonte com uma elevação de lágrimas

 

Mas se sabia,

desde os primeiros sinais, que não vieram, que os ventos varreriam a terra, cavando,

até expor aos nossos olhos

as esmeraldas deste funeral

 

as esmeraldas deste funeral

 

o centeio negro à claridade das manhãs

 

 

já foi doado,

e embora vozes se erguessem

não deixaste

 

 

O Doador de Sombras

 

esses clamores vagos clarões

 

Nem nuvem vã desceu até teus olhos os calcanhares

com que pisaste o canto

dos que se erguiam em bando

em defesa dos dias

 

e o leito de sombras foi armado

onde

do Alto semeamos ossos

 

As doações

 

o que sustenta um homem contra as tempestades

 

não sabe ao certo do que ele

é feito e no que se desfaz

 

Ah de quem foi este pé que se recusa a dar um passo ah

essas mãos trêmulas depostas aos nossos pés

 

Do Alto, semeando ossos

 

As doações

nós nos dizíamos

Eis o beber a seiva derramada

 

O Pontilhão Escuro está cantando ao vento:

 

um dia

a água do corpo correrá ao contrário, vindo ao teu encontro,

e tuas aves serão feitas de terra

 

Eis o beber a seiva derramada

 

ah de quem foi este pé que se recusa a dar um passo

 

Mas a criança há de nascer mais antiga

sob um sol de cinzas se desfazendo sobre nós

 

partes estão sempre desmoronando

 

somos, em nós, as doações recentes,

as recém-nascidas doações estão sonhando,

indo para o mais antigo Campo de Miragens nu

 

 

O

 

Doador de Véus

 

E o mais antigo desmorona

aos nossos pés

se se recusam a dar um passo antigo se

 

tudo passa, o lentamente,

em nós

 

coisas estão sempre deixando de ser

 

Se as Fontes imóveis de repente

cantassem em nós

ah, as cantantes caladas

oh se cantassem de repente

 

 

A verdade é que

o pé tateia o limo

a mão espera o líquen dos afagos

 

E tudo bem silenciosamente

 

Este desejo é longo quando passo

através da opaca cintilância

 

Ah, a Opaca cintilância

desses filhos mortos semeados pela relva

quando passo

 

no corredor de ossos

 

um olho ainda cintila

 

a Lã

que ama o fogo sem balir

 

O Clarão

 

o fogo-fátuo destas fontes

 

Eis o beber a Seiva, a seiva derramada

 

A água do corpo

não correrá ao contrário em nós

tremia

um mineral profundo

 

e mais um filho é devolvido

 

à relva

 

quando menos se esperava tanto espanto

 

A Voz

soluça entre gorjeios

 

Quem sabe a santidade ser

O osso leve

de

um filho devolvido à Relva

 

O pavilhão de trevas

 

está se abrindo

 

Dobrados diante dele joelhos

de fruta

 

Para colher a melhor flor

da estação, quantas sementes

esperando a Seiva lenta,

 

aguardando um pranto

 

Quase nunca é preciso

 

soprar as cinzas dos olhos

Quase nunca é preciso

lançar ossos no abismo

 

Estamos sempre dispostos a temer as manhãs

 

estamos sempre nas manhãs,

tremendo

 

ninguém vem retribuir à terra a água

 

Colhido na palma da mão tem um abismo

É essa a fonte do coração oco entre miragens

 

Tomo, de ti,

a tua mão na minha

 

Estas ruínas ficam bem

caladas quando passo

doar

 

o centeio negro à caridade das manhãs

 

Se doendo

 

sem dOr

 

partes se dando: Do Corpo do poema em si, ao fora de si, ao Que?m buscando Em sonhos, a Margem brandamente escurecida

 

sem o direito de ocultar a caridade dos dias

 

mas com direito a vislumbrar todo o horizonte velado, a Elevação de Lágrimas

Fonte do coração, do Oco

entre miragens

 

as esmeraldas neste funeral

 

As esmeraldas deste funeral

 

 

 

Página publicada em setembro de 2008, parcialmente retirada da revista LABORATÓRIO DE POÉTICAS 1, Diadema, SP, inverno 2007.

 

 

 

 

PARA ADORMECER AQUELE QUE VELA

 

Há montanhas em sonhos

tão antigas,

onde sonham

os grãos da areia que te sonha

O que sobrevive na hora

que apaga a última claridade?

De quem faz a Noite a vontade?

Dia ou homem,

uma túnica de rancor é o que eles vestem,

e as montanhas vêm rugir

Caladas

Se veio o Tempo,

é que é tempo de colher sob as estrelas

o centeio negro com mãos mais brancas, caiadas

 

 

A RELVA NEGRA DOS SONS

Quem nega este deserto é a ruína da mais antiga
residência, A Aniquilada

As esmeraldas deste funeral

Este trabalho é luminoso quando passo flagrado em crime
contra a terra,
em sonhos

Verão,
e à noite te virão os cantos, a relva
negra dos sons


em sonhos

nua, a tua planície entre aves

e o teu anoitecer de lã de homem ao mar

 

CENTEIO E LUZ 

Eis a colheita e em ti nem ave há, e lá a fruta, fêmea de cinza
Te deixam as árvores, a fibra e a residência E vens

À noite,
segue em círculos a vida e a colméia Abelha
e vítima, os vícios do mal

Espera e canto
As estações
Trigal azul os dias

e os homens bebem um mar indo à deriva e invisível
escura hora passa em ti, Lugar de Véus

Centeio e luz, então

Só amanhecem o grão e a solidão
E na manhã, o teu chamado mais selvagem
Te anunciam eclipse e alimento
e a voz incinerada
e a incinerada asa entre clarões

e o limo e o vento e a ilha das desordens, pois és a erva
real do verão

e dando adeus às sinas e à ruínas, uma vez mais está pronta a sem
a semente    

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

ANTOLOGÍA 5to. FESTIVAL MUNDIAL 2008. Homenaje a Gustavo Pereira.   África /
América / Ásia / Europa / Oceanía.  Caracas, Venezuela: Fundación Casa Nacional de
 las Letras Andrés Bello, 2009.  372 p.  ISBN 978-980-214-221-7   Ex. bibl. Antonio
Miranda 

 

 

 

EL CÉSPED NEGRO DE LOS SONIDOS

Quien niega este desier to es la ruína de la más antigua
residencia. La Aniquilada

Las esmeraldas de este funeral

Este trabajo es luminoso cuando sorprendido en flagrante crimen
contra la tierra
en sueños

Verano,
y a la noche te vendrán los cantos. El césped
negro de los sentidos

en sueños

desnuda, tu planície entre aves

y tu anochecer de lana de hombre al mar

 

HOMBRES Y CENIZAS

hombres y cenizas caminan temprano
Desierto, pasoss de centeno negro
Ahí
horizonte y noche y alimento Uno
Las estaciones por donde pasan

La más rítmica tierra aúlla lejos  Silencio
entre claridades
Y clamo
Los trigales sagrados
La hierba de los desordenes
Ex-voz interminablemente siempre regressa un éxtasis

 

CENTENO Y LUZ

He aqui la cosecha y en ti ni ave hay, y allá la fruta, hembra de ceniza
te dejan los árboles, la fibra y la residência Y vienes

 

De noche,
sigue en círculos la vida y la colmena Abeja
y víctimas, los vicios del mal

 

Espera y canto
Las estaciones
Trigal azul los días

 

Y los hombres beben un mar yendo a la deriva e invisible
oscura hora passa en ti, Lugar de velos

 

Centeno y luz, entonces



Solo amanecen el grano y la soledad
y en la mañana, tu llamado más salvaje

 

Te anuncian eclipse y alimento
y la voz incinerada
y la incinerada ala entre claridades

 

Y la lama y el viento y la isla de los desordenes pues es el césped
real del verano

 

Y despidiéndose de las suertes y de la ruinas, uma vez más está lista
la semilla.

 

PARA ADORMECER A AQUEL QUE VELA

Hay montañas em sueños
tan antiguas,
donde sueñan
los granos de la arena que te sueña
¿Qué sobrevive en la hora
que se apaga la última claridade?
¿De quién hace la Noche su deseo?
Día y hombre,
una túnica de rencor es lo que visten ellos,
y las montañas rugen
Calladas
Si veo el Tiempo,
es que es tiempo de coger bajo las estrellas
el negro centeno con manos más blancas, encaladas

 

Página ampliada e republicada em outubro de 2017 

 

 

 

 

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