SILVIO MEIRA
Sílvio Augusto de Bastos Meira (Belém do Pará, 14 de maio de 1919 - Londres, 31 de dezembro de 1995) foi um jurista e político brasileiro.
Professor catedrático de Direito Romano, foi membro do Conselho Federal de Cultura, do Conselho Estadual de Cultura, do Instituto dos Advogados Brasileiros do qual recebeu a medalha Teixeira de Freitas, foi deputado estadual, suplente de senador, e membro da Academia Paraense de Letras e da Academia Goiana de Letras (correspondente).
Filho do senador Augusto Meira e de Anésia de Bastos Meira, era neto paterno de Olinto José Meira, ilustre escritor, jurista e político paraibano, que foi presidente do Rio Grande do Norte e neto materno do Barão de Santarém. Foi autor de Augusto Teixeira de Freitas, o jurisconsulto do Império, da biografia de Clóvis Bevilácqua, de Direito Romano - História e Fontes, Mato Grande e Estudos Camonianos e Goethianos.
MEIRA, Silvio. Antologia poética: Novos e velhos cantos – Aurea Lira – Som das cores – Versões tedescas (dos originais alemães). Rio de Janeiro: Editora Gráfica Luna, Ltda, 1975. 136 p. ilus. 14x21 cm. ilus. p&b Capa: Messias. ( Silvio Augusto de Bastos Meira ) Foto do poeta do frontispício. Exemplar autografado. Col. A.M. Ao final do livro, inclui traduções de poemas de Heinrich Heine, Reiner Maria Rilke, Friedrich Nietzsche, Theodor Storm, Hugo von Hofmnnathal, Goethe e Conrad Ferdinand Meyer. Col. A.M.
BELÉM DO PARÁ
Belém, minha cidade, acolhedora e morna,
Frondes verdes quais mãos, em prece, que se enlaçam,
Seus galhos lembram braços longos que se abraçam,
Enquanto o sol sua luz ardente incende e entorna ...
Belém — bosque e Jardim — onde ainda perpassam
Sombras de heróis cabanos; bela que se adorna
Com as cores da paisagem agreste que a contorna,
Brancas nuvens no céu, em flocos, que esvoaçam ...
Velhas praças sombrias de sonhos revestidas,
São góticas .arcadas vegetais erguidas,
Rude templo em que ecoam brandas orações ...
Nas copas chora a chuva o choro da saudade,
Leva o vento a ternura quente da cidade
Para aquecer bem longe tantos corações ...
CÍRIO DE NAZARÉ
Santa de Nazaré, — eu deposito
A teus pés uma prece comovida,
— A Ti pertence toda a minha vida,
— Em Ti meus olhos súplices, eu fito.
Em vez de flores, Santa estremecida,
Lágrimas trago, humílimo, contrito,
Para implorar-Te agora, alma ferida,
Em lage fria me debruço, aflito.
As multidões há séculos Te adoram
Grandes, humildes, se ajoelham e oram,
Rosas desfolham pelos teus caminhos.
Se merecer-Te posso uma só graça,
Rogo-Te, Santa, enquanto o Círio passa:
— Paz e saúde para os meus filhinhos.
NOVOS E VELHOS CANTOS
POEMA VIII
Azuis,
sempre azuis,
os horizontes.
Na estrada
flores, sempre flores
vermelhas.
No céu
nuvens brancas,
sempre brancas.
Não olho para trás
para não chorar.
POEMA IX
Meu coração,
Velho porto,
Onde as águas agitadas do mar
Batem todas as horas...
Velho porto sombrio
Onde em noites vazias
Geme o vento frio...
Barcos ancorados,
Mastros partidos,
Sonhos perdidos
Na solidão.
POEMA XXIV
Vagam as vagas
Noite escura
De repente
Brilha a areia muito pura
Brilham estrelas na amplidão
De repente
Novamente
Lumem as vagas
Vagam as vagas
Lume o lume
Vagalumes ... vagalumes ... vagalumes ...
De repente
Vagamente, mansamente
Lumem estrelas na amplidão
Vagam estrelas na amplidão,
Lumem as vagas, lume a areia
Muito alva, muito pura
Vagam as vagas
Vagam os lumes
Somem estrelas na amplidão
Noite escura
Lumem as vagas
Vagalumes ... vagalumes ... vagalumes ...
SERÁ O ECO DOS MEUS PASSOS?
A minha vida é um caminho cheio de sombra e de luz,
Um caminho que piso com os pés apressados,
e que se estende em minha frente,
indefinidamente,
como um raio de luz que atravessasse a noite...
Lá, bem longe, como um farol guiando o navegante,
Vejo um brilho sem par que me deslumbra o olhar.
E a noite enche de sombras meu destino ...
Meus passos, que eram firmes e fortes,
tornaram-se nervosos
e ecoam agora pela solidão.
Que ruído será esse que me vem de longe?
Serão vozes que me acenam ou o eco de meus passos?
ALEGRIAS PASSADAS
Como são tristes as alegrias passadas.
quais cinzas nas mãos.
E as glórias passadas, como são sem brilho,
Quais flores murchas lançadas ao chão.
E os amores passados, como são sem vida.
deles só restam os sulcos imensos,
que o tempo não conseguiu consumir.
E as dores passadas que não sangram mais,
diluídas no tempo,
como são alegres as dores passadas,
que ficam gravadas no meu coração.
Só as dores não morrem,
só elas são eternas,
só elas renascem,
revivem no peito,
companheiras inseparáveis até o último alento,
quando se transformam em luz.
Como são tristes as alegrias passadas,
quais cinzas nas mãos.
Como são alegres as dores passadas,
gravadas no meu coração.
Página publicada em dezembro de 2013
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